Tenho 25 anos e poucas experiências
sexuais. Sempre fui muito tímido e nunca consegui me aproximar das mulheres
como outros caras. Sempre me senti meio por baixo para dizer a verdade.
Acontece que agora estou namorando uma menina legal, mas ela já está falando em
casamento e eu não sei se quero me casar. Ela é mais jovem do que eu, tem 19 anos
e está decidida a se casar comigo. Fui o primeiro homem da vida dela e me sinto
responsável por ela apesar de nunca ter prometido casamento. Não quero machucar
ela mas não sei se caso. Capaz de casar já que ela foi uma das poucas mulheres
com quem tive mais confiança sexual. Nunca fui um bom conquistador. O que pode
me dizer?
Casamento é assunto sério e que demanda reflexão. Ninguém deve se casar apenas
por casar, mas porque chega a conclusão de que aquele relacionamento tem
significado e com isso se dá um passo maior. Se você não tem certeza do
casamento isto é um dado importante e que deve ser levado em consideração.
Pelo que você escreveu parece que você está quase aceitando o casamento não
porque a ama e quer ir além nesse relacionamento, mas porque não se acha seguro
o suficiente para conquistar outras mulheres. Sendo este o caso esse casamento
já tem um início ruim, pois não é a crença no amor que os une, mas a
conveniência. Já que não tem algo que deseja coloca outra coisa no lugar sem
pensar muito bem.
Namoro é uma época de conhecimento, um momento para se compreender bem o que se
quer com aquela pessoa. O namoro não tem obrigação de se transformar em
matrimônio, aliás é mais do que natural que o namoro termine em algum momento.
Alguns namoros servem como experiências, outros namoros podem, sim, evoluir
para o casamento, porém o casamento deve ser uma evolução no relacionamento e
jamais uma obrigação. Casamento por obrigação tem maiores chances de terminar
mau.
Provavelmente as mulheres te intimidam, você não se sente muito seguro em lidar
com elas. Ou fica muito inseguro em abordá-las ou fica inseguro em falar mais
honestamente com elas sobre o que pensa. Descobrir o motivo dessa ameaça que as
mulheres representam se faz importante para que você possa desenvolver um
relacionamento mais confiante e sincero. Não é partindo para qualquer ação que
parece que vai resolver o problema que vai te ajudar, mas pensando sobre o que
quer viver de verdade.
Sou apaixonada pelo meu primo. Tenho 19
anos e ele tem 25. Somos primos em segundo grau e queria mesmo ter um
relacionamento com ele. Minha mãe sabe disso e acha que é um absurdo. Ela é
totalmente contra. Meu primo nada sabe, acho eu, mas sempre dei muita bola para
ele. Isso é incesto, querer o próprio primo? Acho que não. Só quero viver feliz
com ele e não suporto ver ele com outra menina. Morro de ciúmes e quero ter ele
a qualquer preço. Ele ainda não sabe que eu amo ele demais e que vou ser melhor
que qualquer outra para ele. Como posso me abrir para ele e fazer ele entender
isso?
A questão em jogo
aqui está nas suas palavras de que “quer ele a qualquer preço”. O que significa
isso? Será que você já pensou nessa suas palavras? São fortes demais e só podem
vir de uma pessoa apaixonada. Há dois tipos de paixão. Aquela boa que nos
encanta e deixa o mundo colorido, mas também há a paixão que nos cega e deixa
tudo tenebroso.
No filme Atração Fatal, a atriz Glenn Close interpreta uma mulher
apaixonada que perde todo o senso de realidade e quer a todo custo o homem com
quem teve uma noite. Chega à loucura e não mede consequências. Acabou por se
tornar um perigo para ela mesma e para outras pessoas. Enfim, enlouqueceu de
paixão. Dessa paixão devemos ficar longe e jamais permitir que ela se instale.
A paixão louca tem a ver com o processo de idealização, que funciona como uma
hiper-valorização de uma dada ideia. A ideia do amor que você sente por ele é
tão irresistível e valorizada que lhe faz perder a capacidade de pensar, assim
você se torna cega mentalmente. Nesses casos todo preço parece válido, o que é
um tremendo engano. Para Freud a idealização servia como um mecanismo de
compensação para um sentimento de inferioridade, imaginário ou real.
Você mesma nem sabe se ele te deseja ou não e nem liga para o que ele pensa, já
que tem certeza de que você é a única pessoa certa para ele. Isso, certamente,
não é amor, pois quem ama sempre leva em consideração o outro. Você o
desconsidera como pessoa. Hoje você está apegada à imagem que tem dele. Está
apaixonada por uma ideia e não uma pessoa. Enquanto não abandonar a idealização
não poderá ver as coisas mais claramente e nem poderá entender o que é
possível.
Quero ser psicanalista. Sempre gostei
de tudo relacionado a mente. O problema é que sou pobre e não tenho dinheiro
para fazer uma análise. Sei que para ser psicanalista é preciso fazer análise,
mas como fazer não tendo dinheiro? Quem faz análise é rico e não tem nenhuma
preocupação financeira. Fazer análise é para rico e ser psicanalista também.
Isso tudo me deixa muito frustrada e um pouco desanimada com a vida. O que eu
quero não posso ter e o que tenho não me satisfaz. Sei que posso ser uma boa
psicanalista, não quero parecer orgulhosa, mas sei que tenho talento para isso,
mas não tenho condições. A psicanálise é muito elitista. Só a elite pode ter
acesso. O que posso então fazer?
O foco da sua atenção
está todo centrado na questão financeira e pouco voltado às suas condições.
Você fala como se ter dinheiro definisse tudo e mais nada estivesse em jogo. A
questão não se trata de ter dinheiro ou não, mas de você se permitir trilhar o
caminho.
Dinheiro e auto-valorização parecem ter se tornado sinônimos para você, o que é
prejudicial. Há pouca auto-valorização em você e atribui isso ao fato de não
possuir dinheiro. Há um ditado que diz Quem não tem cachorro caça com
gato, e se faz necessário você entender o que isso significa. É inegável
que dinheiro traz certos confortos, porém o que vai te possibilitar caminhar
não é o dinheiro, mas a sua disposição para caminhar.
Na sua frase “o que eu quero não posso ter e o que tenho não me
satisfaz” mostra o quanto você desconsidera a sua capacidade de poder
aproveitar o que tem. Se você não se permite se satisfazer com sua própria
mente fica mesmo difícil trilhar qualquer caminho que seja. Você mesma disse o
quanto sabe que pode ser uma boa psicanalista, então por que não utilizar isso
e trabalhar com o tempo para que as coisas aconteçam? Crie condições para se
tornar aquilo que acredita. Lamentar e se fazer de vítima não te ajudará nisso.
O que torna alguém psicanalista não é só o fato de fazer análise, mas quando se
usa a própria mente para se pensar a angústia. Não ter dinheiro lhe é sentido
como angústia. Em vez de se imobilizar por isso é preciso pensar sobre
isso e criar condições para que isso não continue a ser um problema. Hoje você
está identificada com a posição da vítima, sente pena de si mesma. Enquanto não
passar à posição de sujeito nada mudará. Assim que for possível poderá fazer
sua análise. Use o tempo a seu favor e não como seu inimigo.
Tenho 49 e estou separado há dois anos.
Conheci uma mulher de 33 anos e nos apaixonamos. Tenho medo de parecer ridículo
ao amar uma mulher tão mais jovem. Alguns dizem que isso é crise da meia idade.
Não quero que me confundam como pai dela ou que pensem que ela está comigo
apenas por interesse. Nos amamos mesmo, pelo menos é assim que sinto. Fico com
medo de viver esse amor publicamente. Meu primeiro casamento foi um terror, só
brigávamos e não existia nenhuma concordância entre nós. Eu sonhava uma coisa e
ela outra ou nem sonhava para dizer a verdade. Agora tenho uma chance de ser
feliz no amor, mas por quanto tempo? Nossa diferença de idade é de 16 anos,
logo fico velho e se ela não quiser mais nada comigo? Não sei também se não a
estou condenando a viver com um velho e que ela ainda não percebeu a gravidade
disso tudo. O que fazer?
Você sabe o que fazer, mas o que te impede é o medo. O medo pode ser algo bom
quando nos protege e quando nos preserva, porém quando ele nos imobiliza não
serve para nada. Quem tem medo e se entrega a ele sem nenhuma reflexão se
impede de viver experiências importantes. Há momentos em que o medo deve ser
superado.
Hoje você encontrou alguém para sonhar com você, mas tem medo de viver essa
experiência porque isso pode parecer ridículo. Ora, ridículo é nunca viver o
amor quando ele se apresenta. O bonde do amor está passando na sua frente e
cabe a você tomar uma decisão se o pega ou não. Não são todos que tem a sorte
desse bonde passar. Tem certeza de que pode deixá-lo partir sem embarcar?
No seu relacionamento anterior você viveu um experiência que te mostrou a
importância de se estar em concordância com a parceira, de se sonhar junto e de
se deixar tocar por um sentimento verdadeiro. Você não viveu isso no
relacionamento de antes, mas sente que pode viver agora. Se vocês dois
concordam com o que vivem quem é que pode contrariar o desejo de vocês? É
exatamente esse o ponto. Você vai se contrariar como viveu com a primeira
mulher ou vai se dar uma nova chance? Quem vive contrariado vive adoecido. Está
na hora de buscar a cura.
Quanto a você achar que sua amada não sabe no que está se metendo, bem, não
cabe a você decidir por ela, afinal ela já tem 33 anos, ou seja, não é mais uma
menina boba, mas uma mulher que pode tomar suas próprias decisões. Não confunda
amá-la com cuidar dos interesses dela. Deixe que ela tome o caminho que quiser.
Já a duração desse amor não há como prever e nem precisa dessa previsão. O amor
não é contado em tempo, até porque ele desconhece o tempo, pois quem ama
acredita na eternidade. Vinicius de Moraes entendia isso muito bem já que no
seu Soneto de Fidelidade escreveu: Eu posso me dizer do amor: que não
seja imortal, posto é chama, mas que seja infinito enquanto dure.
Sou seguidora do
pensamento oriental que acho bem mais evoluído. Se todos entendessem e
praticassem o budismo e o hinduísmo o mundo seria bem mais justo, porque
saberiam da existência do carma e que na próxima vida teriam que pagar pelo o
que fazem nessa. Quero sempre viver um bom carma para que numa próxima vida eu
tenha uma vida melhor. O carma é assunto sério e entendê-lo é a única via
possível para se estar bem na vida. Você não concorda? O que acha de se
estabelecer a sabedoria oriental nas escolas como disciplina obrigatória? As
crianças seriam educadas de forma bem melhor.
As pessoas são diferentes uma das outras e o que serve e encanta uma
determinada pessoa não necessariamente servirá e encantará outra. Por isso
mesmo os caminhos são vários e querer estabelecer apenas uma única via é
perigoso e empobrecedor. Assim começam as ditaduras e o pensamento dogmático. A
variedade é sempre a melhor opção.
O pensamento oriental é riquíssimo e quando pensado de forma não dogmática tem
muito a nos ensinar. No entanto, a sabedoria do oriente não pode ser visto como
remédio universal, aquele que dá fim em todos os males e que tem todas as
respostas. Acreditar que algo tem a cura mágica para tudo é ilusão e esta não
tem nada a ver com a realidade e só podemos viver a realidade.
Na parte oriental do mundo também há injustiças e cenas tristes. Não é um mar
de rosas como seria de se esperar. Ter uma sabedoria e por outro lado vivê-la
são coisas diferentes e em muitos casos a diferença entre as duas é um abismo.
Entretanto, o mundo não será um lugar melhor trocando uma coisa por outra, mas
apenas a medida que as pessoas puderem modificar seus pensamentos e viver de
forma mais amorosa. Só que isso não se dá através do dogma e também nem se dá
rapidamente.
Quanto ao conceito de karma ele é muito mal compreendido. Karma quer dizer
ação, ou seja, somos responsáveis por nossas ações nessa vida mesmo, dentro da
nossa realidade. Somos responsáveis sobre o que fazemos conosco e com os
outros, pois toda ação sempre causa uma reação. O conceito de karma leva a
importância de estarmos atentos ao que fazemos e não agir apenas por impulsos,
leva a que refinamos nossas ações. Na linguagem psicanalítica seria dito deixar
um estado de inconsciência para um de consciência. Em si não tem nada a ver com
outra vida, mas com o que fazemos nessa que é a nossa realidade em que de fato
vivemos. Quando um conceito encontra a realidade aí sim pode haver algo fértil
e verdadeiramente transformador. Conceitos sem realidade ficam apenas na teoria.
Sei que posso ser feliz, sinto isso. Só
não sei como. Tenho bons recursos tanto financeiros quanto internos para ser
feliz, mas de algum modo sinto que me desperdiço. Não sei por que e como isso
acontece. Só sei que é assim. Me zango muito facilmente com as coisas e com as
pessoas, você não faz ideia, mas sinto e sei que tenho um bom coração. Não sei
expressar todas as coisas boas que tenho, e isso me assusta muito, só sei que o
que acaba por aparecer é meu lado feio. Como mudar tudo isso? Como ser feliz de
fato?
A felicidade, ou seja, o bem estar psíquico pode estar ao alcance, mas o que
impede que seja alcançada são os obstáculos que muitas pessoas colocam em seu
caminho. Você expressou isso quando compreende que pode ser feliz e que tem
condições para tal, mas sente que algo em você impede isso de acontecer.
Nessas horas precisamos nos interiorizar, nos voltar para a nossa própria
história para entender como as coisas estão como estão. Quais são os obstáculos
que erguemos e com que finalidade? Resposta que só poderá ser encontrada quando
se ousa deixar o inconsciente falar. Sim, porque é o inconsciente que devemos
buscar para trazer luz sobre o que nos impede de estar bem. O que você quer é a
análise, é aprender a se escutar para se entender.
Você sabe que internamente há coisas boas, porém não consegue ter acesso a elas
ou pelo menos o acesso que possui é muito precário. Zangar-se facilmente e se
aborrecer é certamente uma baixa tolerância a frustração. Você quer evitar tudo
aquilo que lhe causa desprazer, quer se livrar do trabalho que é pensar sobre
as experiências de vida e transformá-las em algo proveitoso para a sua
evolução. Você quer crescer, mas sem ter muito trabalho. Deseja uma colheita
farta só que não quer mexer na terra.
Ao aprender a aumentar o nível de tolerância à frustração poderá refletir mais
sobre si mesma e terá mais condições de se expandir. Não ficará mais empacada
na posição da ignorância que é não poder utilizar seus recursos para o seu
crescimento. Você já assumiu que não sabe o que lhe acontece e isso é bastante
favorável, pois quem assume que não sabe abre espaço para a construção de um
saber. Procure ajuda para se ver livre e usar suas potencialidades de forma
mais sábia e proveitosa. A vida é preciosa demais para não sermos felizes e a
liberdade nunca vem gratuitamente, mas apenas como resultado de todo um
trabalho.
Tenho 25 anos, sou
bacharel em Ciências Contábeis e há 2 tornei-me policial militar, que era um
sonho antigo desde a infância. Fui criado pela minha mãe com dificuldades, pois
meu progenitor a abandonou grávida quando soube da minha existência. Tenho
sofrido muito, não sou feliz e não acredito mais em felicidade e família. Vivo
constantemente com crises de depressão que vão e voltam. Já tentei tratar, mas
o dinheiro não “aguentou”. Não tenho parentes, minha vida é extremamente
sozinha. Fui criado com formação cristã protestante e isso também dificultou as
coisas para mim, principalmente nos relacionamentos com mulheres. A propósito
acho que é isso que me angustia: nunca namorei, não conheço o amor, antes ainda
saia e “ficava” mas depois de certo tempo me vi preso aos estudos e trabalho
para sustentar a casa desde os 17 anos. Meu dinheirinho escorria pelas minhas
mãos para pagar as contas e eu sempre sozinho, pois afinal de contas que moça
vai querer um idiota que vive trabalhando e mora com a mãe. Para saciar
momentaneamente minha necessidade sexual procurava prostitutas e por fim também
travestis, sentia revolta, repúdio, nojo de mim mesmo quando terminava o ato.
No meu coração ainda bradava o sonho quase utópico de ter uma família normal.
Mas quando chegava em casa o choro descia sobre meu rosto. Não me considero um
homem de assunto, sinto vergonha, não tenho aquele papinho malandro pra
conquistar mulheres e isso me faz sofrer demais. Prendo criminosos armados,
corremos riscos de morte nas madrugadas perigosas da cidade, mas me acovardo
diante de um encontro, fico pensando que não vou ter assunto, sem falar que
também penso que eu não deveria ter nascido, penso recorrentemente em morrer,
me ajude.
O que mais chama atenção em seu email é a maneira como você se refere a si mesmo.
Está repleto de auto ódio e isto vem lhe sendo bastante prejudicial. Você se vê
com olhos muitos duros e se trata de forma muito cruel, o que mostra que
precisa aprender a ser mais generoso consigo. Falta-lhe amor próprio e sem este
nossa vida fica muito intolerável e nossas experiências ficam todas
contaminadas com o desânimo e a desesperança. Você nunca teve oportunidades de
aprender a se amar, apenas sabe como é se repudiar e com isso fica preso num
ciclo vicioso de auto ódio. Vai ser preciso quebrar esse padrão e construir
outro mais favorável.
No seu discurso sobre si as únicas coisas que você conhece são ruins e
negativas. Parece desconhecer características muito importantes e saudáveis
como a sua sensibilidade, inteligência, esforço e persistência. A sua vida,
como você mesmo sabe, teve muitas dificuldades e mesmo assim você se tornou
alguém com duas profissões! Acha que é pouca coisa? Sustenta a casa desde uma
idade precoce e é alguém que dá conta de muitas responsabilidades. Interessante
que isso você não reconhece, já que consegue olhar tão somente o que não te
favorece. Se conseguiu tantas coisas como resultado do trabalho duro foi devido
à sua força e empenho e isso demonstra que há em você algo muito bom e
precioso, uma pulsão de vida, que precisa ser cultivada e desenvolvida.
Você se apresenta como não sendo um homem de assunto e faz
pouco de si. Está identificado, provavelmente, com o passado onde seu pai
abandonou você e à sua mãe. Com ele não teve “assunto” e nem conversa; ele
nunca levou vocês dois a sério e é justamente o que você hoje faz consigo
mesmo. Você nunca aprendeu a se levar a sério de verdade. O passado,
entretanto, não há como mudar, mas o presente pode e deve ser transformado para
que lhe seja mais benéfico e justo. As dores pelas marcas passadas são
inevitáveis, porém o sofrimento no tempo presente pode ser opcional.
Quando você diz que o dinheiro não “aguenta” e escorre pelas suas mãos não é
apenas o dinheiro físico e concreto que você se refere, mas ao fato de que não
consegue manter um investimento afetivo consigo. Todos os auto investimentos se
perdem e fica apenas um auto olhar depreciativo. Agora, saiba que não é a sua
vida que precisa mudar, mas o discurso que você tem de si, ou seja, precisa
transformar a maneira que você se vê e se concebe. Uma psicoterapia lhe é
fundamental para que você escute o seu discurso, compreenda-se e passe a se
acolher e construir-se de uma nova maneira. Vai ser preciso se aguentar e não
deixar-se escorrer porque assim você só se perde e fica longe da pessoa que
realmente é. Está mais do que na hora de transformar esse nojo que você sente
de si por algum sentimento mais verdadeiro e justo.
Tenho uma prima que
tem a mesma idade que eu. Temos 22 anos. Ela é linda, parece uma verdadeira
modelo. Eu não sou bonita. Percebo que na família e em muitos outros lugares há
grande distinção na forma como somos tratadas. Ela sempre consegue as coisas
mais facilmente do que eu. Na fila para uma danceteria, por exemplo, ela
consegue entrar de graça. As pessoas dão convites para ela só porque ela é
bonita. Quando abre a boca é um desastre, é burra que nem uma porta, é minha
prima e eu gosto dela, mas é real que ela é idiota. Fico revoltada com essa
situação. Estudo, ela não faz nada, trabalho e para mim as coisas vem com muita
dificuldade e esforço. Para ela não. Me ressinto de não ser tão bonita e ganhar
mais olhares e reconhecimento. Parece que me esforço para nada. Como posso
superar isso?
A natureza não é mesmo justa. Alguns ela dota de enorme beleza, outros nem
tanto. Enfim, sobre a natureza podemos fazer muita pouca coisa ou quase nada.
Entretanto, o mais importante não são as cartas que você recebe no início do
jogo, mas o que vai fazer com as cartas que recebe. Saber disso faz toda a
diferença.
Em comparação com ela você se sente em desvantagem. É um fato que muitos dão à
beleza física um valor exagerado e você se sente menos por não poder contar com
a beleza que você gostaria de possuir. Um ditado antigo, até mesmo clichê, diz
que é preciso fazer do limão uma limonada e é justamente isso
que você precisa aprender a fazer.
Sua prima se baseia na beleza física que tem prazo de validade. Ela não poderá
contar sempre com seus atributos externos para conseguir as coisas, pois
chegará um tempo que sua beleza não mais encantará e se nada tiver sido
desenvolvido, ela possivelmente vai se encontrar em maus lençóis. Chega um
momento que a beleza física cansa e o que mais vale é o que a pessoa é, o que
construiu, quem se tornou. A beleza interna desconhece rugas e decadência e
quem a constrói nunca tem do que se arrepender no futuro.
