sexta-feira, 29 de abril de 2016

Pergunta de Leitora - Encaixe



Sou muito tradicional. Não consigo aceitar algumas “modernidades” muito bem. Vejo que hoje em dia muito se tem discutido sobre os homossexuais. Eu acredito que eles sejam doentes e que necessitam de tratamento, pois não é natural alguém ficar com outro do mesmo sexo. Se analisarmos bem homem e mulher se encaixam perfeitamente biologicamente. Seja Deus ou a natureza que assim quis não importa mas o que importa é que isso é inegável. Quando dois homens ou duas mulheres ficam juntos não há encaixe. É um tipo de “gambiarra”, ou seja, um arranjo mal feito. Sinto muito dizer assim mas é como vejo as coisas e isso é a biologia quem diz. Como pode os psicólogos não verem isso?

            O sexo é tão complexo que relacioná-lo apenas à biologia é tal qual tapar o sol com a peneira. Não vai funcionar. Claro que o sexo tem a ver com a biologia também, mas a ultrapassa e depende de tantas variáveis que fica ingênuo até em falar em sexo já que este se tornou sexualidade.
            Se funcionássemos tão somente através da biologia, assim mesmo, a sexualidade seria algo complexo e múltiplo, porém contamos também com a mente e esta cria e alimenta fantasias e desejos sem os quais a sexualidade humana não existiria ou seria bem mais empobrecida. A sexualidade, aliás, tem a ver com a cultura de cada povo e com a forma com que a sociedade em dado momento se organiza, bem como com as características individuais de cada sujeito. Enfim, a sexualidade é um fenômeno biopsicossocial. Bom, já deu para ter um ideia que falar sobre sexualidade de forma simplista não dá.
            Homossexualidade é mais uma forma entre inúmeras outras de se relacionar, de viver e de amar. Você pode até não gostar e achar que se trata de algo “ilegal” como uma “gambiarra”, mas a maneira como cada um pode viver a sua vida e se realizar independe de você. E ao contrário do que você imagina você não pensa que a homossexualidade seja uma doença, você simplesmente a condena como tal. Provavelmente condena porque teme a complexidade e variedade do psiquismo, especialmente o seu próprio.
            Para sermos de fato humanos necessitamos aceitar o psiquismo e sua influência em nossas vidas. Do contrário corre-se o risco de se cair na onipotência e condenar ao invés de pensar. A força da nossa capacidade em criar é tão imensa que é capaz de inventar encaixes onde parecia não haver encaixe algum. A riqueza e força do humano está justamente na sua possibilidade de se reinventar e escrever a própria história. Em outras palavras, o humano só pode existir enquanto se realiza como ser biopsicossocial. 

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Educação e Contenção



            Hoje em dia não dá mais para contar os atos de pessoas sem a menor educação criando cenas grotescas a torto e a direito. Cada vez mais, pessoas com altos cargos e posições, estão sem a menor decência e acabam por virar um bando de crianças mal criadas, daquelas que ninguém suporta e quer receber em casa. Para pessoas assim, falta educação e esta implica uma mente capaz de contenção.
            Deputados elogiando a tortura e outros cuspindo. Atores cuspindo nos outros devido a divergências políticas e outros, nem tão famosos assim, provocando celebridades até um ponto de tensão insuportável. Nas redes sociais (nem se fala) sobra troca de farpas e xingamentos da pior espécie. O que é isso tudo? Falta de contenção.
            Na vida nem tudo se pode, no entanto essa máxima vem sendo esquecida e ignorada vergonhosamente. Sempre haverá pessoas a dizer besteiras por aí e sempre seremos provocados e convidados a perder a linha proferindo grosserias que só nos empobrecem. Contudo temos uma escolha e o que vai definir que escolhamos tal ou qual caminho é o nosso nível mental, ou melhor, a nossa capacidade de contenção.
            O problema é que muitos confundem contenção com repressão e como ninguém quer se sentir reprimido crê que tem que fazer tudo que tem vontade, sem nada conter e daí nascem essas cenas lamentáveis. Viver reprimido é uma violência onde alguém não pode se manifestar e ser si mesmo. Isso é doentio e acaba com a vida. Agora, acreditar que nada do que se sente precisa ser guardado também é doentio.
            Quando educamos crianças dizemos a elas que é preciso tolerância e que algumas coisas é melhor conter, principalmente nossa agressividade. Caso contrário viveríamos numa sociedade em que tudo é permitido, até mesmo a mais baixa e grave violência. Viver em sociedade requer aprender a ética da contenção. Infelizmente, faltam pessoas crescidas nesse mundo, capazes de se portar como gente, e sobram moleques desbocados. Devemos sempre avaliar qual a ética que usamos ao nos relacionarmos com nossos amigos, colegas, vizinhos e familiares. Será que nessa nossa ética existe contenção?

