Um
fósforo disse à vela “Prepare-se! Vou acendê-la com meu fogo.” A vela se assustou
e pediu que ele assim não fizesse. “Se você me acender eu vou queimar e será o
meu fim.” “Ora – replicou o fósforo – mas as velas são para ser acesas. Quer
permanecer fria e morta?” A vela respondeu que se fosse acesa não só se
acabaria como arderia também e que isso a assustava muito. O fósforo então
disse “Veja bem. O que vale mais a pena: uma existência longa, mas estagnada ou
uma vida que produz luz, que ilumina os outros e que traz calor? Você se
acabará de qualquer jeito. Se não for acesa demorará em acabar, decerto, mas
será uma vida sem valor. Você nasceu para ser acesa. Assim como eu nasci para
acender você. E quando você arder, o seu sofrimento e dor serão transformados
em luzes que espantarão a escuridão e lhe trará calor que deixará o frio longe.
Contudo, a decisão é sua.” A vela ao compreender o que o fósforo dizia abriu-se
em um sorriso e falou: “Me acenda. Estou preparada e com muito desejo de virar
luz.”
Essa
simples historieta nos mostra como podemos viver essa vida. Muitas pessoas
tentam tanto se proteger evitando viver, evitando reconhecer as emoções e lidar
com elas que ficam apagadas. Já ouvi gente dizer que prefere não se apaixonar por
alguém que desperta os melhores sentimentos porque teme perder o ser amado em
algum momento. É verdade que quem se abre á dimensão da paixão pode perder, dar
com a cara na parede, se decepcionar. A vida não tem garantias alguma. Abrir-se
a alguém gera medo sobre os desdobramentos que podem advir, mas ao mesmo tempo
oferece uma experiência única em significados.
Tem gente que teme dar um passo
maior em algum momento na vida e ficam estagnados, quando poderiam ir além.
Comprar uma casa, por exemplo, é algo grandioso, que requer planejamento e pés
na realidade. Não é algo que pode ser feito levianamente, mas chega uma hora
que quando a possibilidade se faz presente precisa que se dê um grande passo.
Afinal, não se atravessa de um lado para o outro de um penhasco com passinhos.
Se a pessoa já está preparada tem que ousar pular. Claro, tudo dentro dos
limites e da realidade. Haverá dúvidas, com certeza, mas se nada é ousado nada
também se vive.
Até mesmo no processo da análise é
assim que acontece. Quando um analisando procura análise tem medo do que vai
encontrar, com o que vai se deparar, medo de se queimar com o que pode
descobrir sobre si próprio. Porém, se ousar ir além, suportar os seus próprios
conteúdos e transforma-los em material para crescimento o analisando torna-se
quem realmente é. Desabrocha verdadeiramente para a vida.
Não se trata apenas de adquirir bens
ou de ter um relacionamento ou de fazer análise, mas de como vivemos, de como
nos “acendemos” na vida em todos os momentos. Em qualquer coisa que nos
colocamos podemos viver gerando luz com nossas vidas (e vamos nos gastar) ou
podemos ficar guardando sempre uma escuridão, sem cor e nem calor. Muita gente
fica tão defendida, tão “sem arder” nas emoções desta vida que ficam como
mortas. Estão tão apegadas a uma certa pseudo-segurança que não se permitem
produzir a luz que possuem dentro de si. São velas que jamais se acendem.
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