Para superar o que sente em relação a sua prima precisa parar de se comparar a
ela e se sentir vítima. Dedique-se a sua construção se tornando uma pessoa
bela. Há vários tipos de beleza e a física é só uma delas. Se coloque
disponível para desenvolver sua vida, conhecendo suas potencialidades e
revelando o seu melhor. Quem se dedica verdadeiramente ao próprio crescimento
se torna possuidor de uma beleza rara e de valor inestimável. Bons jogadores
profissionais de cartas sabem que mesmo que não tenham a sorte de receber o
jogo inteiro na mão podem, com dedicação, formar um jogo imbatível e ganhar no
fim das contas. Use o que você tem e não se arrependerá.
Sou mestranda e adoro estudar. Sempre
quis fazer mestrado, doutorado e depois poder trabalhar como professora
universitária. Já estou quase no fim da minha dissertação, mas uma coisa que
muito me decepcionou foi a atitude do meu orientador. Ele é super bem
conceituado, com cursos até no exterior, só que ele é um homem grosseiro e sem
o menor respeito para com quem quer que seja. Ele humilha seus orientandos,
inclusive a mim, com atitudes horríveis. Só ele sabe, só ele pode e todo o
resto da humanidade é vista por ele como um nada insignificante. Ele tem prazer
em ridicularizar alunos e colegas. Não entendo como pode um homem tão bem
estudado como ele, com tantos títulos, pode ser tão cruel? Ele é abusivo e cada
vez mais o sinto como perigoso. Como se defender de pessoas assim?
Uma coisa é o intelecto, outra é o que a pessoa de fato é. Nem sempre só porque
uma pessoa tem um grande conhecimento e porta muitos títulos significa que ela
é uma pessoa compassiva e generosa. O conhecimento pode até, em muitos casos,
estar mascarando uma falta grave de caráter.
Há pessoas que se utilizam perversamente do conhecimento adquirido visando tão
somente ao poder e à vaidade. Possuir inúmeros títulos, ser bem conceituado
alimenta a vaidade e confere mais poder, fazendo assim com que uma pessoa se
acredite acima das outras, como se fosse especial. Quando o conhecimento está a
serviço da vaidade e da obtenção do poder ele fica desvirtuado e ganha cores
cruéis. Conhecimento sem humanidade só leva à uma vida distorcida.
Pessoas altamente vaidosas não conseguem ver o outro como pessoa. Tudo, desde
pessoas até conhecimento, é usado para alimentar sua falsa auto-estima e usa de
recursos perversos para se relacionar com o mundo. É uma pessoa não confiável e
com quem devemos estar atentos para não nos prejudicar, pois é um fato que
pessoas assim não teriam escrúpulos nenhum e nem são capazes de sentirem culpa
por seus atos.
Ainda bem que você consegue perceber esse lado nada bom de seu orientador.
Lidar com pessoas assim exige muita perspicácia e que você jamais caia nas
armadilhas dele. É difícil ter que conviver com alguém assim, alguém que tenta
ridicularizar e matar tudo que é humano. Para se defender é necessário que você
preserve a sua humanidade e que ela não seja contaminada pelas atitudes do seu
orientador. Não permita que sua inspiração pela vida a acadêmica e pelo prazer
que o estudar e ensinar te proporcionam seja sujado pelos desvios de caráter de
outro. Sempre tenha em mente que ele é assim, mas que você é diferente. Aprenda
com essa experiência a compreender que conhecimento sem caráter de nada vale.
Estou noiva de um homem muito bom.
Estamos vivendo juntos há cinco anos e antes de marcarmos casamento ele quis me
contar algo de sua vida anterior. Ele me disse que uma vez teve relação sexual
com outro homem. Isso já faz anos e aconteceu quando ele estava na faculdade.
Depois dessa vez nada mais aconteceu. Ele chegou a pensar que talvez fosse gay,
mas como nunca mais teve vontade de ficar com outro homem e nem desejava outro
corpo masculino ficou mais tranquilo em relação a sua heterossexualidade. No
entanto fico me perguntando se um homem que já se deitou com outro não é gay?
Se ele não fosse gay ele não se deitaria com outro, não é mesmo? Não sei o que
pensar.
A orientação sexual não é algo
tão bem definido quanto gostamos de imaginar. Ela permite várias zonas e possui
grande número de nuances de modo que é mais do que natural que exista
confusões. As pessoas temem as confusões e querem acreditar e fazer da
sexualidade algo muito bem delimitado para não existir nem sombra de dúvida. É
essa pseudo certeza que leva ao preconceito e à falta de compreensão gerando
muita confusão.
Não existe alguém cem por cento
heterossexual ou homossexual, mas existe orientações e nessas orientações há
vários graus de possibilidades. Em outras palavras, o terreno da sexualidade
permite variadas transições e qualquer tentativa de definição é ilusória bem
como perigosa. É claro que existem pessoas orientadas para a heterossexualidade
e outras para a homossexualidade, porém há também aqueles que já chegaram a
experimentar outras orientações sem contudo definir que será sempre assim.
É plenamente possível um homem
ou uma mulher viver uma relação de orientação homossexual para depois viver
outra heterossexual. Ou vice versa. Obviamente não posso afirmar qual o caso do
seu noivo, mas o fato de ter transado com outro homem não o faz, necessariamente,
homossexual. Compreender mais a nossa sexualidade permite não haver
preconceitos e não dá espaço para existência de alguns tabus infrutíferos.
Você convive há anos com seu
noivo e você pode conversar com ele sobre essas questões que te aflige. Se ele
se abriu a ponto de contar algo que para muitos soaria como comprometedor é
porque foi honesto e sincero e demonstrou confiança nesse relacionamento, não
se escondeu e nem mentiu e isso é algo a ser levado em consideração. Quem sabe
esse momento não seja uma ótima oportunidade para você quebrar alguns tabus
internos e conversar com ele sem pré-julgamentos? Nem tudo na vida é
preto no branco, há também varias cores para aqueles que se permitem enxergar.
Não acredito na vida. Imagino uma vida
que não é a minha, mas que é muito melhor. Gosto de me perder na minha mente e
nas coisas que ela cria e não suporto quando tenho que acordar. Não tenho nada
na vida que vale a pena. Leio muito a bíblia e tento tirar dela todas as lições
que preciso para viver bem, mesmo assim a minha imaginação é sempre mais forte.
Queria imaginar, imaginar e imaginar, mas não viver de verdade ou só queria
viver através da minha imaginação. Queria que minha história fosse épica como a
dos personagens bíblicos. Meus sentimentos são confusos, a vida me é confusa.
Quero, mas não quero. Desejo, mas não desejo. O que é viver afinal? Me apaixono
ou não? Caso ou não caso? Tenho um filho ou não tenho? Para mim tudo parece
muito confuso. Sou muito reflexiva e penso demais, mas acho que isso é até bom.
Você conhece a
estória de Onan do antigo testamento? Onan praticava o coito interrompido com
sua mulher para jamais fecundá-la e assim não produzir um herdeiro e manter
junto de si a herança. Deus ofendido tirou a sua vida. Algumas mentes limitadas
entendem essa estória como uma proibição da contracepção e condenação da
masturbação, porém o significado é mais sutil e tem a ver com o desperdício do
que temos de mais valioso.
É assim que você age consigo. É uma onanista, ou seja, desperdiça a si mesma
com coisas e pseudo-pensamentos que jamais te levarão a lugar algum. Você usa
sua imaginação não para crescer e evoluir, mas para se prender ainda mais. Acha
que está sendo inteligente ou filosófica levantando tantas questões, mas está
na verdade chovendo no molhado.
No antigo testamento Deus ofendeu-se com Onan por ele desperdiçar sua riqueza
em algo que jamais daria fruto e sua punição foi a perda da vida. É isso que te
acontece. Você cultiva uma mente que jamais cria algo e nisso perde a vida.
Isso só mudará no momento que fecundar a própria vida, mas isso requer coragem.
Você não quer usar sua mente para te permitir viver, mas quer guardá-la para si
apenas para alucinar. Desperdiçou aqui fazer uma pergunta real e quem sabe
aprender com o que eu pudesse te responder. Mas entendo também que essa é a
única maneira que você consegue se comunicar consigo e com os outros.
Insistir em viver a vida através da imaginação é o mesmo que querer dar nó em
fumaça. Não dá certo. Quando vivemos atrás dos muros das defesas não temos
tempo e nem disponibilidade para sair no campo e plantar. Por isso mesmo não
haverá frutos a colher, afinal alucinações não têm como produzir frutos
verdadeiros.
Algo muito triste me
aconteceu. Tenho 26 anos e terminei a faculdade há dois anos. Tinha uma amiga
que era super próxima de mim e eu dela e com o fim da faculdade prometemos
sempre manter contato e a amizade. Moramos quase 700 km de distância uma da
outra e fica difícil manter contato frequente. Só que eu percebi que ela está
mudada. Quando nos encontramos pela ultima vez há duas semanas parece que eu
não a reconheci. Parecia ser uma estranha para mim e até mesmo a conversa que
entre nós fluía naturalmente ficou meio que travada. As idéias dela também me
ficaram estranhas. Será que isso é natural, esse distanciamento? Fico assustada
com essas mudanças e não sei mais quem ela é. Me sinto perdida e sem chão.
Parece bobo fazer uma tempestade num copo d’água, mas ela era um ponto de
referencia para mim e agora ela se tornou uma estranha.
As pessoas estão em constante processo de mudança, ninguém fica igual. Mudanças
não são necessariamente ruins, mas o que acontece é que mudar traz incertezas,
pois o desconhecido sempre causa insegurança. Há uma tendência em nós para
ignorar as mudanças como forma de se resguardar do sentimento de insegurança e
de uma nova adaptação. Mudança exige adaptação, ou seja, trabalho mental.
O que te assustou e te deixou sem chão não foi a sua amiga em si, mas o
sentimento de insegurança que foi despertado em você. Provavelmente quando você
foi encontrá-la você tinha criado toda uma expectativa desse encontro,
expectativas baseadas naquilo que você já conhecia e sabia dela. Entretanto,
quando se deparou com a realidade de que o tempo passa e as mudanças ocorrem
suas expectativas foram frustradas e te deixaram insegura, pois o conhecido não
existia mais e exigia uma nova adaptação.
Porém, podemos pensar que não tenha sido só sua amiga que mudou. Você também
deve ter mudado, mas não percebeu. Ao fim de uma faculdade e ao começo de
uma vida nova muitas coisas mudam mesmo e é irreal pensar que nada mudará. A
questão, então, passa a ser você aprender a aceitar as mudanças, tanto as suas
quanto as dos outros. Quando acolher a ideia de que mudar pode ser natural não
ficará tão insegura perante o desconhecido.
Conforme o tempo passa e as mudanças ocorrem muitas amizades que antes tinham
todo um significado vão se apagando, outras se tornam ainda mais fortes. Isso
acontece e se trata de um processo natural que está além do nosso controle.
Alguns relacionamentos são para sempre, outros têm significado apenas no
passado. Não sei o que acontecerá com vocês duas, mas seja o que for viva de
coração aberto e acolha as experiências de vida para aprender e crescer.
Desejar que tudo seja imutável só traz infelicidade porque não está na dimensão
do possível e só podemos estar felizes quando lidamos com o possível.
Minha mãe está
doente e logo vai morrer. Meus filhos pequenos viveram muito com ela e a amam
imensamente. Já conversei com eles que a vovó está mal e que logo ela não mais
estará conosco. Eles não entendem bem isso, são pequenos, tem 8 e 5 anos. Eles
já sentem a falta dela. Não quero que meus filhos fiquem frustrados com a morte
dela e fiquem machucados. Alguns dizem que é melhor não deixá-los ir ao
velório, mas eles já disseram que querem ir. Minha mãe está na fase terminal de
um câncer severo, por isso sei que a morte dela é próxima e certa, mas não sei
que fazer em relação aos meus filhos e o velório. Será que é muito ruim eles
irem? Meus irmãos são contra, mas quando perguntei para minha mãe, e eu
converso até sobre isso com ela, ela me disse para eu seguir o que tenho
vontade, mas que ela acredita que não há mal nenhum e só quer o nosso bem. O
que fazer? Por favor escolha meu e-mail para responder.
Que bom que tenha uma mãe sábia que lhe permita espaço para você tomar as suas
decisões sem nenhuma imposição. É maravilhoso que você consiga conversar com
ela sobre tantos assuntos, até mesmo os mais dolorosos. Nem sempre assuntos que
trazem dor são vivenciados, mas são negados como se não falar deles
significasse que eles não existissem. A morte é mais uma coisa da vida,
inevitável e incontrolável. Fugir de falar sobre ela, quando necessário, não é
bom e só torna tudo pior.
Assim como não devemos evitar o assunto da morte, mesmo daqueles que nos são
queridos, as crianças também têm o direito de vivenciar algo tão natural quanto
complexo. Velório e falar sobre a morte jamais devem ser impostos às crianças,
mas quando elas manifestam interesse e curiosidade elas devem ser acolhidas.
Seus filhos viveram com sua mãe, amam-na como você bem o disse, então por que
privá-los de viver todo o processo?
Esconder algo tão importante assim de uma criança que quer saber o que está se
passando com quem ama é dificultar o entendimento da vida. Perdas fazem parte
da vida de qualquer um, inclusive das crianças e quanto mais a perda puder ser
sentida como algo natural à vida, mais compreensão poderá advir. Frustrações
são elementos da vida e se nos propusermos a resguardar fortemente as crianças
das frustrações inevitáveis estaremos fazendo mal ao seu desenvolvimento.
Há a idéia de que uma criança não tem como acolher o conceito de morte, mas
isso é uma falsidade. Se seus filhos querem viver esse processo de despedida da
avó é o direito deles. Você pode acolhê-los nesse momento e estar com eles. A
dor é de todos vocês e se vocês puderem se apoiar estarão promovendo o amor e a
compreensão. Por que separar quando vocês podem viver algo que certamente é
importante e que pertence a vocês? A vida vivida junto, até mesmo nos momentos
difíceis, é sempre mais rica.
Me chamam de machista e pode ser que eu
seja mesmo. Sou mulherengo e não quero assumir relacionamento algum. Só quero
sexo e nada mais. Com algumas fico algumas vezes mas depois quero sempre uma
nova conquista, um novo desafio. Muitas mulheres até tentam ter algo sério
comigo mas não abro brecha e pulo fora. E a questão que aqui escrevo é por que
sou assim? Todos, uma hora ou outra, querem um relacionamento, sossegar, mas eu
não. Eu fujo.
Você foge, você diz, mas talvez esteja também se perguntando se não poderia ser
diferente. Está se indagando e se mostrando intrigado com a forma que vive
provavelmente porque, hoje, se pergunta o que lhe acontece e porque é assim
como é. Em outras palavras, seguir vivendo se repetindo não mais está sendo tão
satisfatório assim.
Quando há fuga é porque primeiro houve o medo que levou à atitude de fugir.
Portanto, não é surpreendente pensar que você foge porque teme e possivelmente
teme o relacionamento com as mulheres. Elas parecem representar uma ameaça e
você resolve esta ameaça apenas ficando, mas sem se envolver. Mostra que trata
as mulheres como objeto, como uma maneira de ter controle sobre elas. Assim
assegura-se de ter a sensação de que é você que manda e representa uma ameaça
para elas. Essa solução, desastrada, foi a que encontrou para lidar com suas
angústias.
Agora, vem percebendo que há algo aí. Algo que ainda não pôde ser devidamente
compreendido e menos ainda solucionado. Isso ocorre porque a solução criada era
a repetição e ninguém tem como estar bem se repetindo infinitamente. Você age
como um personagem que está impedido de abandonar o palco e viver a própria
vida de maneira livre. Tem que repetir suas falas e suas atitudes. Está escravo
do próprio inconsciente.
Para por um fim ao impulso que te leva a se repetir precisa encontrar respostas
que te levarão a um entendimento do por que tem tanto medo assim da mulher e do
envolvimento. Qual o sentido que você deu para tudo isso? O seu inconsciente
pede por decifração e por isso não perca tempo. Busque ajuda para aprender a se
escutar e a se decifrar para que assim você possa abandonar o personagem que
você criou e ser você mesmo.
Quando vejo o noticiário fico
horrorizada. É tanta coisa ruim acontecendo que não dá nem para falar. Tenho
uma filha de 13 anos e fico com muito medo do futuro dela. As meninas hoje em
dia começam a vida sexual cada vez mais cedo. Tenho medo disso. Não quero que
isso se repita com minha filha e quero proteger ela de qualquer erro que venha
a se arrepender. Não deixo ela ver nada que tenha sexo na TV e na internet,
pois fico sempre em cima dela. Quero que a sexualidade seja algo normal para
ela e não forçado. Minha irmã diz que eu exagero, o que acha? Ando muito
preocupada.
O que mais me chamou
atenção em seu email foi a sua frase “não quero que isso se repita com ela”.
Repetir significa que isso já aconteceu antes. De quem você está falando? De
uma experiência sua ou falou de forma geral? Sua intensa preocupação deixa tudo
confuso e sem saber de quem o do que está se referindo e isso, provavelmente,
deve confundir a sua filha também.
Consigo entender a sua preocupação com o futuro de sua filha, mas o que fica
difícil compreender é o excesso de preocupação que se transformou em medo e até
certeza de que algo muito ruim está por vir. Preocupações permeiam toda mãe,
mas essa quase certeza de algo ruim e essa tentativa de controle sobre o que
sua filha vai viver parece muito mais coisa da sua fantasia, ou seja, está mais
na sua mente do que na realidade.
Você
não vai conseguir proteger sua filha controlando obssessivamente o que ela vê
ou deixa de ver. Isso, aliás, pode até piorar a situação, pois é um fato que
nos sentimos atraídos por conhecer aquilo que é tão proibido e criticado. Você
pode protegê-la até um certo ponto, depois disso se torna impossível, já que o
mundo é grande demais e sua filha nem sempre ficará sob o seu controle. A
melhor proteção que os pais podem dar aos filhos é a educação, é prepará-los
para o mundo que enfrentarão. Dar educação a sua filha e sempre conversar com
ela sobre a vida está dentro das suas possibilidades
Não temos meios de
controlar como tudo vai ser e aceitar isso pode nos trazer paz. O mundo parece
ser assustador demais para você e você está tentando, de todas as maneiras,
passar esse medo para a sua filha como se isso fosse preservá-la da vida. Isso
é um mau negócio pois apresenta para ela que o melhor recurso para se viver a
vida é o medo e não a preparação. Você vai precisar aprender a lidar com suas
angústias de forma mais eficiente e confiar que sua filha será esperta o
suficiente para enfrentar o que tiver que ser enfrentado. Mais do que isso é
prepará-la para o medo e não para a vida.
Tenho 32 anos e
sempre trabalhei na minha vida. Sempre tive bons empregos e ganhei bem. Sou
casado e agora perdi meu emprego. Nunca me senti tão mal em toda a minha vida,
verdadeiramente impotente. Minha mulher me dá apoio, mas tem hora que fica
brava e me sinto tão mal. Ela diz que nunca fiquei assim, nem mesmo quando
quase nos separamos. Ela diz que eu valorizo mais o trabalho do que ela. A
verdade é que não me sinto com valor agora e não sei bem o que fazer. Estou
procurando emprego, mas perdi muito da minha coragem de antes. Acho que estou
ficando deprimido e eu achei que essas coisas era tudo frescura e que não
existia. O que posso fazer?
Depressão é coisa séria e exige muita atenção. O estado depressivo contamina a
mente que passa a ver a vida e a lidar com esta de uma forma muito negativa. O
mundo fica sem cor e a pessoa sem esperanças. Depressão é um ódio à realidade.
Ficar assim não é mais viver, mas é uma sobrevivência muito empobrecida e
perceber que pode entrar numa depressão é bom, pois permite mudar a rota e
procurar por outros caminhos mais favoráveis.
Perder o emprego é para os homens uma das maiores e mais influentes causas de
depressão. Isso ocorre porque os homens se identificam muito com o trabalho e
quando ele vai bem se sentem potentes e valorizados, mas se vai mal a
autoestima vai para o brejo. Não que o mesmo não aconteça com as mulheres, mas
elas, sabiamente, sabem separar com bem melhor distinção o seu valor e o do
trabalho. A educação sentimental, nesse sentido, é bem melhor para as mulheres,
pois os homens são geralmente educados para serem apenas força, bem como jamais
mostrarem nenhum sinal que pode ser interpretado como fraqueza e
vulnerabilidade.
Com tanta pressão assim para ser o super homem não é a toa que os homens vivem
uma pressão que não sabem como lidar. Alguns se deprimem, outros bebem, outros
se tornam agressivos e arredios, mas são todas formas ineficientes de se lidar
com os problemas. Que tal se em vez de se auto desvalorizar você usar este
momento para repensar a sua vida? Buscar não só um novo emprego, mas também uma
nova maneira de se ver? Faça dessa experiência uma coisa boa, porém para isso vai
ser exigido muito trabalho interno.