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Pergunta de Leitor- O Direito de Sonhar



Peguei minha mulher se masturbando no banho. Ela não sabia que eu estava lá, eu tinha chegado mais cedo em casa e ela não me esperava. Até pensei que ela estava se lavando mas ela gozou, com gemidos e tudo. Me senti traído. Eu mesmo me masturbo sem ela saber, mas nunca imaginei que ela fizesse isso. Falei para ela e ela negou aí eu disse que a tinha visto gozar e gemer e ela ficou com vergonha. Estou sem saber o  que fazer, como lidar com essa situação. Não é estranho uma mulher casada se masturbar?

            Fui ao dicionário (é sempre bom, de vez em quando) procurar a definição da palavra estranho. Um dos significados é aquilo que é estrangeiro, de fora. Saber que sua mulher se masturba lhe é totalmente estrangeiro, ou seja, algo que lhe é desconhecido e como tudo o que é desconhecido pode gerar muitos preconceitos.
            Qual será a sua ideia de uma mulher casada? Provavelmente a sua ideia tem a ver com fantasias e não com uma experiência real sobre uma mulher de fato. A mulher casada que existe na sua mente é uma fantasia porque não tem sexualidade própria e não existe sem o marido. Ela até pode ser sua esposa, mas continua tendo uma vida íntima particular.
            E ademais, por que um homem casado poderia se masturbar naturalmente e uma mulher casada não? Não são os dois humanos e adultos,  portadores de desejos sexuais? Ou será que seu medo tem a ver com as fantasias que sua mulher pudesse estar vivendo quando se masturbava? Talvez você não estivesse nelas, não é mesmo? A mulher tem o direito de sonhar com outras coisas fora o marido, assim como o homem tem esse mesmo direito que você considera tão natural aos homens.
           Você se sentiu traído, mas sua mulher estava com suas próprias fantasias e delas você não tem controle e nem precisa fazer drama. O cônjuge tem o direito de fantasiar o que quiser, até mesmo outros que não você. Desejar controlar a sexualidade de sua esposa, coloca-la na parede para que confirme ou não o que estava fazendo em sua intimidade é repressão. Assim, você só a afasta e a convida a não confiar em você. Afinal, como alguém poderá confiar se não há o direito de sonhar?

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Ler ou Saber Ler?



