segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Observação de Grupos - Parte I


            Um dia desses fui à uma reunião de condomínio e foi uma excelente oportunidade para se observar um grupo funcionando. Numa reunião de condôminos imagina-se que seja um lugar e um momento para se pensar nas questões do edifício, a fim de melhorar suas condições. Porém, a realidade é outra. Nessas reuniões, muitas vezes, está mais em jogo as questões pessoais de cada um do que a objetividade de se pensar sobre o que se precisa.
            É incrível poder observar a dinâmica de um grupo funcionando. Bion, psicanalista inglês, falou da existência de dois tipos de funcionamento da dinâmica grupal: o grupo de trabalho e o de suposto-básico. O primeiro funciona com mais praticidade e objetivo. As pessoas não estão nesse grupo para atuarem, ou seja, agirem de forma irracional, mas com uma idéia bem definida de um trabalho que demanda ser feito. É um grupo que funciona bem e de forma organizada. Atinge seus objetivos e não traz nenhum mal estar. Já os grupos de suposto-básico têm uma dinâmica diferente. Apesar de aparentemente existir um objetivo ele fica perdido pelas questões inconscientes de cada membro do grupo e acabam se voltando mais para a desconstrução do que para a construção de algo bom coletivamente.
            Os grupos de suposto-básico são divididos em três: os de dependência, os de ataque-fuga e os de pareamento. O primeiro, como o próprio nome indica, funciona quando o grupo elege um líder carismático e fica em volta dele dependendo desse líder tal qual crianças. O líder, para esse grupo, ganha aura mágica e encarna poderes especiais projetados pelos membros do grupo e se torna alguém extremamente poderoso e inatacável. O resto dos membros se torna irresponsável por tomar quaisquer decisões e espera sempre pela decisão de seu líder.
            Muitos governos com líderes carismáticos funcionam dessa maneira. Isso é destrutivo pois convida as pessoas a adotarem uma posição infantil de dependência. Ninguém mais decide nada, mas entrega o poder como se não lhe dissesse respeito. O voto, nesse tipo de sociedade, perde completamente o real valor e só serve para dar tintas de uma sociedade democrática. As pessoas não exercem mais sua obrigação de serem ativas e ficam no aguardo de uma figura poderosa que tudo dará e fará por elas. Um grupo com tal funcionamento, seja um governo ou uma simples reunião de condôminos, não enfrenta as questões necessárias que se fazem pertinentes já que abdicaram de pensar verdadeiramente e perde-se facilmente numa alucinação coletiva empobrecedora.

A continuar 

Nenhum comentário:

Postar um comentário