O melhor que tem a fazer é procurar por alguém que te ajude a pensar sobre
essas experiências. Você reconhece que vem enfrentando um problema e isso é
bastante positivo. A pior coisa é alguém negar que precisa de ajuda. Necessita
agora dar um passo além e aprender mais sobre si mesmo. A verdadeira
impotência, e essa sim devemos nos livrar, é quando não buscamos nos ajudar. Um
homem potente é aquele que leva os inevitáveis tombos da vida, mas que procura
sempre se levantar, ou seja, que enfrenta até mesmo o fantasma da impotência
para se sair mais fortalecido.
Tenho 29 anos e tenho um irmão de 26
anos. Moramos todos com nossos pais. Meu pai é ausente. Sempre está fora e
quando está em casa nunca fala nada, nada diz e parece que nem é uma pessoa,
mas um robô. Meu irmão tem sérios problemas. Ele nunca namorou ninguém e nunca
sai de casa. Fica só com minha mãe. Eles parecem viver um relacionamento só
deles e são muito fechados. Minha mãe vai ao supermercado, à feira, à igreja,
aos médicos e em todos os lugares com meu irmão. Ele não faz mais nada além de
estar sempre presente para minha mãe. Já convidei ele várias vezes para sairmos
e até para paquerarmos as garotas mas nada. Acho que ele é gay. Apesar de não
desejar isso para ele, enfim, continua sendo meu irmão, mas o problema é ele
continuar só com minha mãe. Eles assistem filmes juntos, vão a restaurantes só
eles. Não sei mais o que fazer pra ajudar meu irmão. Minha mãe fala que é
ciúmes de minha parte mas não acho isso. Será que meu irmão pode virar gay por
causa disso? Será que eu posso fazer alguma coisa? Tomara que você responda meu
email porque não sei mais o que fazer.
Entendo sua preocupação com seu irmão, pois você percebe que algo não vai bem
no desenvolvimento dele e que a relação que ele e sua mãe vivem tem caráter
muito limitante para ambos. Entendo também você querer ajudá-lo, no entanto a
briga vai ser feia já que seu irmão se encontra numa posição muito cômoda.
Posição cômoda não quer dizer que seja boa, mas esta posição é muito atraente e
por isso mesmo você nunca o convencerá de nada. É ele mesmo que tem que se
mexer para mudar de posição
É claro que pode ser que ele seja gay, apesar de não sabermos. Uma pessoa pode
acabar tendo orientação homossexual por várias razões. Uma delas é uma mãe tão
sedutora, que ama demais o filho e não permite que ele saia para a vida. A mãe,
nesses casos, ama o filho de forma tão intensa que o filho fica tão seduzido
pelo prazer desse amor que não se sente propelido a procurar outros
relacionamentos. O seu desenvolvimento fica imobilizado e ele fica com o
emocional de um menino e jamais um homem. Afinal é o menino que quer a mãe só
para si enquanto o homem arruma uma mulher para si.
Como o filho tem seus caprichos atendidos e fica encantado com toda atenção que
recebe da mãe, acaba por ficar acomodado e enredado nessa teia. Agora, veja bem,
isso não ocorre conscientemente, mas inconscientemente, ou seja, sua mãe e
irmão vivem isso sem perceber. Como você mesmo reconhece seu pai é um homem
mais robótico do que humano e nunca se apresentou como uma companhia real para
sua mãe, nem para você e seu irmão e ela focou e intensificou todos os seus
afetos em seu irmão.
Qualquer criança adora ser foco de suprema admiração e afetos e seu irmão se
deixa então enfeitiçar por essa posição. Ao se ver como única fonte de
satisfação materna, mais ele não vê necessidade de ir em busca de outras
pessoas, principalmente outras mulheres. Se toda essa configuração tornou seu
irmão homossexual não sei, mas certamente podemos ver que há muito
aprisionamento em sua vida. Há pouco o que você possa fazer e qualquer
intervenção que você faça soará como ataque. A única coisa a ser feita é e
Tenho um pai de 85 anos e um filho de
17. Vivemos na mesma casa, mas eles não se dão bem. Meu filho acha que o avô é
um velho sem nenhuma serventia e meu pai acha que o neto é um adolescente
idiota e sem nenhum proposito. Não sei o que fazer para os dois se entenderem, já
usei de tudo que era lógica e argumentos, mas nada os aproxima. Eles se xingam
e se machucam e quem mais fica preocupada e entristecida sou eu. Um reclama do
outro para mim e quer que eu odeie o outro, querem que eu tome partido, mas não
sei quem atender, quem está certo ou errado. Não é opção nenhum dos dois se
mudar, quem tem vontade de sumir e mudar sou eu. Como posso acertar essa
situação?
Há jovens que discriminam os mais velhos e desvalorizam as suas experiências de
vida e há pessoas idosas que são bastante intolerantes com os jovens e seus
ideais. É o velho conflito entre gerações que fazem mal para a sociedade bem
como para a dinâmica familiar. Gerações com valores diferentes tendem a se
estranhar, mas não precisaria ser assim já que todas as gerações possuem
características boas que podem ser muito úteis quando bem usadas.
Os idosos, por terem vivido anos, podem (nem sempre é assim) ter uma visão
sábia e tolerante da vida. Podem ser capazes de contar com a serenidade do tempo
para tolerarem mais as adversidades da vida. Os jovens, pelos seus curtos anos,
se enchem de sonhos e ideias de como as coisas poderiam ser (de novo, nem
sempre é assim) e a visão fresca que têm do mundo podem ser salutares para
apresentar mudanças benéficas. Quando há equilíbrio entre esses dois tipos de
visão há a possibilidade de haver crescimento e evolução. A melhor dose para
tudo é sempre o equilíbrio.
Mas o que parece que acontece aqui vai além do conflito entre gerações. É
apenas uma hipótese, você pode confirmá-la ou não, mas a impressão que fica é
que tanto seu pai quanto seu filho estão numa competição para conseguir a sua
atenção. Você fica no meio do cabo de guerra entre os dois, cada um puxando
para o seu lado. Não é a toa que gostaria de sumir, pois sabe que não pode
tomar partido sem que um ou outro fique magoado e desamparado.
Nesse caso a única possibilidade é não tomar partido de ninguém a não ser o seu
próprio. Procure encontrar palavras e meios de deixar claro que essa troca de
ofensas ofende a você e que você não precisa viver deste jeito. Abandone os
argumentos lógicos para aproximá-los porque isso depende deles e não de você.
Use as palavras para explicar a sua situação e o quanto você se sente mal com
ela e que eles também têm parte nisso. Opte pelo seu bem estar e não pela
posição de um ou outro. Quem sabe você tomar o seu prórpio partido não lhe seja
melhor?
Olhe bem o que me acontece. Casei pela
primeira vez há alguns anos e pensei que seria feliz para sempre. Meu marido me
abandonou e me trocou por outra. Depois disso vivi um período infernal, de
muitas dores e sofrimentos. Me dediquei à arte e pintava quadros maravilhosos.
Aprendi a tocar um instrumento musical. Enfim, fiz tudo aquilo que eu já fazia
antes do meu casamento e que abandonei para me dedicar exclusivamente ao meu
marido. Despois de um tempo conheci outro homem que parecia que ia ser o
paraíso o nosso relacionamento e me dediquei cem por cento a esse homem,
deixando tudo que era meu de lado. Mas mais uma vez fui abandonada. Não sei o
que me acontece. Será que é minha sina ser abandonada? E percebo que quando
estou na fossa, na lama, eu me dedico mais à minha arte. Me pergunto se só
mesmo os que sofrem conseguem produzir arte.
As pessoas entendem o casamento de uma maneira muito equivocada. O casamento,
até mesmo os que estão registrados em cartório, não é uma coisa estável e que
podemos chamar de um bem nosso, mas é algo vivo, que é fluido e em constante
dinâmica. Por isso mesmo o casamento se trata de algo instável, um jogo que se
não for jogado bem, termina. O amor é como uma dança e o movimento de um
influencia o movimento do outro.
Quando há uma separação decidida por um dos membros e que pega o outro de
surpresa é geralmente porque o primeiro decidiu continuar dançando enquanto o
outro optou pela imobilidade. É que o amor, que sustenta um relacionamento, só pode
existir se os dois dançarem juntos e se um quiser ficar parado, sentado e
esperando, o outro vai sentir uma irresistível vontade de procurar outro
parceiro de dança. Será que é isso que lhe acontece?
Você disse que nos seus dois relacionamentos você foi abandonada pelos
companheiros que decidiram seguir sem você. Será que ao querer ser uma boa
esposa e se dedicar exclusivamente ao parceiro você deixou de investir
em você mesma, terminando por se abandonar e com isso foi murchando e perdendo
atratividade? Vale a pena considerar essa hipótese para que você aprenda que o
amor não implica em você se aposentar do que você faz por si mesma. Quando está
só você consegue produzir, você diz, mas quando acompanhada parece abdicar de
tudo que é você mesma e que havia encantado os seus parceiros.
Quando não está acompanhada você se sente tomada por uma incrível vitalidade,
que provavelmente deve ser um chamativo para que alguém se interesse e se
aproxime de você. Depois de entrar em um relacionamento parece perder toda essa
vitalidade e busca ser apenas uma esposa em tempo integral. Arrisco dizer que
esses homens devem ter se sentido enganados por você. Quando pensaram que
tinham encontrado alguém com quem dançar você demonstra que quer mesmo ficar
parada. O que lhe é necessário é entender o que você faz com sua vitalidade
assim que está em um relacionamento para que pare de se repetir e possa
continuar dançando sempre. A vida, tal como a arte, não é rígida, mas sempre
fluida.
Quero ser cantor. Desde pequeno tenho
esse sonho mas nunca tive meios de realiza-lo. Primeiro por uma questão
financeira e depois por questões que fazem eu ter medo de errar. Tenho medo de
um dia subir num palco e fazer algo errado que me trará muita vergonha. Esse
medo me aprisiona e faz com que eu cante apenas quando estou sozinho e jamais
mostro minhas habilidades para ninguém. Acho que sou extremamente tímido e não
sei como vencer essa timidez e acho que nunca iria conseguir suportar ser
criticado. Só quero elogios e congratulações. Vejo muita gente sem nenhum
talento fazendo sucesso e quando penso que tenho muito mais talento que essas
pessoas fico decepcionado por as pessoas não me reconhecerem. Será que há algo
que posso fazer sobre a minha timidez?
Antes mesmo de você
começar a jogar você já se deprime, parte em retirada pela certeza do fracasso
e se impede de viver experiências importantes. Assim você se preserva de
qualquer sentimento de desprazer e frustração, mas também fica esvaziado e
empobrecido. Nunca perde, mas também nunca ganha. Essa posição é de muita
impotência.
Você se imagina um grande cantor, um verdadeiro artista, mas a verdade é que
você não sabe disso. Ate agora isso está apenas no plano da imaginação, mas
nunca foi colocado em teste. Na sua imaginação você se vê tão maravilhoso e
fica cheio de vaidade e é justamente perder essa vaidade que você teme. Só que
ninguém consegue se realizar verdadeiramente através da vaidade.
Quando você sente a sua vaidade atacada você se deprime e assim você passa do
céu ao inferno. Vai de um extremo a outro. Antes era todo poderoso, mas depois
se sente um zero a esquerda. O que lhe faz falta é realidade e sair desse
labirinto de ilusões que você se colocou. Hoje você fica numa encruzilhada: Se
testar suas habilidades poderá se decepcionar; Caso se sinta um nada não terá
coragem para seguir em frente e melhorar.
Todo o mundo gosta de elogios, mas não devemos depender deles. Senão você
estará fazendo o que quer que seja pelos aplausos e não por se desenvolver e se
expandir. Querer ter a certeza dos elogios te impede de aprender e de ousar
vôos mais altos. Como você poderá ser um artista e ser criativo se o que te
move são os aplausos certos? O artista precisa de liberdade para ser ele mesmo
quando pratica seu trabalho, mesmo que ser ele mesmo não vá sempre trazer
aplausos. Acima de tudo é você que tem que aplaudir o seu desempenho e não a
plateia.
Sou professor do ensino médio e uma
coisa que venho observando é que desde o nascimento há crianças que são mais
abertas e extrovertidas e há crianças que são bem fechadas e introvertidas.
Bom, saber disso me faz pensar que a personalidade já está definida. Quem é
tímido sempre será assim, pois sempre terá medo de experimentar e quem é mais
aberto se dá melhor porque se entrega mais às ações. O ambiente então tem pouca
influência. Não há nada que a gente possa fazer ou que a gente pode fazer é
insignificante. Já está tudo determinado. O que acha disso?
A vida das pessoas é algo tão complexo e com tantas variáveis que qualquer
definição de como ela é ou como ela se dá é limitadora e até perigosa. Há uma
tendência geral em encontrar respostas universais e que não tragam nenhuma
dúvida. Queremos nos apegar a certeza pois não suportamos a incerteza, mas
qualquer certeza será apenas um tapa-buraco e nunca uma resposta definitiva.
Você está certo quando observa que as crianças nascem diferentes. Cada uma
carrega consigo suas peculiaridades que a tornam única. Umas são mais atiradas
enquanto outras são mais reservadas e é mais do que óbvio que essas
características irão interferir no modo como vivem. Já há, inicialmente, uma
diferença em como cada criança irá ver e reagir com o mundo. Porém, a
complexidade é tanta que não dá para definir toda a vida com base em apenas uma
variável.
O ambiente, entretanto, tem muita influência sobre a vida. Somos resultado
daquilo com que nascemos misturado com as experiências de vida. Estas últimas
são modeladoras tanto para o bem como para o mal. O que conta mais, se é o
ambiente ou aquilo que já carregamos nem importa porque para cada um a história
será de determinada forma. Agora, por que será que você desconsiderou a
importância do ambiente sobre a vida das pessoas?
Geralmente quando não queremos olhar para a influência do ambiente é porque não
suportamos saber que também nossas experiências são vitais e que temos uma
responsabilidade muito grande em se pensar sobre o que vivemos. Quando crianças
não temos recursos para se pensar muito sobre a vida e saber da nossa
responsabilidade pelo nosso bem estar. Conforme vamos amadurecendo fica cada
vez mais claro que somos responsáveis pela vida que vivemos e que devemos
responder por muito de nossas ações ao invés de tão somente culpar algum outro
fato. Aqueles que acreditam que tudo é pré-determinado biologicamente têm medo
de se responsabilizar pela própria vida e experiências. Preferem jogar tudo
para fora de si e assim se identificar com a posição da vítima. Afinal, tudo já
foi pré-determinado, não é mesmo?
Me sinto mal com a vida que estou levando. Engordei muito, muito nesses últimos anos e não venho fazendo nada para mudar. é que não tenho força para mudar. Até tento, mas quando penso em fazer algo me dá um desânimo. Eu comecei a dançar, mas parei. Acabo comendo salgadinhos no almoço e janta. Faz tempo que não como uma fruta por preguiça. Salgadinho parece ser mais fácil e sacia mais. Não faço exercícios e nem me arrumo mais. Não sei o que me acontece. Estou com quase 30 anos e nunca namorei. Me sinto feia e fora do mundo. A internet é a única coisa que me interessa e fico olhando as mulheres bonitas e fico com inveja. Minha família não se interessa por mim e nem as pessoas do meu trabalho. As vezes dá vontade de dormir e não mais acordar. Acho que se isso acontecesse ia ser bem mais fácil. Não consigo entender como as pessoas conseguem ter força pra viver bem. Me sinto um lixo. Queria ter uma vida diferente mas como conseguir isso?
Por
que tanto auto-ódio? Por que se ataca com tanta violência e se desvaloriza? O
que mais vi em seu email foi um exercício onde você demonstra uma grande raiva
que sente de você mesma. Entender a fonte de tantos autos-ataques lhe é
fundamental para mudar de vida.
Você
vive cada novo dia como um grande tormento. É difícil encontrar gosto pela vida
desse jeito. Com isso você passa a ficar relaxada em cuidar de si própria, a
vida perde o sabor e haja salgadinhos para tentar compensar! O problema é que
nenhum salgadinho vai te saciar de fato, pois o que pode realmente te saciar é
dar um sentido na sua vida e sentido é algo que se constrói, se você se
permitir.
Em
vez de perder tempo se lamentando e sentindo pena de si própria poderia
procurar se entender melhor. Ao se entender poderá dar um sentindo para a sua
vida onde antes não havia nenhum. Você fica na internet olhando outras mulheres
e se ressente com sua condição. É preciso aprender a mudar de posição, de
espectadora para protagonista de sua vida. Se você não viver a vida que tem,
ninguém mais irá vivê-la por você.
O
fato de sua família e colegas não se interessarem por você não significa que
você deva fazer o mesmo. Com um analista que saiba te escutar você poderá
prestar mais atenção em si mesma e começar a desenvolver um interesse maior
naquilo que você pode viver em vez de se colocar de lado perante a vida. Ao
gostar mais de você própria poderá se desapegar do auto-ódio que hoje te
domina. Mas para isso é preciso deixar a preguiça e o comodismo de lado e se
propor uma mudança e isso só você poderá fazer, ninguém mais.
Sou
uma mulher de meus 35 anos e posso dizer com toda a certeza de que jamais me
apaixonei na vida. Nunca! Há gente que acha isso estranho, mas apara mim é
assim que tem que ser. Acho que a paixão é algo doente e que leva as pessoas a
fazer besteira. Não quero perder a cabeça. Sigo sempre a lógica e a
racionalidade e gosto de entender tudo muito bem antes de me comprometer com o
que quer que seja. Estou sempre perguntando se tal coisa ou relacionamento vai
me trazer benefício. Caso a resposta seja uma negativa eu não perco mais tempo
e esqueço o assunto. Quanto mais racionais formos menos iremos nos surpreender.
Não encontrei um parceiro que pense como eu e que aceite viver desta maneira.
Mas não me importo, porque se não for deste jeito prefiro não me envolver. Só
que com isso algumas pessoas teimam em dizer que eu sou fria. Isso me magoa
pois eu não sou fria. Apenas sei me defender. Como convenço as pessoas de que
sou feliz desse jeito?
Você
é feliz desse jeito? Se fosse realmente, não estaria tão preocupada em
convencer os outros. Parece-me que querer convencer as pessoas da certeza da
felicidade desse seu jeito tem mais a ver com você convencer a si própria.
Apesar
de tanta racionalidade e lógica da sua parte você cometeu um erro de digitação
que acredito ser na verdade um ato falho. Você diz que jamais se apaixonou e
depois diz que apara mim é assim que tem
que ser, em vez de dizer “que para mim...”. os atos falhos não seguem a lógica
normal do consciente, porém seguem a lógica que se encontra no inconsciente
onde o mundo pode estar de cabeça para baixo e emoções contraditórias podem
existir conjuntamente. Aparar, nesse caso, pode ter o mesmo sentido que podar.
Será que é isso que quis dizer? Que se sente podada?
Apaixonar-se
é um ato difícil e que exige bastante coragem. A paixão que falo aqui é aquela
boa, que permite o encanto com a vida e com as pessoas e torna tudo mais
saboroso e prazeroso, uma aventura. Não me refiro àquela paixão doentia que
aliena o individuo da realidade e o enlouquece. Agora, se apaixonar é difícil
porque pode ser bem doloroso. Quando nos apaixonamos e nos entregamos a uma boa
emoção queremos mantê-la sempre por perto e guardada. Só que tudo que obtemos
também podemos perder. Creio que seja esse o seu caso. Tem medo de se
apaixonar, se abrir para as experiências da vida e depois, caso algo ruim
aconteça, ter que lidar com o sentimento de perda.
Acredito
que seja isso, pois no final do seu email você diz que ao se fechar às paixões
você está se defendendo. Sentir para você é algo meio assustador e você se
defende disso ao preço da própria vida. Isso não quer dizer que precisa pular
de cabeça em tudo, mas que pode aprender a usar a sua mente para encontrar um
equilíbrio entre razão e emoção. Se um lado receber mais peso o desequilíbrio
se faz presente e nos leva a cair. O equilíbrio entre razão e emoção é o que
nos mantêm em cima da corda bamba que é a vida.
Sou um cara bonito e faço musculação
porque gosto de ficar com o corpo sarado. Gosto muito quando as mulheres olham
para mim, gosto de ser notado e que comentem sobre meu corpo que tanto tempo
levo malhando. As vezes pareço inseguro. Muitas vezes pergunto repetitivamente
para as meninas com quem fico se eu estou bem, se elas curtem o que vêem, se me
acham bonito, se estou bem vestido. Algumas delas estranham e acham que eu sou
gay só porque eu gosto de estar bem e só porque eu ligo se estou combinando as roupas
e se meu corpo está bem. Fico mal com isso, eu só gosto de ser notado. Será que
posso ser gay e não sei?
Ser gay, ou seja, ter uma orientação
sexual homoerótica é só quando há atração exclusiva por pessoas do mesmo sexo.
Não me parece ser esse o seu caso. O que parece lhe acontecer é que você assume
uma posição que é mais característica da feminina do que da masculina, ou seja,
você quer atrair olhares para o seu corpo.
A vaidade pelo corpo e pela roupa
foi durante muito tempo, quase que exclusivamente, uma preocupação feminina e
quase nunca associada à masculinidade. É por isso que estranham quando você
fica focado, com tanta intensidade, em seus atributos estéticos. Ficou meio que
estabelecido culturalmente que o homem deve se preocupar com sua potência e com
suas posses e nunca com sua beleza física. Porém, os tempos já são outros.