            Uma breve olhada em qualquer livraria ou lista de livros mais vendidos vai mostrar que no topo está a categoria de autoajuda. O que há de livros que prometem ensinar a felicidade e ficar bem com a vida, com o perdão do trocadilho, não está escrito. Seja mais rico, mais feliz, mais saudável e mesmo assim, com toda essa profusão de livros dedicados à construção do bem estar, as pessoas continuam sofrendo e vivendo como antes, sem nenhuma mudança. O número de pessoas que mudaram suas vidas com essas obras é pouco para não dizer quase nulo. Por que será que é assim?
            Querer estar bem é bem diferente de se dedicar a estar bem. Há pessoas que querem estar bem e pedem pela felicidade, mas o querer delas não é suficiente para as fazerem mudar coisas importantes na maneira que vivem. Querem ser felizes, mas com o mínimo de esforço. Desejam uma vida mais enriquecida, porém não toleram o trabalho que se faz necessário para assim ser. Querem levar, mas não querem pagar nada. Assim fica mesmo impossível que algo de bom possa vir a surgir.
            Muitas pessoas leem tais livros como se só isso bastasse e há pessoas que se enganam pensando que ao comprarem tal ou qual livro compraram a felicidade e que mais nada é preciso fazer. Quanta ignorância! Ler não significa nada e não é isso que vai fazer a vida se alterar para melhor. Mais importante do que ler é desenvolver uma mente que possa pensar sobre o que se lê.
            Quando lemos devemos sempre fazer uma auto avaliação do que aquela leitura nos desperta. A leitura assim como o alimento precisa ser digerida para que possa fazer parte de nós. Só que essa atitude exige trabalho e paciência para que as coisas que aprendemos nas leituras possam fazer sentido, serem entendidas e por fim serem cultivadas. O leitor jamais deve assumir uma posição passiva, mas deve estar ativo. Sem essa mudança na maneira que se lê de nada adiantará e continuará a ser alguém que se engana. A leitura seja de um livro de autoajuda, de um bom romance, de livros religiosos pode ser uma experiência das mais transformadoras, mas apenas à medida que exista a possibilidade de uma verdadeira digestão de sentidos. 

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Maternidade e Justiça



Por mais que todas digam que amam igual, sempre noto que as mães amam muito mais os seus meninos! Sou mulher entre 4 homens. Sempre fui dedicada, obediente, não fazia bagunça, diferente dos meus irmãos que sempre estavam brigando e se enfiando em encrencas. Nunca os vi apanharem da minha mãe, ela passava a mão na cabeça deles em tudo. Quanto a mim me batia muito, me colocava para fazer todos os trabalhos domésticos. Lembro quando ela fazia frango e separava os melhores pedaços para meus irmãos e meu pai. Eu e ela comíamos o que sobrava. Hoje meus irmãos são homens, se casaram mas continuam iguais, têm filhos fora do casamento, ficam em bar jogando e enchendo a cara, nenhum tem profissão. Tratam minha mãe com muita falta de respeito e as mulheres deles também. Sou a única que me formei, trabalho, continuo tratando ela com toda educação e respeito do mundo e em alguns conflitos ela me ataca dizendo que eu quero ser melhor que eles, que eu não gosto deles. Meu pai tentava ser carinhoso comigo mas ela não permitia e ficava muito nervosa quando ele me fazia um elogio, dizia que era para tratar todos por igual... Lembro que ele me comprou uma bicicleta cor de rosa e ela o fez trocar por uma preta com o argumento que assim todos poderiam andar. Mesmo amando minha mãe tenho essas mágoas e queria saber porque as mães preferem os filhos homens?

            Nem todas as mães preferem seus filhos homens ou faz distinção injusta em sua prole, mas assim como tudo na vida, há mães e mães. Infelizmente, você calhou de ter uma mãe que acredita que o valor está no gênero. Ao contrário do que muita gente pensa, mulheres também podem ser machistas.
            As atitudes de sua mãe, bem como sua visão de mundo, têm base na história de vida dela. Provavelmente, o que ela te faz é uma repetição do que foi feito a ela. Quando não elaboramos alguns nós que se formam em nossas vidas a tendência é repeti-los e assim essas questões vão passando de geração em geração. A “cultura” de uma família, de um povo, perpetua-se quando não há elaboração e fica-se fadado apenas a repetir o que já foi feito. Por isso creio que sua mãe foi tratada do mesmo jeito que ela te tratou e te trata.
            Entretanto, você se questiona sobre o por que disso e quer entender o que tudo isso significa. É capaz de pensar de forma diferente da que foi criada e por isso mesmo poderá quebrar esse circulo repetitivo. A questão que você coloca tem menos a ver com o por que as mães preferem os meninos e sim o por que sua mãe fez distinção entre vocês. A mágoa está aí.
            Uma resposta lógica você não vai encontrar, até porque não se trata de lógica, porém se trata de como se formaram as relações na história da sua família e como ficou entendido as diferenças entre os sexos. Agora, mesmo sabendo que a história da sua família é assim não implica que essa seja a sua história única, pois você ainda pode reescrever muitas coisas. Como diria Sartre, filósofo francês, o que importa na vida não é o que nos fizeram, mas o que vamos fazer com o que nos fizeram. Seu caminho é seu e só você poderá se tratar com a justiça que você merece e necessita.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Estupidez Discursando



            Encontrar alguém com quem dialogar é raro. Sempre foi assim porque são poucos os que são capazes de conversar. Entretanto, muito mais frequente é encontrar pessoas que falam e falam, mas se mostram incapazes de estabelecer uma conversa. Conversar requer mente, um mundo interno mais elaborado e de alguém que seja capaz de ouvir e falar apropriadamente. Já discursar não necessita o ouvir e nem pensar, o que faz com que qualquer um discurse.
            Nos tempos de hoje aqui no Brasil, onde a política tornou-se, negativamente, assunto diário, vemos com bastante clareza como falta interlocutores decentes. Contudo sobram fanáticos dotados de certa intelectualidade e cultura, mas estúpidos quando se refere a conversar e até mesmo a pensar em pontos de vistas diferentes dos seus. Fanatismo é doença que envenena a alma.
            Quando um indivíduo não sabe conversar ele troca o diálogo pelo discurso e acredita que trata-se da mesma coisa. Dialogar e discursar têm éticas diferentes, aliás, dialogar se baseia numa ética enquanto discursar tem base no convencer que sempre é agressivo no fim das contas. O discurso engana com palavras bonitas e aparentemente inteligentes, mas geralmente ocultam a estupidez e a perversão de sentidos.
            Políticos deveriam tomar cuidado com seus discursos, sejam eles de quais partidos forem, porque no discurso revelam sua estupidez e transformam em algo natural aquilo que é crime. É o que acontece hoje no país. Desde a presidência até os vereadores vemos gente discursando estupidez a torto e direito. Carecemos de políticos que consigam conversar, ou seja, ouvir e falar de verdade.
            Pior que os políticos, que comumente se engajam na política para alcançar seus objetivos perversos, são as pessoas consideradas cultas, mas que se perdem na idiotice. Incorrem na estupidez porque são incapazes de falar consigo próprias e se pudessem se ouvir teriam vergonha da cegueira que tanto cultuam e propagam. Não só na política, mas em geral faltam pessoas que consigam abandonar os discursos e aprendam a conversar. 

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Pergunta de Leitora - Vaidade, Inteligência e Estupidez



Sou aluna de psicologia e venho me deparando com coisas que me deixam pensativa. Tenho um supervisor que é altamente considerado. É pós-doutor, tem várias publicações até mesmo no estrangeiro e é venerado por muitos outros profissionais. Eu era uma dessas pessoas que estendia o tapete para ele passar. No começo ele é sempre um doce e parece que é bastante humilde, mas conforme o tempo foi passando fui percebendo que não era bem assim. Ele passa por cima de muita gente e julga todo mundo. Se acha bem mais inteligente que qualquer outra pessoa e faz escarnio de qualquer um que escreva ou diga algo diferente dele. Só ele tem razão. Me assusta ver que ele pisa nos outros e usa de sua posição de poder para se sobressair. Como pode alguém dedicado ao saber fazer tais coisas? Será que não se enxerga?