A posição que te agrada, a de ser
olhado e elogiado, ficou estabelecida como sendo uma posição feminina.
Tradicionalmente as mulheres que são cortejadas e os homens aqueles que
cortejam. Você deseja o inverso disso porque quer ser cortejado pelas mulheres.
Quer ser aquele que recebe os olhares e as atenções. Você deseja a posição
feminina, mas isso não define, necessariamente, sua orientação sexual.
Agora, você pode estar funcionando de uma
forma narcísica. Será que há em você uma baixa autoestima que você tenta
compensar através do seu corpo? Vale a pena procurar responder essa questão, já
que atuar narcisicamente impede criar relacionamentos verdadeiros e íntimos. Você
tem todo o direito de querer ser olhado e notado e de achar alguma mulher que
queira dar o que você deseja. No entanto, é importante não correr o risco de
ficar inconveniente e querer apenas uma fã e não uma companheira. Conhecer as
razões desse seu desejo por ser constantemente admirado se faz necessário.
Sou tipo uma psicóloga dos meus amigos. Eles sempre vem em busca dos meus conselhos e orientações e eu sempre sou solicita com eles. Devia ter feito psicologia, pois todos me acham a psicóloga. Só que não são todos que agüentam ouvir a verdade. Um amigo meu de longa data falando do relacionamento dele com outro homem não gostou das verdades que eu disse. Ele não fala mais comigo e não entende que eu só falei a verdade. Sinto muito que ele não suporte ouvir determinadas coisas. E quando alguém não segue minhas orientações e continuam na mesma e eu mostro isso as pessoas ficam bravas. A questão é: como faço para interpretar meus amigos e faze-los entender que estou certa e que só quero o bem deles? Eles parecem que não querem aceitar a verdade.
Será
que você aceita a posição de amiga? Creio que não, pois se coloca na posição de
psicóloga e sai atirando o que você
considera interpretações, mas que podem ser apenas julgamentos. Não cabe a
alguém interpretar o amigo e insistir nisso pode fazer você se tornar
inconveniente.
Ao
insistir e despejar nos seus amigos aquilo que você considera como verdade você
ultrapassa limites e corre o risco de ofender. Primeiro porque pode nem ser uma
verdade, é você quem pensa assim, e segundo nem todas as verdades a gente diz.
Isso não é falsidade, porém respeito que se deve aos amigos. Você, parece,
rompe fronteiras que deveriam ser preservadas. Você não preservou algumas
fronteiras com seu amigo de longa data e ele talvez tenha mesmo sido ofendido
pelo seu comentário.
A
questão que você precisa procurar responder é por que você necessita ser a psicóloga e não a amiga? Talvez porque
você idealize a psicologia e julga que ela te arma com todas as respostas. Ao
bancar a psicóloga você se sente mais
poderosa só que isso é narcisismo e a psicologia não pode estar a serviço do
narcisismo de alguém. O psicoterapeuta não tem todas as respostas e nem dá
conselho e orientações, pois ele entende que não sabe tudo e que não deve nunca
tirar a responsabilidade do paciente em tomar suas próprias decisões. O
psicoterapeuta só pode ajudar o paciente a pensar
sobre sua vida.
Na
amizade até há espaço para conselhos e orientações, mas apenas à medida que
você saiba respeitar o próximo e não desejar que ele seja de um jeito ou outro.
Ao se aborrecer quando não seguem suas orientações e conselhos você não aceita
seus amigos já que estes questionaram suas diretrizes.
Nestes momentos está mais para ditadora do que para amiga. Resta agora você
refletir sobre como conduz seus relacionamentos e sua vida para que não se
torne inconveniente e suposta dona da
verdade.
Sou
extremamente tímida e morro de medo de errar. Tenho medo de falar em público e
começar a gaguejar. Nunca consigo falar o que realmente quero e penso e suo
frio quando alguém me questiona. Não namoro e nunca namorei e já tenho 28 anos.
Fiz minha faculdade de nutrição e quando tinha que apresentar seminários eu até
tinha que tomar calmantes. Só que estou cansada de ser tão tímida e queria ser
mais leve e tranqüila. Queria entender porque sou assim e melhorar. Quanto
tempo leva para eu melhorar se eu fizer uma terapia? E você pode me falar um
pouco sobre o que é a timidez?
O
primeiro passo para uma mudança é o desejo por ela e isso você já mostrou que
tem. No entanto para uma mudança real acontecer é preciso mais passos e que
você seja persistente e paciente com sua caminhada rumo à mudança que tanto deseja.
A
timidez é um estado no qual a pessoa sempre acha que está sendo observada e
julgada. Teme receber a rejeição do outro e de que jamais será aceita do jeito
que ela realmente é. Isso acontece porque todo tímido é um crítico cruel de si
mesmo. É alguém que tem uma baixa autoestima e se julga constantemente. Assim,
como o tímido se julga negativamente ele acredita que os outros façam a mesma
coisa e venham a rejeitá-lo e a rejeição é sempre algo muito doloroso. Para
evitar a suposta rejeição se intimida e fecha-se sobre si próprio, pois quem
não se expõe corre menos risco de receber uma avaliação e ser rejeitado.
O
problema é que com isso o tímido, por não se expor, termina por perder muitas
oportunidades o que contribui para o aumento de sua baixa autoestima e com isso
sempre acredita menos em si próprio. Quem não se expõe não evolui, pois não
aprende já que aprender significa lidar com os erros e aprender com eles. O
desenvolvimento implica não se deixar intimidar pelos erros, mas saber usá-los
como matéria prima para o crescimento.
Se
você se percebe cansada da sua timidez é sinal de que deseja uma mudança e de
que vê que não precisa ficar mais assim. Quanto ao tempo da sua psicoterapia
não há meios de precisar, já que cada psicoterapia é única e tem suas próprias
características. Não se preocupe com o tempo, vai lhe ser muito mais produtivo
você aproveitar sua psicoterapia para ser mais generosa consigo própria e
aprender a não se julgar tão negativamente. Em sua psicoterapia vai ter a
chance de aprender a ver os erros como aprendizagens e não mais temê-los. Ao
aprender a ser diferente consigo mesma você tem uma maravilhosa oportunidade de
construir uma outra história para a sua vida que já não precise mais se
refugiar na timidez.
Não
sei o que acontece na minha vida, mas sinto que sempre algo está faltando.
Tenho quase tudo que uma mulher poderia querer, mas sempre me vem o pensamento
de que algo me falta e por isso nunca fico preenchida. Isso faz com que eu
abandone as coisas que eu conquisto e me prejudica. Quando quero algo eu
imagino que enfim não vou precisar de mais nada para ser feliz, só que a
felicidade nunca chega e me sinto vazia. Sempre fico na expectativa que um
curso, uma pessoa, uma viagem, um carro vão me satisfazer, mas não entendo
porque nada me satisfaz. Pulo de empregos, de relacionamentos, de casa, mas
nada é suficiente. O que me falta e como conseguir?
A condição do ser humano é de estar sempre em falta.
Nunca estamos plenamente satisfeitos de fato. A falta nos leva a procurar algo
e nessa procura temos a chance de enriquecer nossas vidas. É que ao procurar
podemos aprender com aquilo que desconhecíamos. A questão, então, não é achar aquilo que irá te preencher, mas sempre
continuar a busca.
Você
idealiza que algo irá te preencher e que não mais desejará nada, porém com isso
você se engana e se impede de aproveitar melhor as suas conquistas. Fica tão
seduzida por aquilo que não tem que se esquece de ver e viver o que tem. Você
deseja o impossível e por isso fica insatisfeita. Só podemos ser realmente
felizes se desejarmos o possível.
Sente
sua alma como um saco sem fundo que
jamais fica cheio. Olha com tanta intensidade para um futuro onde não exista a
falta que fica cega para o presente. Vive um tempo que não é seu e só sabe
querer, sem saber bem o que. Morre de fome, com um prato cheio, na sua frente,
pois só consegue pensar no prato que ainda não veio.
Nessa
vida nunca temos certezas. Não sabemos de onde viemos e nem para onde vamos,
porque o que importa não é o ponto de partida, nem o ponto de chegada, mas o
que fazemos no caminho. Ao se colocar numa análise poderá ter a chance de
entender porque não se permite ficar satisfeita.
Faço
análise e estou insatisfeita com minha analista. Ela nunca responde as minhas
perguntas e nunca me dá apoio. Vejo amigas que contam sobre suas analistas que
as ajudam e dão conselhos. Minha analista nunca me diz nada que eu possa usar
no dia a dia. Quando faço uma pergunta que obriga a uma resposta objetiva ela
fica em silêncio. Eu quero soluções e não complicações. E os momentos de
silêncio nas sessões são insuportáveis. Sempre espero que ela pergunte e diga o
que posso falar, mas ela só fica a me olhar. Ela é a profissional e estou a
pagando, então ela deveria dirigir a sessão. Falam que ela é muito boa, mas
hoje tenho minhas dúvidas. Será que devo mudar de analista? Procurar alguém que
me ajude de verdade?
Você confunde a sua analista com uma conselheira. Quer
colocá-la nesse papel e quando ela não aceita entrar nessa posição você se
frustra. O papel do analista não é a de aconselhar, mas de ajudar o paciente a
pensar sobre a própria vida. Parece que você rejeita o ato de pensar e quer que
alguém pense por você.
Desejar
não pensar e querer que um outro faça isso por si é empobrecedor, pois te faz
dependente de alguém. É obrigação de cada um pensar sobre a própria vida. O
analista não resolve os problemas e a vida de ninguém, porém pode proporcionar
um espaço onde o paciente fala e nessa fala um sentindo novo pode surgir. O
analista te ajuda a dar um sentido para os seus atos, pensamentos e emoções, mas
o que você irá fazer com ele é de sua responsabilidade.
E
é bom que assim seja, já que quem paga o preço da sua vida é você mesma e não
sua analista. Portanto as decisões devem ser suas. Ao exigir que outros te dêem
respostas você deseja fugir das suas responsabilidades. Adota, assim, uma
posição infantil onde necessita de algum adulto pensando e resolvendo as coisas.
O espaço da análise deve ser usado para o crescimento e não para a
infantilização.
Entendo
que assumir responsabilidades e pensar sobre possa ser assustador. Crescer
nunca é fácil e traz muitas dores, mas é necessário, caso queira viver de fato.
Ao mesmo tempo que crescer traz angústias também traz conquistas importantes e
saborosas, como saber que se é capaz de realizar as coisas. As verdadeiras
realizações só vêem com a maturidade. Quando sua analista se cala ela te
convida a assumir a responsabilidade pela sua fala. O analisando é também
responsável pelo seu desenvolvimento no decorrer de sua análise.
Em
minha vida nada dá certo. Não consigo arrumar um namorado, não consigo ser
bonita, não consigo um emprego melhor. Parece que a vida de todos crescem menos
a minha. Minhas primas tem a vida que eu gostaria de ter. Tudo para elas dão
certo. Minha mãe diz que eu sou muito derrotista. Meu pai diz que eu sou muito
criança. Tenho já 31 anos e não vejo nada de bom. Sabe, tenho medo de ser só
uma telespectadora da vida e não uma participante. O que há de errado comigo?
Por que eu sou tão para baixo?
O
que mais me chamou atenção no seu email foi perceber como você desfere ataques
em você mesma. Você mesma se ataca e se coloca numa posição impossível. Agora,
precisa descobrir porque faz isso consigo. Por que essa posição te atrai?
Será
que você espera que alguém resolva sua vida? Que apareça alguém para dar conta
da sua vida emocional já que você sente que não consegue? Essa é uma posição
infantil e requer que você saia dela e passe a ser mais ativa ao viver sua
vida. Seria interessante você investigar porque se prende a essa posição e se
impede de adotar outra que lhe fosse mais conveniente.
Ao
se atacar com tanta intensidade, na verdade, está atacando a sua mente, pois é
sua mente que sente todo esse desconforto que você se queixa e é dela, a sua
mente, que você precisa cobrar para sair dessa situação. Quanto mais você se
ataca mais você se torna cega para as suas potencialidades e menos vislumbra
saídas. Não vai conseguir nada de bom e se auto-atacar.
Com
a ajuda de um analista que saiba te ouvir você poderá encontrar um significado
para a sua vida estar deste jeito e poderá desenvolver instrumentos para
realizar mudanças necessárias. É preciso aprender a se responsabilizar pela sua
vida e parar de se atacar e se colocar tão para baixo. Você é ainda jovem e tem
toda a vida pela frente. Por isso não perca tempo e procure melhorar para que a
vida não lhe seja tão pesada, mas possa ser também fonte de prazer e
realizações. A escolha é sua.
Nunca
tive um relacionamento sério com ninguém. Só sexo mesmo. Sou homossexual e
apesar de falarem que entre os homossexuais é mesmo difícil haver fidelidade eu
de vez em quando sonho em encontrar alguém e ficar fixo. Tenho 29 anos e só me
relaciono com os homens uma única vez. Depois eu os descarto e nem quero saber
mais deles. Não consigo me interessar por eles e sinto até nojo. O problema é
que eu só saio com homens heterossexuais, casados ou com namoradas. Sinto muito
tesão em saber que eles me desejam e que deixaram a mulher de lado. Dou para
eles e depois eu os mando embora e nem olho na cara deles depois que eles
gozam. Me sinto forte quando faço isso. Só que ultimamente estou ficando
cansado de ser sempre essa mesma estória. Estou até irritado com isso. Mas os
homens que estão disponíveis para um relacionamento sério não me atraem. Gosto
de homens que tenham mulheres. Não me entendo, só sei que estou me sentindo
mal. O que me diz?
É
muito bom que você reconheça seu mal estar e procure entender o que te
acontece. Esse é o primeiro passo para alcançar uma mudança. Você deseja mudar,
mas também há um lado seu que resiste a mudanças e te mantêm preso numa
repetição. Está sentindo que está na hora de quebrar esse ciclo.
Ao
transar com esses homens que têm mulheres
você parece estar buscando vingança e triunfo. É isso o que até então estava
movendo o seu desejo. Há um prazer sádico em ser capaz de seduzir um homem que
aparentemente é heterossexual, levá-lo para a cama e depois descartar. Isso te
faz se sentir poderoso. É você quem dá as cartas nesse jogo perverso, as regras
foram formuladas por você e só te atrai os homens que se enquadram na sua
encenação.
O
problema é que através dessa encenação você não sai disso. Repetir sem cessar é
fonte de aborrecimento e leva à prisão das potencialidades e da vida. No palco
sexual que você roteirizou não há espaço para improvisos e surpresas. Está tudo
muito bem ensaiado: a sedução, o gozo, o nojo, o descarte e o (pseudo) triunfo.
Reconhecer que essa repetição está te guiando para a infelicidade é a porta de
saída para essa situação.
Porém,
é preciso mais. É necessário que você conheça melhor essa sua fantasia de
triunfo e vingança. Ao dar um sentido para ela você poderá estar mais ciente do
que realmente te acontece e fazer as mudanças que lhe agradem. Ao abrir mão do
gozo da sua fantasia você poderá se abrir para outras possibilidades. Com a
ajuda de um analista poderá se escutar melhor e compreender o que te passa. Um
passo você já deu ao tomar consciência do seu desagrado. Que tal trilhar mais o
caminho do autoconhecimento?
Bem, eu tenho 16 anos, e muitos problemas... Mas só queria te pedir
opinião para os 3 piores...
1. Na minha idade, mesmo que eu tenha estágio, é praticamente impossível ser independente... O problema é que em minha família eu sou como alguém que não devia existir. Não conheço meu pai, ele era casado e minha mãe não quis falar com ele quando engravidou. Tenho um meio irmão que é filho do meu padrasto. O problema mesmo é meu padrasto. Ele não deixa minha mãe me tratar como filha, e quando deixa, é reclamando. É um fato que ele trate o filho dele, melhor que eu. Eu não me importo com isso. Ou não me importaria, se ele não fizesse da minha vida um inferno. Além de querer que eu faça tudo em casa ele não me deixa sair, não me deixa escolher minhas roupas, não me deixa em paz com meu namorado, e exige meu silêncio quando ele está falando mal de mim. Não tenho amigos e nem faço questão deles, porque trazê-los aqui é loucura e sair com eles é impossível, então eu acabo sendo apenas mais um alvo a "zoação" de todo mundo.
1. Na minha idade, mesmo que eu tenha estágio, é praticamente impossível ser independente... O problema é que em minha família eu sou como alguém que não devia existir. Não conheço meu pai, ele era casado e minha mãe não quis falar com ele quando engravidou. Tenho um meio irmão que é filho do meu padrasto. O problema mesmo é meu padrasto. Ele não deixa minha mãe me tratar como filha, e quando deixa, é reclamando. É um fato que ele trate o filho dele, melhor que eu. Eu não me importo com isso. Ou não me importaria, se ele não fizesse da minha vida um inferno. Além de querer que eu faça tudo em casa ele não me deixa sair, não me deixa escolher minhas roupas, não me deixa em paz com meu namorado, e exige meu silêncio quando ele está falando mal de mim. Não tenho amigos e nem faço questão deles, porque trazê-los aqui é loucura e sair com eles é impossível, então eu acabo sendo apenas mais um alvo a "zoação" de todo mundo.
2. Minha mãe é quase uma fanática evangélica. Eu sou evangélica, mas
encontro certa dificuldade pra falar com ela, pois eu tenho certa inclinação
pelo sobrenatural, e quando digo "sobrenatural" quero dizer todo o
tipo. Minha família toda é cristã. Então acabo sem ter quem me ouvir. E isso
tão ruim para mim que acabei "criando pessoas". Sei que não é normal
pra uma garota de 16 anos ter "amigos imaginários", mas foi a forma
que achei de aliviar um pouco as vezes... Fingir que alguém está lá para me
ouvir... Mas isso está piorando e agora eles estão aparecendo mesmo sem que eu
"mande" que apareçam. Estou me sentindo uma louca, mesmo que eu ainda
me controle, não quero que isso piore. Não quero ser tirada como uma
esquizofrênica ou endemoniada.
3. Descobri que sofro de algo chamado Mitomania, ou algo do gênero. Que seria a "mania de mentir". Minha vida é uma mentira. Isso me deprime, mas eu simplesmente não sei como parar. É como se parando, meu mundo fosse deixar de existir... Poucas pessoas que sabem disso dizem que eu seria uma ótima atriz até. Eu crio, minto, até para mim mesma. Mas não queria continuar nisso...
Se puder me ajudar com esses 3 pequenos problemas, eu ficaria muito grata.
3. Descobri que sofro de algo chamado Mitomania, ou algo do gênero. Que seria a "mania de mentir". Minha vida é uma mentira. Isso me deprime, mas eu simplesmente não sei como parar. É como se parando, meu mundo fosse deixar de existir... Poucas pessoas que sabem disso dizem que eu seria uma ótima atriz até. Eu crio, minto, até para mim mesma. Mas não queria continuar nisso...
Se puder me ajudar com esses 3 pequenos problemas, eu ficaria muito grata.
O que percebi nesse seu longo email
foi um tom de desabafo e de um pedido
de esperança. Desconhece quem seja
seu pai, ou seja, não sabe de toda a sua história de vida, tem uma mãe que se
omite em lhe proteger e um padrasto que te destrata. Você se sente abandonada e
solitária e começa a duvidar de si mesma e da sua capacidade. Ao mesmo tempo,
com tudo isso, você também carrega uma esperança em reverter toda essa situação
a seu favor. Caso não fosse assim não me escreveria tão detalhadamente e
pedindo ajuda. É esse lado seu, o que tem esperança, que é necessário ser
preservado e cultivado.
Não há muito que você possa fazer no
âmbito da sua família. Eles funcionam desta maneira e dificilmente irão mudar.
O importante, contudo, é você não permitir que toda essa carência de afetos e
sentido que existe na sua família te contamine. Quero dizer com isso que apesar
de você viver num ambiente que não te ajude no seu desenvolvimento você não
passe a duvidar de si própria. Vai precisar aprender a cuidar de si com amor e
paciência.
Você tem 16 anos e tem toda a vida
pela frente. Não está condenada a ficar nessa posição em que se encontra agora
para todo o sempre. Mas para isso é necessário que faça uso da paciência. Ser
paciente não significa ficar numa posição passiva, mas usar do tempo para se
construir de outra forma. Você é boa em criar, então pode se recriar. Sei que
gostaria que tudo se resolvesse agora, mas não é possível e só podemos
trabalhar dentro da realidade que nos encontramos.
Você é uma jovem sensível e
inteligente e vai lhe ser bastante proveitoso usar dessas características para
contribuir para o seu desenvolvimento. Posso também acrescentar que é preciso
diferenciar as boas fantasias das más. Use do seu rico mundo de fantasias para
alcançar caminhos que te levem para fora do mundo em que se encontra. Porém,
tome cuidado com as fantasias que te alienam da realidade. Sartre, filósofo
francês, tem uma frase que pode te servir: não
importa tanto o que os outros nos fizeram, o que importa é o que nós faremos
com o que os outros nos fizeram. Reflita sobre isso e caminhe para criar
dias melhores.