            Exatamente, ele não se enxerga e dificilmente se enxergará, pois para isso ele precisaria se desfazer da vaidade o que é muito difícil e para alguns, impossível. O que você não entende é que o ser humano pode ser contraditório. Uma pessoa inteligente pode ser completamente cega e surda e com isso se tornar estúpida. Inteligência e estupidez podem conviver juntas.
            Uma das coisas mais danosas que pode haver é a vaidade e esta se manifesta de variadas formas. Tem aqueles que se devotam inteiramente ao sucesso profissional, não porque se realizam de fato, mas porque o sucesso que atingem alimenta a ideia de que são melhores do que os outros. Há pessoas que se dedicam exclusivamente aos seus corpos e belezas como forma de se destacarem. Há também os que assumem uma vida falsamente espiritual como forma de se sentirem melhor que o resto. Outros desenvolvem um discurso politizado cheios de aparente razões, mas que se trata apenas de fanatismo. No mundo acadêmico a vaidade também ocorre.
            A vaidade intelectual faz com que o indivíduo se sinta superior aos outros como se fosse detentor de um saber que lhe confere grandiosidade e valor. Sobe num pedestal e dele vê e julga os demais. Sente-se acima de qualquer suspeita e de qualquer crítica. Para sustentar um modo de vida assim, tão onipotente e arrogante, necessita se cegar e ensurdecer para a realidade. O que conta para essas pessoas é apenas elas mesmas.
            Muitos procuram os títulos acadêmicos não devido a um sentimento de realização e sentido verdadeiro, porém porque isso lhes confere uma posição de destaque que é o que importa para eles. Eles usam de seus títulos como se empunhassem armas e não construção de saber. Infelizmente, pessoas assim são muito difíceis de mudar e enxergar outras perspectivas. Elas sentem que já sabem tudo, por que mudariam então? O que podemos fazer é observar essas pessoas e aprender como é vital colocar a nossa vaidade sob controle senão corremos o risco de ser assim e nos tornar ridículos.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Inveja Oculta e Letal



            A inveja é muito mais perigosa do que geralmente supomos e é altamente destrutiva. É destrutiva porque carrega agressividade sem filtro que facilmente se transforma em violência e seu perigo reside em que ela pode ficar oculta por justificativas que “aparentemente” fazem algum sentido. Nada pior do que um mal acobertado por uma falsa racionalização.
            Os ataques terroristas ocorridos na Bélgica e França ou em outros ataques mais antigos como nos Estados Unidos e outros tantos mundo afora possuem uma ligação com a inveja. Os ataques ocorridos em outros lugares mais precários e necessitados são frutos da violência pura e simples, de demonstração de poder, mas os que acontecem nos países mais ricos são devido à inveja.
            Com tristeza vi nas redes sociais comentários de pessoas se alegrando com os ataques feitos e justificaram essa alegria dizendo que no passado a Europa explorou muitos países e que agora estão pagando o preço. Com os ataques no território americano dão justificativa similar dizendo que eles têm mesmo que sofrer. É interessante perceber que a violência cometida nessas situações vieram com justificativas bem capengas, quando na verdade fecham-se os olhos para entender que a inveja é que está por detrás de todo esse mal.
            É inegável que mesmo com todos os problemas que os países da Europa enfrentam construíram uma sociedade muito boa, onde princípios humanos são, relativamente, respeitados e levados a sério. Não temos como negar que nesses lugares não haja uma possibilidade de vida melhor, mesmo que existam muitos pontos importantíssimos a ser melhorados e desenvolvidos. Falemos a verdade, não imaginamos algumas vezes morar em lugares assim?
            Pois bem, esses mesmo lugares que conquistaram coisas importantes são fontes de inveja para muitas outras pessoas. A inveja é uma emoção profunda e irracional que faz com que sentimos que os outros tenham coisas boas devido ao fato de terem apenas utilizados meios ilícitos e violentos e que precisam receber na mesma moeda. Claro que a Europa e Estados Unidos e muitos outros sapatearam encima de muitos povos, mas há como cobrar o preço agora? Se é assim fica justificado eu bater numa pessoa que encontro na rua porque um outro me fez um desaforo que me machucou. Que tal se vivêssemos assim? Alguém concorda, realmente?
            A inveja precisa de uma justificativa e qualquer uma, por mais estúpida que seja, vai servir. Na inveja não acreditamos que podemos construir algo bom e só temos olhos para a destruição. Nela ao invés de nos voltarmos para nós mesmos e vermos o que podemos fazer para melhorar nossa situação, desenvolvê-la e deixa-la mais favorável, ficamos com tanto ódio que o outro tem o que não temos, que só queremos destruir o objeto da inveja. Os ataques terroristas em Paris, Bruxelas e Nova Iorque passam por esse funcionamento. Mas sempre há pessoas com justificativas para dizer que tudo isso é legitimo e justificado por motivos sociais, religiosos ou econômicos. Porém, atacar assim é apenas inveja.
            O mesmo acontece com as pichações que vemos em inúmeras cidades Brasil afora e na minha cidade, Londrina. Suja-se e contamina-se o espaço do outro por haver inveja, por destruir aquilo que é bonito e sente-se não poder possuir. Aqui em Londrina um estabelecimento acabou de ter sua fachada pintada e bem arrumada e em uma semana foi inteiramente pichada. É ou não inveja? Todos têm direito à beleza e justiça, mas para isso vai ser necessário abandonar a inveja oculta e letal.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Pergunta de Leitor - Incêndio