Me sinto mal com a vida que estou levando.
Engordei muito, muito nesses últimos anos e não venho fazendo nada para mudar.
é que não tenho força para mudar. Até tento, mas quando penso em fazer algo me
dá um desânimo. Eu comecei a dançar, mas parei. Acabo comendo salgadinhos no
almoço e janta. Faz tempo que não como uma fruta por preguiça. Salgadinho
parece ser mais fácil e sacia mais. Não faço exercícios e nem me arrumo mais.
Não sei o que me acontece. Estou com quase 30 anos e nunca namorei. Me sinto
feia e fora do mundo. A internet é a única coisa que me interessa e fico
olhando as mulheres bonitas e fico com inveja. Minha família não se interessa
por mim e nem as pessoas do meu trabalho. As vezes dá vontade de dormir e não
mais acordar. Acho que se isso acontecesse ia ser bem mais fácil. Não consigo
entender como as pessoas conseguem ter força pra viver bem. Me sinto um lixo.
Queria ter uma vida diferente mas como conseguir isso?
Por
que tanto auto-ódio? Por que se ataca com tanta violência e se desvaloriza? O
que mais vi em seu email foi um exercício onde você demonstra uma grande raiva
que sente de você mesma. Entender a fonte de tantos autos-ataques lhe é
fundamental para mudar de vida.
Você
vive cada novo dia como um grande tormento. É difícil encontrar gosto pela vida
desse jeito. Com isso você passa a ficar relaxada em cuidar de si própria, a
vida perde o sabor e haja salgadinhos para tentar compensar! O problema é que
nenhum salgadinho vai te saciar de fato, pois o que pode realmente te saciar é
dar um sentido na sua vida e sentido é algo que se constrói, se você se
permitir.
Em
vez de perder tempo se lamentando e sentindo pena de si própria poderia
procurar se entender melhor. Ao se entender poderá dar um sentindo para a sua
vida onde antes não havia nenhum. Você fica na internet olhando outras mulheres
e se ressente com sua condição. É preciso aprender a mudar de posição, de
espectadora para protagonista de sua vida. Se você não viver a vida que tem,
ninguém mais irá vivê-la por você.
O
fato de sua família e colegas não se interessarem por você não significa que
você deva fazer o mesmo. Com um analista que saiba te escutar você poderá
prestar mais atenção em si mesma e começar a desenvolver um interesse maior
naquilo que você pode viver em vez de se colocar de lado perante a vida. Ao
gostar mais de você própria poderá se desapegar do auto-ódio que hoje te
domina. Mas para isso é preciso deixar a preguiça e o comodismo de lado e se
propor uma mudança e isso só você poderá fazer, ninguém mais.
Sou
uma mulher de meus 35 anos e posso dizer com toda a certeza de que jamais me
apaixonei na vida. Nunca! Há gente que acha isso estranho, mas apara mim é
assim que tem que ser. Acho que a paixão é algo doente e que leva as pessoas a
fazer besteira. Não quero perder a cabeça. Sigo sempre a lógica e a
racionalidade e gosto de entender tudo muito bem antes de me comprometer com o
que quer que seja. Estou sempre perguntando se tal coisa ou relacionamento vai
me trazer benefício. Caso a resposta seja uma negativa eu não perco mais tempo
e esqueço o assunto. Quanto mais racionais formos menos iremos nos surpreender.
Não encontrei um parceiro que pense como eu e que aceite viver desta maneira.
Mas não me importo, porque se não for deste jeito prefiro não me envolver. Só
que com isso algumas pessoas teimam em dizer que eu sou fria. Isso me magoa
pois eu não sou fria. Apenas sei me defender. Como convenço as pessoas de que
sou feliz desse jeito?
Você
é feliz desse jeito? Se fosse realmente, não estaria tão preocupada em
convencer os outros. Parece-me que querer convencer as pessoas da certeza da
felicidade desse seu jeito tem mais a ver com você convencer a si própria.
Apesar
de tanta racionalidade e lógica da sua parte você cometeu um erro de digitação
que acredito ser na verdade um ato falho. Você diz que jamais se apaixonou e
depois diz que apara mim é assim que tem
que ser, em vez de dizer “que para mim...”. os atos falhos não seguem a lógica
normal do consciente, porém seguem a lógica que se encontra no inconsciente
onde o mundo pode estar de cabeça para baixo e emoções contraditórias podem
existir conjuntamente. Aparar, nesse caso, pode ter o mesmo sentido que podar.
Será que é isso que quis dizer? Que se sente podada?
Apaixonar-se
é um ato difícil e que exige bastante coragem. A paixão que falo aqui é aquela
boa, que permite o encanto com a vida e com as pessoas e torna tudo mais
saboroso e prazeroso, uma aventura. Não me refiro àquela paixão doentia que
aliena o individuo da realidade e o enlouquece. Agora, se apaixonar é difícil
porque pode ser bem doloroso. Quando nos apaixonamos e nos entregamos a uma boa
emoção queremos mantê-la sempre por perto e guardada. Só que tudo que obtemos
também podemos perder. Creio que seja esse o seu caso. Tem medo de se
apaixonar, se abrir para as experiências da vida e depois, caso algo ruim
aconteça, ter que lidar com o sentimento de perda.
Acredito
que seja isso, pois no final do seu email você diz que ao se fechar às paixões
você está se defendendo. Sentir para você é algo meio assustador e você se
defende disso ao preço da própria vida. Isso não quer dizer que precisa pular
de cabeça em tudo, mas que pode aprender a usar a sua mente para encontrar um
equilíbrio entre razão e emoção. Se um lado receber mais peso o desequilíbrio
se faz presente e nos leva a cair. O equilíbrio entre razão e emoção é o que
nos mantêm em cima da corda bamba que é a vida.
Não consigo terminar nado do que quero.
Começo a ler um livro, mas nunca termino. Não sei explicar por que, mas nunca
consigo chegar até o final apesar de estar gostando do livro. Com filmes também
é assim. Vou ao cinema e nunca fico até o final, sempre saindo antes. Meus
amigos dizem que sou doida e muito impaciente. Até mesmo quando estudo para as
provas na faculdade eu começo bem, mas não termino de estudar tudo o que eu
deveria e isso me prejudica. O que faço?
Qual será a sua ansiedade em
terminar as coisas? Ao evitar o fim natural de qualquer atividade, o que será
que você, em fantasia, tenta evitar? São perguntas que, ao você conseguir
responder, podem te mostrar uma direção.
Ao terminar algo nos é exigido um
trabalho de luto, que é aceitar o fim e aprender a se desapegar e isso pode ser
desde terminar a leitura de um livro, assistir um filme até o final ou elaborar
o luto por perder alguém que nos era querido. Todo trabalho de luto causa uma
ansiedade. Afinal, é sempre doloroso abandonar alguma coisa que se tinha antes
e ter que se refazer. Porém, através da elaboração do luto a vida pode se abrir
para novas experiências. Ao não terminar nada você se impede de viver novas
oportunidades e por isso fica empacada sempre na mesma posição.
Não posso dizer muito mais sobre o
que lhe ocorre, pois falta mais informações para tal. Posso te dizer, apenas,
que você se contraria, já que quer algo, mas nunca termina, ficando sempre
presa à insatisfação. Para sair dessa prisão é preciso que você se conheça e dê
significado para o ato de evitar terminar as coisas. Ao falar sobre o que te
acontece com algum analista que saiba te escutar é uma maneira de se entender e
de vir a mudar. Assim, vai poder dar um fim a essa situação.
Eu
sonho muito de noite e queria saber mais sobre a interpretação dos sonhos.
Sonho frequentemente com um gato preto em cima do meu telhado e que quero pegar
esse gato a todo custo. O que será que significa? Segundo algumas pessoas
sonhar com gato preto nunca é algo bom. Comprei esses dias um manual dos sonhos
e fala que gato preto pode significar coisas ruins. Como se interpreta sonhos
corretamente. A psicanálise trabalha com sonhos, não é mesmo?
A vida onírica, ou seja, os sonhos têm uma grande importância
para a psicanálise. Freud foi o primeiro pensador que tratou os sonhos
cientificamente sem ligar para a crença popular de que se tratava de algo
místico ou para a crença científica da época que via os sonhos como produtos
psíquicos sem sentido algum. Para ele os sonhos são comunicações da mente
inconsciente.
Sobre o que o seu sonho significa não faço idéia, pois a
interpretação dos sonhos não se dá magicamente, mas se trata de um trabalho que
exige do analista e do paciente. O conteúdo dos sonhos de uma pessoa tem
significado único e exclusivo para aquela pessoa, precisando então que você
faça suas associações com o sonho que teve. Nessas associações livres o
significado do que o sonho representa para você pode ser captado e entendido.
Numa análise o paciente tem participação ativa no processo de interpretação dos
sonhos, já que se trata de uma comunicação da mente dele.
Não existe manual dos sonhos. Isso é pura bobagem já que
não se trata de colar um significado à uma imagem, mas de se procurar o significado
daquela imagem para aquela pessoa que sonhou. O gato preto do seu sonho não tem
um significado em si, porém tem o significado inconsciente que sua mente deu a
ele e esse significado não vai ser encontrado num manual, mas através da sua
fala, porque só assim o significado vai poder ser revelado.
Talvez, ao me escrever esse email, você esteja mostrando
interesse em entender mais sobre seu psiquismo. Talvez você deseje estar em um
processo analítico onde vai poder contar com a ajuda de um analista para te
ajudar a entender sua mente e com isso entender a si mesma. Interesse por seus
sonhos, que são produtos mentais, você já tem. Quem sabe o que não lhe falte é
investigá-los com mais propriedade?
Sou
psicóloga recém formada aqui do estado da Bahia. Faço um grupo de estudo que
tem seminários clínicos onde somos convidados a expor nossos casos. Eu já
contei meus casos algumas vezes e toda vez me senti mal. É que todo mundo dá
palpite, todo mundo parece saber melhor do que eu a situação clínica. Depois que
apresento os casos eu fico muito mal mesmo. Desamparada. Me sinto a pior das
psicólogas . Ao mesmo tempo eu fico com raiva dessa gente toda que critica meu
atendimento. Fico com raiva porque se eu fosse seguir o conselho de todo mundo
eu não conseguiria fazer nada, já que muito deles são contraditórios. Gosto
muito da clinica mas é tão difícil... e tenho medo de me expor aos outros
profissionais. O que posso fazer?
Os seminários clínicos são situações onde ao se expor um
caso todos os demais são convidados a dar suas opiniões. Isso tudo pode ser
muito enriquecedor para a pratica clínica, já que o psicoterapeuta que está
atendendo o caso pode ouvir outros pontos de vista que podem ser
esclarecedores. Porém, nem tudo é rosa. Expor-se nunca é fácil e pode gerar
conflitos.
Nem todas as opiniões são coerentes e muitas pessoas
apenas falam não porque têm alguma contribuição de fato, mas porque desejam
aparecer. Muitos profissionais usam esses seminários e encontros apenas para
obter uma audiência para se exibir. É importante que você saiba filtrar o que
você escuta e separar aquelas críticas que podem realmente te ajudar daquelas
que não te servem.
No entanto, a sua queixa revela que você não sabe lidar
bem com críticas. É claro que ninguém gosta de receber críticas, mas é
importante saber lidar com elas de uma forma mais madura, não ficando tão
vulnerável a elas. Você não deve usar o seminário clínico para afirmação da sua
atuação na clínica, mas como um lugar onde pode aprender. Caso só queira ouvir
elogios à sua performance, você deixa de aprender e se enriquecer. E como
psicóloga recém formada é claro que tem muito que aprender. Até os mais
experientes sempre têm muito o que aprender, ninguém nunca está pronto.
O trabalho na clínica é encantador e gratificante, mas
precisa-se de muito trabalho, estudo e empenho. Para trabalhar na clínica é
também necessário aprender a tolerar as frustrações, que nesse trabalho são
muitas. Para isso é vital que você trabalhe o desenvolvimento da sua própria
mente, afinal a sua mente é o seu instrumento de trabalho e quanto mais você se
conhecer mais isso te dará respaldo para ajudar a um outro a se conhecer. Por
isso que existe a recomendação do psicoterapeuta se submeter a uma
psicoterapia. Aprendendo a se ouvir, vai te possibilitar a ouvir os outros,
incluindo aí seus colegas de seminário.
Sou
um profissional reconhecido pelo meu vasto conhecimento. Trabalho como
professor universitário de uma boa universidade e tenho muitos títulos. Para
mim a vida acadêmica é parte do meu ser e não consigo me ver longe dela. Gosto
de saber e receber reconhecimento por isso. Você pode até me chamar de
arrogante, mas para mim quem não tem algum titulo de mestrado ou doutorado não
vale nada. Para mim, é impensável alguém viver sem passar pela vida acadêmica e
é aí que vem o problema. Tenho um filho que incentivo a estudar e ele
corresponde e não tenho dúvidas de que ele se sairá muito bem, só que meu filho
mais novo tem síndrome de down. Ele tem três anos e até hoje não consigo
engolir esse fato. Para mim é algo até embaraçoso ter um filho que tem limites
e que não seguirá uma vida acadêmica. Um filho, sei que vocês psicólogos não
gostam desta palavra, que é retardado. Minha mulher, que também é uma
professora universitária de sucesso, quer se divorciar porque não consigo ver
essa criança como filho. Ela que insiste que eu procure ajuda, mas não creio
que a psicanálise seja uma ciência verdadeira. Não há nenhuma prova científica
que demonstra que alguém pode se beneficiar de um processo analítico. Só
escrevo pois minha esposa insistiu muito, mas não acredito no que possa ajudar.
Entendo que o pedido de ajuda do seu email vem da sua
esposa e não de você. Talvez ela tenha esperanças que eu encontre palavras que
possa te humanizar e vir a aceitar e até gostar desse filho. Porém, você passa
a idéia de que não é capaz de ouvir quem quer que seja, a não ser você mesmo.
Afinal, você parece saber tudo.
Contei quantos “para
mim” você escreveu em seu email: exatamente quatro. Alguém ter orgulho das
próprias conquista e títulos é algo bom e saudável. O orgulho não precisa ser
necessariamente negativo, mas o que você sente não pode ser chamado de orgulho.
Pode ser chamado de narcisismo, ou seja, no seu entender só existe você, os
seus interesses, suas necessidades e suas frustrações. Os outros, são vistos
por você, apenas como objetos. Você encara seus filhos e pessoas em volta como
objetos para alimentar a sua imagem narcísica.
Sua mulher não agüenta mais tanta frieza e deixou claro
que deseja o divórcio e mesmo assim você continua insensível aos apelos dela.
Possivelmente, este é um casamento fadado ao fracasso. Não te importa as
pessoas, apenas as imagens que elas passam. Você vê seu filho com síndrome de
Down como um ataque à sua autoimagem. Ele não será aquilo que você deseja, ele
será aquilo que ele pode ser. Mesmo o seu outro filho que não tem síndrome de
Down também só será aquilo que puder vir a ser. No entanto você acha que tem o
poder de decidir o destino de todos.
Como um professor com tantos títulos e conhecimento você
não deve desconhecer o conceito de hybris
dos antigos gregos. A hybris é um
sentimento, geralmente sobre si mesmo, que passa da medida e se torna
insolente. Na mitologia a pessoa tomada pela hybris era sempre punida pelos deuses. Claro que nenhum deus irá
vir te punir, isso você mesmo já faz. Pune-se ao se impedir de viver
relacionamentos verdadeiros, sendo que o que enriquece a vida são os
relacionamentos. Se acha que ser uma pedra é melhor do que ser um homem, está
no caminho certo. Quanto ao seu filho que tem síndrome de Down ter limites, você
consegue me dizer alguém que não os tenha? É uma pena que conhecimento não
torna ninguém mais sábio.
Eu
sou gay e estou muito interessado em um cara amigo meu que tem no meu trabalho.
Ele sabe que sou gay e aceita numa boa tanto que é meu amigo e até já saímos
juntos. Ele não tem namorada e como estou interessado nele acho que eu devia
dar em cima dele. Ele disse que não é gay, mas por que não tem namorada ou não
sai com mulher então? E por que é meu amigo se sabe que sou gay e sabe que me
interesso por homens? Acho que ele tem medo de se assumir. Quero dar em cima
dele, mas como posso fazer isso de forma que ele entenda? Que ele aceita a sua
homossexualidade?
Em primeiro lugar você não sabe se ele é homossexual.
Isto é um pensamento seu, mas pelo que você disse você não tem nenhum indício.
O fato dele não ter namorada ou de até não sair com mulheres não significa em
absoluto que ele tenha uma orientação homossexual. Há várias possibilidades
para explicar isso que não seja a homossexualidade.
Em segundo lugar mesmo que ele fosse homossexual e não
conseguisse se assumir não cabe a você decidir isso por ele. Esta só pode ser
uma decisão dele e no tempo dele e qualquer atitude que você tome para apressar
isso você corre o risco de violentá-lo. Caso ele seja homossexual ou não e você
tente dar em cima dele há a
possibilidade de perder o amigo.
Você tem uma visão preconceituosa sobre um heterossexual
ser amigo de um homossexual. Acha que se isso ocorre é porque há algum outro
interesse, porém é perfeitamente possível haver apenas o sentimento de amizade
sem nada mais. A mesma coisa pode acontecer com um homem e uma mulher. Eles
podem ser só amigos e não haver nada sexual na relação. É fato que a visão
preconceituosa estraga muitas coisas boas.
A verdadeira amizade não vê orientação sexual, credo, cor
e nenhuma outra característica que tipifica uma pessoa. O amigo simplesmente vê
a pessoa que o amigo é. Antigamente, com muita freqüência, as diferenças nas
orientações sexuais separavam as pessoas. Não havia muito espaço para aceitar
as diferenças e só se podia se relacionar com quem fosse parecido e tivesse os
mesmos interesses. Apesar de isso ainda acontecer, hoje há muito mais formas de
se relacionar fazendo com que a amizade possa se tornar mais ampla, verdadeira
e menos preconceituosa.
Na
minha família nunca fomos alegres. Nem mesmo em ocasiões festivas. Tudo era
levado muito a sério e rir ou sorrir estava fora de cogitação. Até hoje isso é
assim com meus pais e irmãos. Hoje, depois de formada, estou morando em uma
outra cidade e não vivo com minha família. Mesmo assim me sinto triste. As
pessoas me acham muito séria e alguns acham que estou sempre brava e com cara
feia. Não sei mesmo rir. Perceber isso é estranho. Os outros conseguem rir de
boca aberta e são bem mais espontâneos, já eu no máximo apenas esboço um
sorriso tipo da Mona Lisa mas sem mostrar nada mais. Não sei se sou feliz.
Quando criança eu lembro que quando eu sorria ou algo assim meus pais ficavam
bravos e me repreendiam. Será que é possível eu sorrir normalmente, sem sentir
vergonha e sem me achar feia?
No romance O Nome
da Rosa de Umberto Eco dois monges de opiniões contrárias têm uma violenta
discussão sobre o riso. Para um deles o riso é demoníaco, pois deforma as
feições do rosto deixando o ser humano parecido com um animal e que o riso mata
a fé já que pode ridicularizar as coisas. Já para o outro monge o riso era
próprio da inteligência humana e mostra refinamento de espírito e cita o
exemplo de São Francisco de Assis como um santo que usou da comédia para atrair
pessoas e mostrar um lado mais leve da religião.
Na sua família o riso foi tratado negativamente e com
isso impediu abrir espaço para a espontaneidade. É como se todos devessem viver
um papel sério e jamais viver o que realmente queriam. Mas quem disse que o
riso também não é sério? A boa risada significa se entregar a um sentimento de
prazer e isso é coisa séria.
Não rir e impedir o riso é repressão e quem vive se
reprimindo não se permite ser feliz. Quando você se pergunta se lhe é possível
rir sem sentir vergonha e sem achar isso feio você se questiona se consegue ser
se sentir feliz sem que isso lhe seja proibido. Felicidade, tal como o riso,
ficou para você barrado, sem possibilidade de acesso.
Falta mais informações para entender porque para a sua
família o riso e a espontaneidade se tornaram tão mal vistas, mas isso é algo
que você pode descobrir ao analisar a sua história de vida e a história da sua
família. É importante você se submeter a uma análise para compreender o que se
proíbe ao se proibir o riso e com isso se livrar dessa atitude e adotar outra
que permita que você ria, sem repressões, quando tiver vontade para tanto.
Concordo com o segundo monge que citei acima. Rir é prova de inteligência
porque significa aproveitar melhor o que há de bom na vida e não é motivo de
vergonha.
Meu
filho tem 9 anos e é um menino encantador. É meu único filho e tenho grande
amor por ele. Meu marido e eu estamos brigando muito ultimamente por causa do
jeito dele e eu sempre perco porque meu marido é mais forte nos argumentos. Meu
marido acha que nosso filho é muito “delicado” e que isso pode trazer problemas
para ele no futuro. Ele quer que ele seja mais agressivo e se comporte mais
como um menino. Não que ele faça coisas de menina, mas ele comparado com outros
meninos de sua idade é bem mais sossegado. Ele não gosta de esportes agressivos
e nem é dado a valentão. Meu marido queria que ele fosse assim e fica zangado
com ele toda a hora, dizendo para parar de ser fracote. Meu marido também diz
que ele é assim, mais “delicado” por que é filho único e eu o mimo demais, mas
eu não acho isso. Lógico que eu cuido dele e tenho amor, mas eu não mimo não.