Meu melhor amigo tem uma mulher que dá em cima de mim. Meu amigo nada percebe e o problema é que a mulher dele é muito bonita. Me imagino muito com ela e estou por um fio para sair logo com ela. Não queria fazer isso com meu amigo, mas me parece que ele não cuida da mulher como deveria. Ela me disse que ele não transa com ela o tanto que ela gostaria e que ela tem muito desejo por mim. Eu sou um fogo na cama e sei que posso satisfazê-la, mas se meu amigo descobre pode estragar a nossa amizade. Só que eu penso que também sou homem e que ele no meu lugar ia querer sair com ela. Fico em dúvida.

            Seu melhor amigo você diz e você? É o melhor amigo dele? Creio que não, pois o amigo verdadeiro não trai. A amizade prioriza antes de tudo mais o bem estar e o acordo. Você faz justamente o contrário, você prepara a guerra e a luta. Seu conceito de amizade é deturpado, ou seja, você mesmo se engana quando o chama de “meu melhor amigo”.
            E que mulher é essa? Que te coloca contra seu “amigo”? Ela também trai o marido e te convida a fazer a mesma coisa. O que você não sabe ainda é se cede ao pacto de traição com ela. Precisa pensar bem porque quem se senta em barril de pólvora tem enormes chances de não ter final feliz.
            Caso ceda e fique com a mulher do seu “amigo” estará sendo perverso, porque para o perverso a única coisa que conta, a única lei a que obedece é o próprio prazer. O perverso nega os limites já que limites trazem uma barreira a alguns tipos de prazer. Por isso o perverso ultrapassa os limites e quebra qualquer lei, seja ela qual for. Essa mulher é perversa, com certeza, pois busca prazer custe o que custar. Na vida é importante saber que nem tudo se pode.
            Quanto ao fato de você ser homem e ser difícil resistir aos encantos da mulher que te seduz, por favor, conta outra. A sua desculpa é esfarrapada e no mínimo simplória. Nem você mesmo, duvido, acredita nisso. Você gosta mais do seu “fogo” do que de estar com essa mulher em si. Se tem tanto “fogo” assim não será difícil para você ter várias outras mulheres, não? Mas a que quer é a do amigo, não porque goste dela e sinta sentimentos por ela, mas porque você teria que transgredir. A transgressão é que está te seduzindo e você precisa escolher se cede à perversão ou aprende de vez que para tudo há limites.