Pelo menos é o que eu acho. Meu marido quer colocar ele para fazer alguma luta
mas ele disse para mim que quer estudar violino. Se meu marido sabe disso aí
ele vai ficar muito bravo. Não sei o que faço.
Por que colocar delicado
entre aspas? Não há nada demais na palavra delicado
para ser usada desta forma, como se indicasse uma vergonha. Entretanto, creio
que você quis se referir a efeminado ao usar a palavra delicado, porém é importante saber que há uma diferença entre ser
delicado e ser efeminado.
Nem todos os meninos são iguais. Cada um tem suas
características próprias. Tem-se a idéia equivocada de que os meninos devem ser
agressivos e gostar de coisas agressivas, mas isso é puro estereótipo e não
ajuda em nada. Um menino não adotar as atitudes mais agressivas presentes em outros
meninos é perfeitamente natural, mas isso muitas vezes não é aceito e visto
como se fosse indicativo de que o menino pode se tornar homossexual.
Preconceito só gera ignorância e estupidez.
Provavelmente seu filho tem um lado artístico mais
aflorado e se encanta com coisas que seu marido não entende e julga
inconveniente. A sensibilidade do seu filho incomoda seu marido que quer que
ele seja quem ele não pode ser. Ao insistir que seu filho tenha atitudes que
ele não pode ter, seu marido o agride e pode contribuir para uma baixa
autoestima no desenvolvimento dele.
Chama a atenção que você dá ao seu marido uma posição de
autoridade. Ele decide o que é aceitável e cabe a todos vocês acatarem. Por que
será que precisa ser assim? Por que você não tem uma voz mais ativa em sua casa
e nos assuntos da sua família? Talvez por ser delicada demais você se submeta a
tudo com muita facilidade. Você confunde delicadeza com fraqueza. Existe uma
força na delicadeza que você desconhece e ao descobri-la e fazer uso dela vai
poder mostrar ao seu marido que a delicadeza não significa fragilidade. Para
ajudar seu filho você precisa primeiro compreender isso.
Tenho
27 anos e namoro um homem de 30. No inicio do nosso relacionamento estava tudo
flores e por causa do meu encantamento (ele é meu primeiro namorado) eu não via
determinadas coisas. Agora passado um ano eu começo a ver coisas que estão me
desagradando. Ele é alcoólatra e está cada vez pior. Ele bebe muito e de tudo e
nega que seja alcoólatra. Ele acha que consegue parar quando quiser, mas não é
isso que tenho visto nele. Antes era de sexta a domingo e agora é quase todos
os dias e quando ele não bebe ele fica muito chato. Só que qdo ele bebe ele tb
fica chato e está começando a ficar violento. Semana passada ele me bateu pela
primeira vez e isso me assustou. Ele pediu desculpas e disse que isso jamais
iria acontecer de novo. Falo com ele, sou carinhosa, tento ser compreensiva,
mas nada adianta e o faz mudar. Não quero parecer uma mulher que o abandona na
pior fase da vida dele, mas está difícil agüentar. Mas não sou má e nem
mesquinha, mas só quero que ele melhore. Como posso ajudá-lo de fato?
Quem está viciado em drogas, seja ela qual for, tende a
achar que tem tudo sob controle e se engana. Conforme o tempo vai passando o
vício se acentua, mas para o viciado é como se tudo estivesse normal, apesar
das pessoas ao redor começarem a dar sinais de alerta. O viciado se apega à
onipotência e não reconhece o seu problema terminando por adiar ainda mais uma
mudança de atitude. Provavelmente seu namorado nega que tenha um problema e por
isso mesmo não procura por uma mudança.
A complicada situação em que você se encontra é que você
já percebeu que ele tem esse problema com o álcool, mas ele não. Ele prefere
acreditar que nada está acontecendo e com essa atitude irresponsável vai se
afundando e te convida a deixar esse problema de lado e não mais pensar sobre
ele. Ainda bem que você não caiu nessa estória e está procurando pensar.
O problema é que para alguém que está viciado se
recuperar depende muito dele mesmo. Por melhor e mais acolhedora que seja as
tentativas de fazê-lo mudar, elas são ineficazes se não encontram dentro dele
esse desejo por se recuperar. É difícil agüentar quando você está empenhada em
ajudar e dar o seu melhor e o outro ignora isso. Você sente que está dando
murro em ponta de faca. Tenta ajudá-lo e sai machucada.
Você diz que o está ajudando, portanto não há porque se
sentir mesquinha. Ninguém pode tudo e você vê que há limites para o que você
pode fazer. Não exija demais de você mesma, afinal, você é humana. Se ele não
mudar provavelmente você se desinteressará desse relacionamento e é importante
deixar isso claro para ele. Por pior que seja esse momento na vida dele é vital
você mostrar que ele tem responsabilidades para com ele mesmo e para com esse
relacionamento. Caso você se faça permissiva além da conta ele pode se acomodar
e você se verá numa relação infeliz. Não tenha receio de cuidar da sua vida e
de seus interesses.
Todo mundo me deseja.
Fico seduzindo as pessoas pelo prazer de saber que tem gente me desejando. Uma
psicóloga disse que tenho um desequilíbrio emocional. Já tentei suicídio. Minha
mãe não me entende. Choro muito por causa disso. Comecei a fazer programa com
homens pra atingir minha mãe. Ela tem muita autoridade sobre mim. Não sei se
ela sabe. Dá muitas indiretas. Meu pai é militar, somos de classe média, temos
conforto. Acho que me arrisco muito. Tem homens que são muito agressivos, muito
loucos. Me arrisco quando durmo com um desconhecido. Posso ser assassinada. Mas
toda vez que penso em parar aparece a raiva que tenho da minha mãe. Ela nunca
acreditou que eu podia ser alguém na vida, sempre duvidou de mim.
Li e reli
seu email, mas não consegui entender por que escreveu para mim. Ao menos nesse
email não há questão nenhuma. Por que será que você me escreveu? O que esperava
obter?
Parece-me
que o que te motiva seja a sedução pura e simples. Você quer ser olhada e
notada, porém não faz a menor idéia do que fazer quando consegue chamar a
atenção. Está presa no ato de seduzir e não sai disso.
A impressão
que me passa é a de que se encontra perdida num labirinto. Quer ser objeto de
desejo, seja da mãe, dos homens com quem faz programas e das pessoas em geral.
Receia não ser amada e querida. Provavelmente é angustiante viver assim, pois
você gasta muita energia procurando tanto chamar atenção que não tem mais
nenhuma energia disponível para voltar a si própria.
Chega uma
hora na vida que se faz necessário sair do labirinto, senão a vida passa e você
percebe que viveu apenas uma ilusão. A ilusão só pode ser boa se nos fizer
felizes. Esse não parece ser o seu caso. Não sei se sua mãe duvida de você, mas
sei, sim, que você deveria acreditar mais em você. Ache logo a saída desse
labirinto que você se enfiou.
Estou casada já faz quase 35 anos. Sempre fui uma esposa fiel e cumpridora de todas as tarefas do lar e nunca pedi ou exigi nada do meu marido. Casei porque acreditava que toda mulher que decide não ser freira acaba fazendo, nunca estive realmente apaixonada por meu marido. Depois de apenas 3 anos de casada descobri que meu marido me traía. Saía com outras mulheres e se divertia. Até hoje isso continua. Foram várias as vezes que já encontrei nota de motel nos bolsos das calças dele. Nunca falei nada, nunca reclamei, nunca me zanguei. Sei que ele as vezes fala que tem que viajar a trabalho, mas sai mesmo é para passear com as mulheres com quem ele sai. Já foi até para o nordeste levando mulheres e nunca me levou para lugar nenhum. Eu penso em vingança. Sei que ele é cardíaco e que um dia vai ter um piripaque. Quando esse dia acontecer vou gastar todo o dinheiro dele e caso ele fique entravado numa cama eu vou judiar bastante dele. Eu sei que isso parece mesquinho mas não consigo evitar ter esse pensamento. Só que eu sinto que tudo isso me faz mal. Queria saber relevar tudo isso, mas eu sempre me afundo nesses pensamentos. A questão é: se tudo isso pode mesmo me fazer mal?
Você
mesma já sabe a resposta à sua pergunta quando afirmou que sente que toda essa
sua atitude te faz se sentir mal. O que será que você espera ao me fazer essa
pergunta? Que eu legitime seu sentimento de vingança ou que te convença a
relevar tudo? Seria muito mais produtivo não ficar presa nem em uma ou outra
dessas alternativas, mas pensar sobre o que te acontece.
Seu
casamento não foi motivado por amor, por uma vontade de ficar junto, mas porque
você acreditava que era o que se esperava de uma mulher. Apesar de que há 35
anos o tempo era outro, assim mesmo havia outras opções além do casamento e da
vida religiosa. Porém, você optou pela passividade, em não se responsabilizar
pela sua vida e escolhas. Talvez você fosse jovem demais e não tivesse ninguém para
te ajudar a pensar diferente, mas a questão é que o tempo foi passando e você
nunca procurou mudar de posição.
Aliás,
chamou bastante atenção que você tenha usado a palavra nunca várias vezes. Você nunca viveu, nunca aproveitou nada e sente
um ódio imenso ao ver isso. Em vez de usar o ódio para te motivar a sair dessa
situação e ir em busca de outra que lhe fosse mais favorável, você se calou e
se resignou e o ódio se tornou mágoa. Mágoa nada mais é do que ódio
cristalizado e só serve para envenenar a alma. Está envenenada porque
desperdiça seu tempo fantasiando vingança ao invés de fantasiar a vida que
poderia ter.
Você
já perdeu muito tempo da sua vida: 35 anos! É preciso agora que você se
desapegue da paixão da vingança e use o ódio que sente para transformar sua
situação. Para isso vai ser preciso aprender a fazer escolhas que lhe sejam
boas e não te leve ao ódio e ressentimento. Agora é hora de você aprender a
fazer a escolha certa.
Meu
namorado revelou recentemente que é gay. Eu amo muito ele e não aceito que
nossa história não tenha significado nada pra ele. Não consigo ficar sem ele,
não vejo minha vida sem ele. Preciso ter ele de qualquer maneira. Eu tenho
tanto amor e sei que ele pode voltar a ser um homem normal, que pode se
interessar por mim. Ele insiste que não quer nada comigo e com nenhuma outra
mulher. Mas não dá pra aceitar que ele vai ficar com outro homem. Eu sinto que
tenho que reconquistar ele ajudar ele voltar a ser o que era.
O
fato de seu ex-namorado ser gay não faz com que ele não seja um homem normal.
Ele apenas tem uma orientação homossexual ao invés de uma orientação
heterossexual. A homossexualidade não torna ninguém anormal.
Ele
foi claro com você e até honesto em revelar a sua real condição. Antes ele te
enganava, talvez, até enganava a si próprio e não se sentia seguro para assumir
sua orientação sexual. Esse enredo acabou quando ele decidiu se abrir para você
e falar francamente. Você afirma que não aceita que ele é gay e que não quer
mais nada com você, quer de todas as maneiras negar a realidade, ou seja, quer
se enganar.
Cabe
você se perguntar por que valoriza a negação da realidade e também por que
insiste em algo que não levará a nada. Ao persistir num relacionamento que não
tem como dar certo, você inviabiliza a sua vida. Quer o que não pode ter e com
isso perde tempo, além de desperdiçar oportunidades de estar aberta a alguém
que realmente possa ser seu companheiro. Quem deseja o impossível fica preso à
infelicidade. Ao não abrir mão dele você abre mão da sua felicidade.
Há
também um sentimento de onipotência da sua parte de achar que pode mudá-lo.
Mais uma vez você se engana. Você não tem o poder de mudar a orientação sexual
dele e insistir nisso é pura bobagem. Todo esse seu amor por ele, se é
realmente amor, não tem poderes mágicos de transformá-lo. Em vez de gastar
energia tentando alcançar o impossível, procure se conhecer melhor para
entender porque você nega a realidade e se agarra na ilusão. Ao se entender
você conseguirá abrir mão do que ele te representa e poderá estar aberta a
relacionamentos que lhe sejam bons. Cabe a você, agora, deixar a cegueira de
lado e tomar uma decisão que lhe seja favorável.
Tenho ciúmes patológico
da minha mulher. Muitas vezes saio do meu trabalho para segui-la. Sempre acho
que ela está me traindo, consigo visualizar as cenas até. É algo que me deixa
louco e faz eu perder muitos negócios. Ganho menos dinheiro nesses últimos anos
por perder tempo em ficar seguindo minha mulher. Estamos casados há 4 anos e
ele é mais jovem e linda e sei que outros caras mexem com ela. Até agora não vi
nada que a condenasse, mas sei que ela pode ter um amante. Sinto que ela tem um
amante. Cheiro as roupas dele para saber se transou com outro. Procuro por
sêmen e por cheiros de outros homens. Só que isso tá acontecendo todos os dias
e me faz ver cenas da minha mulher transando com outro. Não sei mais o que
fazer para parar com isso. O que me diz?
Possivelmente você não percebeu, mas
cometeu dois atos falhos ao escrever seu email. O primeiro foi quando falou ele é
mais jovem ao invés de dizer ela é mais jovem. O segundo foi ter escrito cheiro as roupas dele,
mais uma vez trocou ela por ele. Os atos
falhos não acontecem à toa. Eles têm uma origem no inconsciente e são bastante
reveladores. Freud, criador da psicanálise, fez várias referências aos atos
falhos em seus textos. Eles não devem ser ignorados.
Os ciúmes usam um mecanismo chamado
projeção que é atribuir ao mundo e pessoas externas coisas internas, ou seja, a
pessoa vê fora algo que acontece dentro dela mesma. Ao atribui fora de si seus
sentimentos a pessoa se sente segura e preserva a sua autoimagem. É uma forma
de defesa psíquica.
Ao ter tanta certeza da traição da sua
mulher apesar de não possuir nenhuma evidência que te mostre isso você está
falando das suas fantasias. Ao atribuir com tanta veemência a traição dela você
se protege das suas fantasias de traição. Você consegue até imaginar as cenas
todos os dias, não consegue se livrar delas, mas isso faz pensar que o desejo
pela infidelidade seja seu, só que ao jogar nela você também tenta transferir
essa responsabilidade para ela.
Voltando ao seus atos falhos de ter
trocado o pronome feminino pelo masculino levanto a hipótese de que se trata de
um desejo homossexual reprimido. Não digo com isso que você seja homossexual,
mas parece haver um desejo que pede por entendimento. Entendimento esse que
pode ser conquistado através da análise. Ao se colocar em análise você pode ter
a chance de examinar com atenção quais são essa fantasias que permeiam sua
mente e com isso se entender melhor e não mais se enlouquecer.
Sou o pai do rapaz que
te escreveu dizendo que queria ser dançarino (09 de julho de 2011). No email dele ele disse que não queria fazer
medicina para dançar. Minha vida está um inferno e ele vive dizendo que eu sou
um impedimento para ele se realizar. E você para piorar disse que ele tem que
saber o que o faz feliz e ir atrás disso. Você o incentivou a dançar e a
abandonar a carreira médica. Acha mesmo que meu filho vai ser mais feliz pobre?
É muito fácil você falar essas coisas, mas ele não é seu filho e eu só quero o
melhor para ele e eu sei que isto passa pela medicina. Meu pai foi médico, meus
irmãos são médicos e por que ele teria que ser diferente? No início da minha vida
eu também não queria ser medico, mas depois de tanta insistência do meu pai eu
me tornei um e vi que me realizei. Ser médico é nobre e não tem profissão
melhor.
A questão não se trata se a medicina
é boa ou não. É lógico que essa é uma profissão e ciência nobre e fascinante e
com uma importância vital. Porém, a pergunta que você pode se fazer é se a
medicina é a melhor profissão para o seu filho que não a deseja. Você acha que
sim, mas essa é uma resposta que só seu filho pode encontrar.
Quando temos filhos é natural
desejarmos o bem deles e imaginar como poderia ser a vida deles. No entanto, as
coisas não funcionam dessa maneira porque os filhos são pessoas diferentes dos
pais e têm idéias próprias. Eles, melhores do que ninguém, devem descobrir o que
querem para a vida e menosprezar esse fato é se apegar à onipotência e achar
que pode controlar o desejo do filho. Cada um deve ser responsável pela própria
vida e pelas próprias escolhas.
Ao não permitir que seu filho se
descubra e se encaminhe para o que deseja, você inviabiliza o relacionamento de
vocês. Ao se impor com tanta prepotência, sem nem ligar para o que ele
realmente quer, você o afasta e o convida a te odiar. Apesar de inicialmente
você não ter desejado a medicina e hoje, aparentemente, se sentir realizado,
não quer dizer que vai ser assim com seu filho. O que será que você deseja para
ele: status ou realização? Penso que seja o primeiro e fica cego para entender
que alguém obrigado a viver contrariado é muito mais empobrecedor do que você imagina.
Você contraria a vontade do seu filho e desautoriza o desejo dele e caso
continue assim corre o risco de perdê-lo.
Seu filho é uma pessoa e você outra
e parece-me que é isso que precisa aprender a entender. Ao abrir mão da sua
onipotência você poderá enxergar seu filho como realmente é e não como você
gostaria que fosse. Que tal você trocar a paixão pelo controle para abrir
espaço para construir uma paixão por um filho que você desconhece? É capaz de
abrir mão de idéias pré-conceituosas e ver o mundo a partir de outro ponto de
vista?
Eu fico com raiva muito
facilmente. Qualquer coisa é motivo para que eu venha perder a cabeça e brigar
com quem quer que seja. Meu marido, então, se fala algo que me desagrada, eu
explodo na hora até xingando-o. não gosto mesmo de ser contrariada. Tenho uma
boa posição social e isso faz com que muitas pessoas me obedeçam e jamais me
contradigam. Mas caso alguém ouse fazer tal coisa, acaba o meu dia. Claro que
antes eu acabo com a pessoa, falando mal dela ou até brigando. Está sendo
difícil para mim dirigir no transito. Fico louca de raiva e fico imaginando que
tenho um daqueles caminhões gigantes e passando por cima de todo mundo. Estou
num estresse muito forte e minha médica falou que deveria fazer uma
psicoterapia. Mas eu prefiro resolver as coisas rapidamente, sem muitas
delongas. O que vc pode dizer sobre a raiva e como combatê-la?
Raiva faz parte da vida e é algo
natural. É impossível alguém não senti-la uma hora ou outra. A raiva,
dependendo do caso, pode até ser positiva, pois nos incita à defesa e à
sobrevivência. Porém, quando ela passa a tomar conta da vida, os problemas
aparecem.
Você está numa posição onde não
admite ser contrariada e essa é a posição em que se encontra bebês e crianças
pequenas. Eles pensam que o mundo e todas as pessoas próximas giram ao seu
redor e só existem para trazer satisfação para suas pessoas, não admitindo ser
contrariados. Com o tempo e através de muitas frustrações, que são inevitáveis,
as crianças percebem que as pessoas ao seu redor têm interesses próprios e suas
próprias necessidades. Aprende-se aí a fazer concessões e ser mais flexível.
Enfim, aprende-se a crescer e a aceitar a realidade.
Ao agir de uma maneira tão
ditatorial, você age de uma forma muito primitiva, se agarrando a uma posição
onde não se tolera a menor frustração. Quer, porque quer ser satisfeita e
dane-se o resto. Assim você até afasta as pessoas porque se torna desagradável.
Talvez por você ter uma boa posição social, como você colocou, faça com que
exista pessoas que te ature porque precisam de você ou por interesse próprio
mesmo, mas o que fica claro é que você não se mostra interessada em ninguém
além de si própria.
Ouso dizer que você preferir não
estar em terapia tenha mais a ver com você não gostar de ser contrariada do que
com rapidez de solução. Quem está em terapia é contrariada algumas vezes e é
até bom que assim seja, pois mostra que a vida real exige crescer e saber que
não se é a única pessoa no mundo que tem necessidades e urgências. Aprender a tolerar
frustrações é a melhor maneira para se desapegar da raiva que sente.
Eu vivo um
relacionamento muito bom com meu namorado. Estamos juntos há quase 1 ano e
gosto mesmo muito dele. Acredito que ele também goste muito de mim. A minha
pergunta é sobre sexo. Quando nós transamos ele gosta de falar palavrões e
coisas que normalmente ele não fala no dia a dia. Ele gosta de me bater também,
mas nada violento e que machuque, mas eu percebo que ele fica excitado ao fazer
essas coisas. Eu não sei o que fazer. Para mim isso não é fazer amor. É algo
meio que animal, algo meio grosseiro. Em alguns momentos até fico excitada, mas
depois me sinto culpada e acho que estou me rebaixando. Fico assustada com
essas coisas do sexo e não sei o que pensar. Tenho medo de fazer sexo e não
fazer amor. Será que é certo eu deixar ele fazer isso comigo na cama?
Creio que o motivo que a levou a
escrever para mim foi pedir um tipo de autorização para poder se excitar na
cama com seu namorado. Você diz que até se excita com o que ele desperta em
você quando estão transando, mas o problema é a culpa que você sente por gostar
disso. O sentimento de culpa te impede de aproveitar melhor a sua sexualidade.
A culpa transforma algo natural em
algo condenável. Esse é o seu caso, pois condena o sexo e exalta o amor como se
um fosse mau e o outro bom. Sexo também é uma parte da vida e algo
perfeitamente natural, portanto não há nada mau nele. Seu namorado se excita
com um pouco mais de agressividade no sexo e você também, por que não aproveitar
o que vocês dois gostam e viver sem culpa? Por que sujar com as tintas da culpa
algo da intimidade de vocês?
Sexo é puro instinto e emoção, é
algo primitivo. Quando você fala em fazer amor e não fazer sexo, você está
inibindo seus impulsos sexuais e os condenando. É claro que o sexo pode ter
amor, mas isso não significa que também não terá características mais
agressivas e também excitantes. Você se empobrece quando insiste em só querer
fazer amor e não querer fazer sexo.
Numa relação a dois o que vale é o
que cada um quer viver e deseja. Não existe uma coisa tal como uma cartilha do
bom sexo, do que se pode ou não fazer, isso depende da decisão das pessoas
envolvidas no ato sexual. Ao olhar para o sexo com mais naturalidade e menos
condenação você vai se permitir conhecer seus desejos e vivê-los de forma mais
tranqüila. Você não precisa da minha autorização para viver sua sexualidade e a
de ninguém mais. Pode contar com sua mente para saber o que realmente quer e
viver sem culpa.
Minha mãe está para morrer.
Ela já está bem idosa e doente e segundo as previsões médicas ela não dura
muito. Ela sempre me pediu para morrer em casa. Agora ela está no hospital e
tenho medo de trazê-la por dois motivos. O primeiro é que acho que no hospital
ela recebe cuidados profissionais e que se ela tiver um mal estar, vão saber
lidar com ela. O segundo motivo é que tenho medo de que ela morra em casa.
Tenho medo de minha casa ficar com esse estigma de que alguém morreu aqui. Ao
mesmo tempo eu queria estar mais próxima dela, mas também não consigo deixar
ela morrer aqui, já que tenho medo da morte. Tenho medo de quem está para
morrer. O que fazer nessas horas?
O
assunto da morte geralmente é tratado como tabu e nunca como algo natural.
Estamos todos sujeitos à morte e não há como evitá-la. A morte nada mais é do
que um fato natural da vida e brigar contra isso é querer brigar com a
natureza. Muitas vezes os humanos se apegam a um sentimento de onipotência e
crêem que podem controlar tudo, inclusive a morte.
Como a morte representa o
desconhecido, ela é encarada com muito temor. Tendemos a negar aquilo que não
entendemos e perde-se a chance de se aprender algo novo. Não é fácil ter alguém
conhecido e querido para morrer, mas fugir desse evento normal da vida é
descartar um momento importante.
O ato de morrer é solitário e causa
ansiedade. Sua mãe deve querer morrer em casa porque isso deve ter um
significado importante para diminuir sua ansiedade. Ficar em um ambiente
conhecido sempre nos dá mais coragem e paz, tanto que quando ficamos ansiosos e
incomodados queremos sempre voltar para nossa casa. Apesar de um hospital
contar com recursos e pessoal especializado, ele carece de fornecer o aconchego
que também é importante na vida. Principalmente para quem se encontra fragilizado.
O seu receio de recebê-la em casa
para morrer pode ser uma tentativa de querer controlar as emoções que isso te
desperta. Talvez você tenha receio de encarar a perda e elaborar o luto, bem
como de pensar na sua própria mortalidade, pois é um fato de que quando alguém
que nos é conhecido morre, nós pensamos na nossa própria morte. Nessas horas de
perda somos obrigados a ver a realidade da vida de que não podemos tudo e de
que há coisas que não estão em nosso controle. É se deparar com o fim das coisas
e aprender a usar melhor o tempo que dispomos. Apesar de tudo isso ser
trabalhoso e custoso de se elaborar, é importante que isso aconteça, para que
aceitemos a humanidade e a natureza como realmente é. Se você se permitir
aprender a olhar a vida e seus fatos com mais naturalidade, você poderá aceitar
a morte da sua mãe com mais tranqüilidade e menos medo.
Sou casada há 20 anos com um homem maravilhoso
e que amo muito. Vivemos bem e não tenho nenhuma queixa. Temos também dois
filhos lindos que nos dão orgulho. Só que há mais ou menos um ano eu encontrei
um homem por quem me apaixonei e ele por mim. Ele tb é casado e tem filhos.
Também ama a mulher dele. Vivemos um relacionamento secreto e posso dizer, sem
dúvida, que nos amamos muito. Eu não quero me separar do meu marido e nem ele
da mulher dele. Tenho medo disso que acontece porque parece errado ter um
amante, só que eu o amo e não consigo me ver longe dele. Apenas pensar em me
separar dele me faz sentir como se uma parte do meu corpo estivesse sendo amputada.
Ele também sente o mesmo. Tenho 48 anos e me surpreendi de viver, nessa idade,
um novo amor quando já tenho um. Será que estou errada? Sinto que não.
Por que você se surpreendeu por
encontrar um amor aos 48? O amor não conhece idade. Pensar o contrário disso é
desvalorizar a força do amor. Parabéns por ter a coragem de se abrir ao amor.
Muitos querem, mas poucos conseguem e o amor jamais é um erro.
Você reconhece amar seu marido e seu
amante. Ama o que tem e o que vive com seu marido e família, da qual não quer e
nem precisa abrir mão, porém também não quer abrir mão do que tem e vive com
seu amante. Com um você vive a vida familiar e o amor seguro, com o amante você
tem o amor que te rejuvenesce e te encanta a vida. Você me diz que os dois lhe
são importantes.
Está numa posição onde os dois são
desejados e abrir mão de um é uma perda que você não tolera. Caso opte por
abandonar o marido, deixará de ter o amor que vive com ele e o que ele te
significa. Caso seja o amante o abandonado, sente que perderá uma parte do seu
corpo. Isso acontece porque quem ama não consegue se ver longe do amado, só
quer ficar junto e a separação é quase como a morte. A agravante no seu caso é
que você ama dois e não um e se pergunta se está errada. Você não quer e talvez
nem precise perder nenhum.
Talvez o caminho que lhe seja
possível é o de viver os dois relacionamentos juntos e sem culpa. Digo isto
baseado na sua fala de que ama os dois, não quer se separar de nenhum e de que
não se sente errada. As duas únicas pessoas no mundo que poderia ter o direito
de dizer algo é o seu marido e a mulher do seu amante, mais ninguém. No
entanto, se para vocês é possível viver o amor oficial e o amor clandestino
conjuntamente é preciso que façam isso sem culpa e em paz. Há varias formas de
amor e várias maneiras de amar. A vida é realmente surpreendente.
Tenho
26 anos e até hoje tive 04 namorados, mas tem uma coisa que as vezes me
incomoda. De forma geral sou muito sensata e equilibrada, mas as vezes acho que
devo ser fria demais. Nunca senti aquele frio na barriga ao conhecer alguém,
nunca passei o dia todo com uma pessoa na cabeça, nunca agi de forma melosa e apaixonada,
aliás, tenho a impressão de que nunca fui emocional assim, enfim nunca senti o
tipo de amor tão comum em todos os lugares. Sim, me dou muito bem no meu
relacionamento atual e ficaremos noivos, nos entendemos muito bem em
todas as áreas, ele me faz rir, cuida de mim, temos uma química boa e tudo isso
é recíproco. Mesmo assim ainda fico em dúvida sobre o assunto, será que eu amo
e não percebo? Será que eu criei uma imagem idealista de amor, não percebendo o
que sinto por estar preocupada demais em sentir o que aparentemente todos
sentem? Ou será que de alguma forma sou muito racional e pouco emotiva? Pra
completar isso não gira apenas sobre meu relacionamento, ainda moro com os meus
pais e tenho a mesma sensação. Tenho um ótimo relacionamento com minha mãe, mas
não consigo sentir a ausência dela como qualquer outra pessoa sentiria, um
exemplo disso é que nesse último final de ano ela ficou quase 02 meses fora, e
sendo bem honesta não senti saudades, em casa era como se tudo tivesse normal.
Lembro que uma vez até desabafei com uma amiga a respeito e acabei chorando,
porque realmente me sinto culpada, é como se eu não tivesse sentimentos. Sei
que não devo ser tão insensível, então porque será que sou tão diferente das
outras pessoas? Será que é egoísmo?
Obs: Não sei se faz diferença ou não, mas passei por um trauma de infância envolvendo meu pai, para ser franca até hoje isso me faz mal, e na verdade nunca contei a ninguém. Mesmo assim levo uma vida normal e me sinto tranquila nos meus relacionamentos.
As pessoas são diferentes uma das
outras. Nem todas reagem e sentem da mesma maneira. Por que será então que você
se preocupa em se encaixar num modelo? Será que você procura por segurança ao
querer se ver “igual” às outras pessoas? Só podemos ser nós mesmos.
Não há nada demais em não ser tão
emotiva. Não são todos que sentem o frio
na barriga que você mencionou e isso não é indicativo de frieza e nem de
insensibilidade. Sua mãe ficou fora por dois meses, e daí? Só porque não chorou
de saudades significa que a ame menos? Não existe um padrão de como as coisas e
sentimentos têm que ser. Cada um tem sua história e suas características.
No entanto, a questão a ser pensada
é que tudo isso parece, que de alguma forma, te incomoda. O fato de não se
sentir emotiva não tem problema algum, mas o fato de se incomodar com isso sim.
O título do seu email para mim foi: Racional
demais? E com esse título você mesma está se colocando em dúvida, está
duvidando desse seu jeito. Em outras palavras, você está se perguntando se você
é desse jeito ou se está desse jeito.
Se está desse jeito, racional demais, será que é uma defesa? Será que
você se defende de sentir algo? Ao final de seu email você dá a dica que isto
pode sim ter alguma relação com esse trauma de infância envolvendo seu pai.
Pode descobrir mais sobre isso e com mais certeza caso resolva se debruçar
sobre sua história de vida e entender esse trauma que até hoje te faz mal. Tem
muito a ganhar com um profissional que te ajude a se escutar e a trazer um
significado para as suas indagações, pois senão ficará em suspense e sem se
entender. Assim poderá ter a chance de fazer as pazes consigo. Não perca tempo
e vá em busca de suas respostas.
Eu
sonho muito de noite e queria saber mais sobre a interpretação dos sonhos.
Sonho frequentemente com um gato preto em cima do meu telhado e que quero pegar
esse gato a todo custo. O que será que significa? Segundo algumas pessoas
sonhar com gato preto nunca é algo bom. Comprei esses dias um manual dos sonhos
e fala que gato preto pode significar coisas ruins. Como se interpreta sonhos
corretamente. A psicanálise trabalha com sonhos, não é mesmo?
A vida onírica, ou seja, os sonhos têm uma grande
importância para a psicanálise. Freud foi o primeiro pensador que tratou os
sonhos cientificamente sem ligar para a crença popular de que se tratava de
algo místico ou para a crença científica da época que via os sonhos como
produtos psíquicos sem sentido algum. Para ele os sonhos são comunicações da
mente inconsciente.
Sobre o que o seu sonho significa não faço idéia, pois a
interpretação dos sonhos não se dá magicamente, mas se trata de um trabalho que
exige do analista e do paciente. O conteúdo dos sonhos de uma pessoa tem
significado único e exclusivo para aquela pessoa, precisando então que você
faça suas associações com o sonho que teve. Nessas associações livres o
significado do que o sonho representa para você pode ser captado e entendido.
Numa análise o paciente tem participação ativa no processo de interpretação dos
sonhos, já que se trata de uma comunicação da mente dele.
Não existe manual dos sonhos. Isso é pura bobagem já que
não se trata de colar um significado à uma imagem, mas de se procurar o
significado daquela imagem para aquela pessoa que sonhou. O gato preto do seu
sonho não tem um significado em si, porém tem o significado inconsciente que
sua mente deu a ele e esse significado não vai ser encontrado num manual, mas
através da sua fala, porque só assim o significado vai poder ser revelado.
Talvez, ao me escrever esse email, você esteja mostrando
interesse em entender mais sobre seu psiquismo. Talvez você deseje estar em um
processo analítico onde vai poder contar com a ajuda de um analista para te
ajudar a entender sua mente e com isso entender a si mesma. Interesse por seus
sonhos, que são produtos mentais, você já tem. Quem sabe o que não lhe falte é
investigá-los com mais propriedade?
Sou
psicóloga recém formada aqui do estado da Bahia. Faço um grupo de estudo que
tem seminários clínicos onde somos convidados a expor nossos casos. Eu já
contei meus casos algumas vezes e toda vez me senti mal. É que todo mundo dá palpite,
todo mundo parece saber melhor do que eu a situação clínica. Depois que
apresento os casos eu fico muito mal mesmo. Desamparada. Me sinto a pior das
psicólogas . Ao mesmo tempo eu fico com raiva dessa gente toda que critica meu
atendimento. Fico com raiva porque se eu fosse seguir o conselho de todo mundo
eu não conseguiria fazer nada, já que muito deles são contraditórios. Gosto
muito da clinica mas é tão difícil... e tenho medo de me expor aos outros
profissionais. O que posso fazer?
Os seminários clínicos são situações onde ao se expor um
caso todos os demais são convidados a dar suas opiniões. Isso tudo pode ser
muito enriquecedor para a pratica clínica, já que o psicoterapeuta que está
atendendo o caso pode ouvir outros pontos de vista que podem ser
esclarecedores. Porém, nem tudo é rosa. Expor-se nunca é fácil e pode gerar
conflitos.
Nem todas as opiniões são coerentes e muitas pessoas
apenas falam não porque têm alguma contribuição de fato, mas porque desejam
aparecer. Muitos profissionais usam esses seminários e encontros apenas para
obter uma audiência para se exibir. É importante que você saiba filtrar o que
você escuta e separar aquelas críticas que podem realmente te ajudar daquelas
que não te servem.
No entanto, a sua queixa revela que você não sabe lidar
bem com críticas. É claro que ninguém gosta de receber críticas, mas é importante
saber lidar com elas de uma forma mais madura, não ficando tão vulnerável a
elas. Você não deve usar o seminário clínico para afirmação da sua atuação na
clínica, mas como um lugar onde pode aprender. Caso só queira ouvir elogios à
sua performance, você deixa de aprender e se enriquecer. E como psicóloga recém
formada é claro que tem muito que aprender. Até os mais experientes sempre têm
muito o que aprender, ninguém nunca está pronto.
O trabalho na clínica é encantador e gratificante, mas
precisa-se de muito trabalho, estudo e empenho. Para trabalhar na clínica é
também necessário aprender a tolerar as frustrações, que nesse trabalho são
muitas. Para isso é vital que você trabalhe o desenvolvimento da sua própria
mente, afinal a sua mente é o seu instrumento de trabalho e quanto mais você se
conhecer mais isso te dará respaldo para ajudar a um outro a se conhecer. Por
isso que existe a recomendação do psicoterapeuta se submeter a uma
psicoterapia. Aprendendo a se ouvir, vai te possibilitar a ouvir os outros,
incluindo aí seus colegas de seminário.
Sou
um profissional reconhecido pelo meu vasto conhecimento. Trabalho como
professor universitário de uma boa universidade e tenho muitos títulos. Para
mim a vida acadêmica é parte do meu ser e não consigo me ver longe dela. Gosto
de saber e receber reconhecimento por isso. Você pode até me chamar de
arrogante, mas para mim quem não tem algum titulo de mestrado ou doutorado não
vale nada. Para mim, é impensável alguém viver sem passar pela vida acadêmica e
é aí que vem o problema. Tenho um filho que incentivo a estudar e ele
corresponde e não tenho dúvidas de que ele se sairá muito bem, só que meu filho
mais novo tem síndrome de down. Ele tem três anos e até hoje não consigo
engolir esse fato. Para mim é algo até embaraçoso ter um filho que tem limites
e que não seguirá uma vida acadêmica. Um filho, sei que vocês psicólogos não
gostam desta palavra, que é retardado. Minha mulher, que também é uma
professora universitária de sucesso, quer se divorciar porque não consigo ver
essa criança como filho. Ela que insiste que eu procure ajuda, mas não creio
que a psicanálise seja uma ciência verdadeira. Não há nenhuma prova científica
que demonstra que alguém pode se beneficiar de um processo analítico. Só escrevo
pois minha esposa insistiu muito, mas não acredito no que possa ajudar.
Entendo que o pedido de ajuda do seu email vem da sua
esposa e não de você. Talvez ela tenha esperanças que eu encontre palavras que
possa te humanizar e vir a aceitar e até gostar desse filho. Porém, você passa
a idéia de que não é capaz de ouvir quem quer que seja, a não ser você mesmo.
Afinal, você parece saber tudo.
Contei quantos “para
mim” você escreveu em seu email: exatamente quatro. Alguém ter orgulho das
próprias conquista e títulos é algo bom e saudável. O orgulho não precisa ser
necessariamente negativo, mas o que você sente não pode ser chamado de orgulho.
Pode ser chamado de narcisismo, ou seja, no seu entender só existe você, os
seus interesses, suas necessidades e suas frustrações. Os outros, são vistos
por você, apenas como objetos. Você encara seus filhos e pessoas em volta como
objetos para alimentar a sua imagem narcísica.
Sua mulher não agüenta mais tanta frieza e deixou claro
que deseja o divórcio e mesmo assim você continua insensível aos apelos dela.
Possivelmente, este é um casamento fadado ao fracasso. Não te importa as
pessoas, apenas as imagens que elas passam. Você vê seu filho com síndrome de
Down como um ataque à sua autoimagem. Ele não será aquilo que você deseja, ele
será aquilo que ele pode ser. Mesmo o seu outro filho que não tem síndrome de
Down também só será aquilo que puder vir a ser. No entanto você acha que tem o
poder de decidir o destino de todos.
Como um professor com tantos títulos e conhecimento você
não deve desconhecer o conceito de hybris
dos antigos gregos. A hybris é um
sentimento, geralmente sobre si mesmo, que passa da medida e se torna
insolente. Na mitologia a pessoa tomada pela hybris era sempre punida pelos deuses. Claro que nenhum deus irá
vir te punir, isso você mesmo já faz. Pune-se ao se impedir de viver
relacionamentos verdadeiros, sendo que o que enriquece a vida são os
relacionamentos. Se acha que ser uma pedra é melhor do que ser um homem, está
no caminho certo. Quanto ao seu filho que tem síndrome de Down ter limites,
você consegue me dizer alguém que não os tenha? É uma pena que conhecimento não
torna ninguém mais sábio.
Eu
sou gay e estou muito interessado em um cara amigo meu que tem no meu trabalho.
Ele sabe que sou gay e aceita numa boa tanto que é meu amigo e até já saímos
juntos. Ele não tem namorada e como estou interessado nele acho que eu devia
dar em cima dele. Ele disse que não é gay, mas por que não tem namorada ou não
sai com mulher então? E por que é meu amigo se sabe que sou gay e sabe que me
interesso por homens? Acho que ele tem medo de se assumir. Quero dar em cima
dele, mas como posso fazer isso de forma que ele entenda? Que ele aceita a sua
homossexualidade?
Em primeiro lugar você não sabe se ele é homossexual.
Isto é um pensamento seu, mas pelo que você disse você não tem nenhum indício.
O fato dele não ter namorada ou de até não sair com mulheres não significa em
absoluto que ele tenha uma orientação homossexual. Há várias possibilidades
para explicar isso que não seja a homossexualidade.
Em segundo lugar mesmo que ele fosse homossexual e não
conseguisse se assumir não cabe a você decidir isso por ele. Esta só pode ser
uma decisão dele e no tempo dele e qualquer atitude que você tome para apressar
isso você corre o risco de violentá-lo. Caso ele seja homossexual ou não e você
tente dar em cima dele há a
possibilidade de perder o amigo.
Você tem uma visão preconceituosa sobre um heterossexual
ser amigo de um homossexual. Acha que se isso ocorre é porque há algum outro
interesse, porém é perfeitamente possível haver apenas o sentimento de amizade
sem nada mais. A mesma coisa pode acontecer com um homem e uma mulher. Eles podem
ser só amigos e não haver nada sexual na relação. É fato que a visão
preconceituosa estraga muitas coisas boas.
A verdadeira amizade não vê orientação sexual, credo, cor
e nenhuma outra característica que tipifica uma pessoa. O amigo simplesmente vê
a pessoa que o amigo é. Antigamente, com muita freqüência, as diferenças nas
orientações sexuais separavam as pessoas. Não havia muito espaço para aceitar
as diferenças e só se podia se relacionar com quem fosse parecido e tivesse os
mesmos interesses. Apesar de isso ainda acontecer, hoje há muito mais formas de
se relacionar fazendo com que a amizade possa se tornar mais ampla, verdadeira
e menos preconceituosa.
Na
minha família nunca fomos alegres. Nem mesmo em ocasiões festivas. Tudo era
levado muito a sério e rir ou sorrir estava fora de cogitação. Até hoje isso é
assim com meus pais e irmãos. Hoje, depois de formada, estou morando em uma
outra cidade e não vivo com minha família. Mesmo assim me sinto triste. As
pessoas me acham muito séria e alguns acham que estou sempre brava e com cara
feia. Não sei mesmo rir. Perceber isso é estranho. Os outros conseguem rir de
boca aberta e são bem mais espontâneos, já eu no máximo apenas esboço um
sorriso tipo da Mona Lisa mas sem mostrar nada mais. Não sei se sou feliz.
Quando criança eu lembro que quando eu sorria ou algo assim meus pais ficavam
bravos e me repreendiam. Será que é possível eu sorrir normalmente, sem sentir
vergonha e sem me achar feia?
No romance O Nome
da Rosa de Umberto Eco dois monges de opiniões contrárias têm uma violenta
discussão sobre o riso. Para um deles o riso é demoníaco, pois deforma as
feições do rosto deixando o ser humano parecido com um animal e que o riso mata
a fé já que pode ridicularizar as coisas. Já para o outro monge o riso era
próprio da inteligência humana e mostra refinamento de espírito e cita o
exemplo de São Francisco de Assis como um santo que usou da comédia para atrair
pessoas e mostrar um lado mais leve da religião.
Na sua família o riso foi tratado negativamente e com
isso impediu abrir espaço para a espontaneidade. É como se todos devessem viver
um papel sério e jamais viver o que realmente queriam. Mas quem disse que o
riso também não é sério? A boa risada significa se entregar a um sentimento de
prazer e isso é coisa séria.
Não rir e impedir o riso é repressão e quem vive se
reprimindo não se permite ser feliz. Quando você se pergunta se lhe é possível
rir sem sentir vergonha e sem achar isso feio você se questiona se consegue ser
se sentir feliz sem que isso lhe seja proibido. Felicidade, tal como o riso,
ficou para você barrado, sem possibilidade de acesso.
Falta mais informações para entender porque para a sua
família o riso e a espontaneidade se tornaram tão mal vistas, mas isso é algo
que você pode descobrir ao analisar a sua história de vida e a história da sua
família. É importante você se submeter a uma análise para compreender o que se
proíbe ao se proibir o riso e com isso se livrar dessa atitude e adotar outra
que permita que você ria, sem repressões, quando tiver vontade para tanto.
Concordo com o segundo monge que citei acima. Rir é prova de inteligência
porque significa aproveitar melhor o que há de bom na vida e não é motivo de
vergonha.
Meu
filho tem 9 anos e é um menino encantador. É meu único filho e tenho grande
amor por ele. Meu marido e eu estamos brigando muito ultimamente por causa do
jeito dele e eu sempre perco porque meu marido é mais forte nos argumentos. Meu
marido acha que nosso filho é muito “delicado” e que isso pode trazer problemas
para ele no futuro. Ele quer que ele seja mais agressivo e se comporte mais
como um menino. Não que ele faça coisas de menina, mas ele comparado com outros
meninos de sua idade é bem mais sossegado. Ele não gosta de esportes agressivos
e nem é dado a valentão. Meu marido queria que ele fosse assim e fica zangado
com ele toda a hora, dizendo para parar de ser fracote. Meu marido também diz
que ele é assim, mais “delicado” por que é filho único e eu o mimo demais, mas
eu não acho isso. Lógico que eu cuido dele e tenho amor, mas eu não mimo não.
Pelo menos é o que eu acho. Meu marido quer colocar ele para fazer alguma luta
mas ele disse para mim que quer estudar violino. Se meu marido sabe disso aí
ele vai ficar muito bravo. Não sei o que faço.
Por que colocar delicado
entre aspas? Não há nada demais na palavra delicado
para ser usada desta forma, como se indicasse uma vergonha. Entretanto, creio
que você quis se referir a efeminado ao usar a palavra delicado, porém é importante saber que há uma diferença entre ser
delicado e ser efeminado.
Nem todos os meninos são iguais. Cada um tem suas
características próprias. Tem-se a idéia equivocada de que os meninos devem ser
agressivos e gostar de coisas agressivas, mas isso é puro estereótipo e não
ajuda em nada. Um menino não adotar as atitudes mais agressivas presentes em
outros meninos é perfeitamente natural, mas isso muitas vezes não é aceito e
visto como se fosse indicativo de que o menino pode se tornar homossexual. Preconceito
só gera ignorância e estupidez.
Provavelmente seu filho tem um lado artístico mais
aflorado e se encanta com coisas que seu marido não entende e julga
inconveniente. A sensibilidade do seu filho incomoda seu marido que quer que
ele seja quem ele não pode ser. Ao insistir que seu filho tenha atitudes que
ele não pode ter, seu marido o agride e pode contribuir para uma baixa
autoestima no desenvolvimento dele.
Chama a atenção que você dá ao seu marido uma posição de
autoridade. Ele decide o que é aceitável e cabe a todos vocês acatarem. Por que
será que precisa ser assim? Por que você não tem uma voz mais ativa em sua casa
e nos assuntos da sua família? Talvez por ser delicada demais você se submeta a
tudo com muita facilidade. Você confunde delicadeza com fraqueza. Existe uma
força na delicadeza que você desconhece e ao descobri-la e fazer uso dela vai
poder mostrar ao seu marido que a delicadeza não significa fragilidade. Para
ajudar seu filho você precisa primeiro compreender isso.
Tenho
27 anos e namoro um homem de 30. No inicio do nosso relacionamento estava tudo
flores e por causa do meu encantamento (ele é meu primeiro namorado) eu não via
determinadas coisas. Agora passado um ano eu começo a ver coisas que estão me
desagradando. Ele é alcoólatra e está cada vez pior. Ele bebe muito e de tudo e
nega que seja alcoólatra. Ele acha que consegue parar quando quiser, mas não é
isso que tenho visto nele. Antes era de sexta a domingo e agora é quase todos
os dias e quando ele não bebe ele fica muito chato. Só que qdo ele bebe ele tb
fica chato e está começando a ficar violento. Semana passada ele me bateu pela
primeira vez e isso me assustou. Ele pediu desculpas e disse que isso jamais
iria acontecer de novo. Falo com ele, sou carinhosa, tento ser compreensiva,
mas nada adianta e o faz mudar. Não quero parecer uma mulher que o abandona na
pior fase da vida dele, mas está difícil agüentar. Mas não sou má e nem
mesquinha, mas só quero que ele melhore. Como posso ajudá-lo de fato?
Quem está viciado em drogas, seja ela qual for, tende a
achar que tem tudo sob controle e se engana. Conforme o tempo vai passando o
vício se acentua, mas para o viciado é como se tudo estivesse normal, apesar
das pessoas ao redor começarem a dar sinais de alerta. O viciado se apega à
onipotência e não reconhece o seu problema terminando por adiar ainda mais uma
mudança de atitude. Provavelmente seu namorado nega que tenha um problema e por
isso mesmo não procura por uma mudança.
A complicada situação em que você se encontra é que você
já percebeu que ele tem esse problema com o álcool, mas ele não. Ele prefere
acreditar que nada está acontecendo e com essa atitude irresponsável vai se
afundando e te convida a deixar esse problema de lado e não mais pensar sobre
ele. Ainda bem que você não caiu nessa estória e está procurando pensar.
O problema é que para alguém que está viciado se
recuperar depende muito dele mesmo. Por melhor e mais acolhedora que seja as
tentativas de fazê-lo mudar, elas são ineficazes se não encontram dentro dele
esse desejo por se recuperar. É difícil agüentar quando você está empenhada em
ajudar e dar o seu melhor e o outro ignora isso. Você sente que está dando
murro em ponta de faca. Tenta ajudá-lo e sai machucada.
Você diz que o está ajudando, portanto não há porque se
sentir mesquinha. Ninguém pode tudo e você vê que há limites para o que você
pode fazer. Não exija demais de você mesma, afinal, você é humana. Se ele não
mudar provavelmente você se desinteressará desse relacionamento e é importante
deixar isso claro para ele. Por pior que seja esse momento na vida dele é vital
você mostrar que ele tem responsabilidades para com ele mesmo e para com esse
relacionamento. Caso você se faça permissiva além da conta ele pode se acomodar
e você se verá numa relação infeliz. Não tenha receio de cuidar da sua vida e
de seus interesses.
Meus filhos quando estão com muita raiva (porque eu os mando para o banho e atrapalha, ou fazer alguma tarefa, ou separo a briga dos dois e dou castigo, como não ver TV, ou não poder jogar), pegam as armas de brinquedo, miram e atiram em mim. Sem parar. Se for “metralhadora”, que eles não têm, mas fingem ter, melhor. A pergunta é: Eu os proíbo de fazer isso e como? Ou eu ignoro e volto a tocar no assunto novamente só quando eles estiverem menos revoltados?
Na hora em que eles estão permeáveis e amorosos, digo que não
quero mais que finjam me matar, e eles concordam um pouco envergonhados, mas na
hora da raiva, não resistem.
O que te mobilizou a fazer esta pergunta foi o fato de
que você fica triste e magoada com essa reação dos seus filhos. Além disso,
você fica assustada quando eles têm uma demonstração obvia do ódio que sentem
quando você os frustra de alguma forma e talvez pense que poderia haver algo de
errado no relacionamento de vocês.
Melanie Klein, grande psicanalista e fundadora da
psicanálise infantil, percebeu que as crianças podem odiar com bastante
intensidade e agredir (principalmente em fantasia) a mãe quando se encontram
frustradas. É que as crianças projetam na mãe toda a frustração que sentem e a
responsabilizam pelo desprazer que a dominam. Até acreditam que a mãe causa
esse desprazer todo propositalmente e por isso sentem esse impulso de atacá-la,
acabar com ela e se ver livre do incômodo.
Quando você chama a atenção dos seus filhos, cobra deles
ou os castiga, eles ficam com uma baita raiva e demonstram isso fantasiando te
aniquilar. Mas você está no seu papel quando exige deles. A mãe precisa, uma
hora ou outra, frustrar os filhos, para que eles aprendam e se eduquem. Deixar
os filhos soltos e permitir que não tenham nenhuma responsabilidade não os
ajudaria em nada, pois daria a falsa impressão de que tudo se pode.
Não há nada de errado em seus filhos terem essa fantasia
de te matar. Nos contos de fadas sempre existe a figura da madrasta que é
sempre morta no final para depois haver um reencontro com a mãe. A madrasta
nada mais é do que esse lado da mãe que todos nós gostaríamos de matar para
ficar com aquela mãe que dá carinho e que se ama. Aceite que ser mãe é em certa
medida ser a madrasta, ou seja, odiada, mas pode deixar claro a eles que mesmo
estando bravos e com raiva, assim mesmo, terão que te obedecer. O tempo é o seu
melhor aliado.
Sou
meio maluca. Me entrego a tudo o que eu sinto de corpo e alma, sem nenhuma
restrição. Falo o que eu quero, faço o que eu quero, fico com quem eu quero. Me
sinto parecida com aquela cantora Maysa que era muito passional e jamais se
reprimia. Só que viver assim as vezes me causa mal. Eu acabo ofendendo as
pessoas e dizendo o que eu não devia. Prometo coisas no calor do momento e não
cumpro depois. Começo a namorar um e já estou pensando no próximo que vai vir.
Enfim, sou pura emoção. Tenho medo de reprimir tudo isso e ficar sem sal, perder
a graça. Não sei o que fazer.
Ser
uma pessoa passional é ser uma pessoa impulsiva. O problema é que se entregar à
impulsividade, sem nenhuma restrição, pode trazer muitos dissabores, como você
bem sabe, já que parte para a ação sem pensar nas conseqüências dos seus atos.
Viver assim pode ser extremamente prejudicial.
Você
citou a cantora Maysa e se sente como ela: passional ao extremo. Vale lembrar
que a Maysa pagou um preço muito alto por sua impulsividade sem limites. Ela
machucou muitas pessoas que amava e se colocava frequentemente em situações de
risco. Acredita-se que sua morte, num acidente de carro e aos 40 anos, tenha
sido resultado de uma mistura de excesso de álcool e remédios. É assim mesmo
que você quer viver?
A
impulsividade tem a ver com irresponsabilidade. É não querer assumir
compromissos. Quer tanto abraçar o prazer e afastar o desprazer, que a
responsabilidade sempre traz uma dose, que se esquece que nem tudo pode e deve
ser feito.
Agora
você confunde repressão com contenção. Você acredita que precisa se reprimir
quando na verdade precisa aprender a se conter. A contenção se trata de não se
deixar dominar e cegar pelas emoções, mas usar sua mente para pensá-las. Quem
aprende a se conter não se torna sem graça, mas sabe dosar as emoções com a
razão de forma harmônica e saudável proporcionando viver uma vida melhor.
Não
consigo me relacionar com nenhum homem. São todos apagados e sem graça quando
eu os comparo com meu pai. Meu pai é forte, bonito e sedutor. Era o homem que
eu queria para mim. Queria me interessar por outros homens, mas sempre
fracasso. Só tenho olhos para o meu pai. Quando saio do banho sempre fico nua
na frente dele ou as vezes me enxugo ficando de costas pra ele, mostrando
minhas costas que me falaram que são lindas. Sempre espero que ele fale algo ou
se manifeste, mas até agora nada. Minha mãe fica brava e com ciúmes, mas ela
não tem nada a oferecer pra ele. Ela já esta feia e velha e eu estou na flor da
idade. É tão errado assim desejar o próprio pai?
A
fantasia do incesto é mais comum do que se imagina. Porém, você está além da
fantasia porque está tentando seduzir seu próprio pai. Você está se pervertendo
e desejando perverter seu pai, ou seja, é uma loucura total.
Na
vida nem tudo podemos e o incesto é uma dessas barreiras, tanto que em todas as
culturas o incesto é barrado e visto como um grande tabu. Se perverter é negar
os limites e achar que pode tudo e que a única coisa que conta é o desejo e o
prazer. Você está jogando um jogo trágico.
Não
sei qual é a sua idade, mas posso dizer com toda a certeza que está numa
posição infantil porque deseja o pai e ninguém mais além dele. Quer o olhar do
seu pai, quer conquistá-lo, seduzi-lo e deixa-lo preso a você. Isso ocorre com
uma menininha pequena e conforme essa vai crescendo ela percebe que o pai não
se pode ter e assim ela se permite se interessar por outros homens.
Você
nega o seu limite, rebaixa e põe sua mãe de lado e espera conquistar o lugar da
sua mãe frente ao seu pai. Não só quer seduzir o próprio pai como quer vencer a
própria mãe. Você joga um jogo de sedução fatal e que certamente te levará e a
sua família à tragédia. No filme Pecados
Inocentes (2007, EUA) conta-se a história real de uma mulher que seduz o
próprio filho e as tragédias que advieram desse ato de loucura. Procure se
tratar. Nada de bom pode vir da realização do incesto.
Estou
triste e sem esperanças com os homens. Esse já é meu terceiro namoro que
termina pelos mesmos motivos. Todos os
homens com que me relaciono são fracos, bebem além da conta e nunca estão
presentes na minha vida. São todos assim. Fico me perguntando porque só
encontro homens assim ou se todos os homens são assim? Acho que no fundo os
homens são fracos e não dão conta de suas mulheres como as pessoas acreditam. Sempre
quis um homem que fosse forte, mas acho que eles não existem. Nós mulheres
temos que ser realistas e ver que os homens são bebês chorões. Só podemos contar conosco apenas. Não sei
mais o que esperar deles.
Quando
algo começa a se repetir é melhor parar para refletir sobre o motivo dessa
repetição. Esse é o seu caso. Talvez você possa se ajudar se você se fizer a
pergunta certa: o que será que você espera dos homens?
Você
diz em seu email que espera que eles dêem conta de você, mas o que seria isso?
Um homem que cuidasse? Um homem que resolvesse sua vida? O que é esse dar conta
a que você se refere? Ao responder essas perguntas uma direção poderá surgir.
Agora
esses seus três namoros que fracassaram não foi uma coincidência. Você os
escolheu, inconscientemente é claro, mas eles foram uma escolha sua. Cabe-lhe
descobrir porque você priorizou homens que te levaram a reclamar. Por que você
impossibilita seus relacionamentos fazendo más escolhas?
Como
vê há muitas perguntas a serem respondidas, mas que são vitais para você parar
de se repetir e encontrar um caminho para ter um bom relacionamento. Com a
ajuda de um analista que saiba te escutar você poderá descobrir, na sua
historia de vida, a origem dessa repetição e se libertar dela para construir uma
outra historia. Poderá até a aprender a desejar a pessoa certa para você. Não
perca tempo em reclamar da sua situação, mas dedique-se a se conhecer melhor
Sofro
de ejaculação precoce. Muitas vezes nem inicio a relação sexual e já ejaculo, o
que termina por me frustrar muito. Não sei o que me acontece. Tenho já 29 anos
e no passado não era tanto assim. Já fui a dois urologistas que me disseram que
está tudo certo no meu corpo, mas que deve ser um problema emocional. Não
entendo que problema emocional seria esse já que está tudo bem na minha vida
fora esse problema. Ele me indicou um psicólogo, mas tenho receio de ir em um e
ter que falar. Não gosto disso e nunca foi assim que resolvi meus problemas.
Você acha que a ejaculação precoce pode mesmo ter raízes emocionais?
A
ejaculação precoce é o problema sexual masculino mais ouvido pelos especialistas
e traz muitas angústias. Entende-se por ejaculação precoce quando o homem não é
capaz de controlar a própria ejaculação e ejacula antes do tempo que gostaria.
Os
médicos lhe disseram que não há problema orgânico nenhum e desconfiam que um
problema emocional possa estar por detrás disso, coisa essa que você não
acredita muito. O corpo e a mente funcionam juntos e um pode interferir no
outro facilmente. Ao não aceitar isso, você nega que exista uma vida mental que
pode estar interferindo na sua qualidade de vida.
Será
que você tem medo de se abrir? Porque quem vai a um psicoterapeuta se abre e,
muitas vezes, descobre coisas que antes nem mesmo suspeitava. Entendo que você
tenha receio, pois o desconhecido, mesmo que seja o nosso próprio, sempre causa
apreensão.
Mas
a questão é se você pode se abrir para essa experiência e ver no que dá ou
continua a carregar esse problema. Talvez ao se abrir você entenda o significado
emocional da sua ejaculação precoce e do por que ela existe, poderá encontrar
meios para se libertar e viver uma sexualidade mais satisfatória. Há muitas
razões inconscientes que podem atrapalhar a vida e descobri-las é a melhor
maneira de não ficar tão vulneráveis a esse desconhecido que gera sintomas
desagradáveis. Cabe se decidir se aceita pagar o preço por conhecer sua mente.
Estou
numa confusão total. A mulher que sempre pensei que fosse minha mãe não é minha
mãe e minha irmã que sempre pensei que fosse apenas uma irmã é minha mãe de
verdade. Meu pai é agora meu avô e meu pai de verdade é casado com uma prima
minha. É tudo muito confuso, sinto me desfazer ao vento. Tenho 20 anos e soube
de toda essa história agora em setembro passado. Não sei mais o que pensar.
Minha família me enganou todo esse tempo. Minha irmã, que é minha mãe, tinha 16
anos quando me teve. Como a acharam nova demais ficou combinado que meus avós
iriam passar por meus pais. Numa briga de família tudo foi revelado e agora me
sinto perdida. Sem mãe, sem pai, sem nada. Não sei mais o que pensar.
É
realmente confusa e delicada a sua situação, tanto que para entender o seu
enredo familiar tive que ler seu email várias vezes. A história contada para
você não corresponde a realidade, ou seja, você vivia uma historia fabricada.
Isso é de deixar qualquer um perdido e confuso.
Não
só tudo isso é bem confuso, como também tem um agravante; você foi enganada e
lhe foi roubado conhecer desde o inicio a sua história. É que nossa história
serve para nos construirmos, nos dar um lugar no mundo e com isso desenvolver
uma identidade. Isso tudo lhe foi tirado e oferecido no lugar uma mentira e
hoje você se sente se desfazer.
É
totalmente compreensível você estar perdida. Agora você se vê na necessidade de
contar sua história para que possa entendê-la e criar um novo espaço para você.
É muito duro e difícil ver que tudo que você pensava e acreditava teve uma
reviravolta que te deixou sem pontos de referência.
Fica
claro que na sua família ninguém seguiu um papel real, ou seja, ninguém sabe
que lugar ocupa. Sua mãe é sua avó e sua irmã é sua mãe, fazendo com que todos
os membros da sua família não saibam propriamente quem são de fato. Um pega o
lugar do outro, outro assume uma posição que não é a dele e por aí vai. Resta agora
juntar os cacos de sua história para você se reconstruir. É preciso que você se
dê uma identidade. É um trabalho longo e penoso, mas que lhe é vital para se
sentir em paz.
Tenho
25 anos, não sou dependente de ninguém pois tenho o meu trabalho, mas tem algo
que me incomoda muito. Um ano atrás eu me apaixonei por uma garota e ela por
mim. Ficamos namorando quase um ano, mas hoje estamos separados. O que motivou
a separação foi minha família que não a aceita porque ela é negra. Meu pai não
parava de repetir que eu podia arranjar alguém melhor e que ela era feia,
grosseirona. Minha mãe não falou nada diretamente, mas sempre se incomodou com
o fato de eu estar com uma negra. Meu irmão caçoava de mim pelas costas, fiquei
sabendo. A pressão foi tanta que acabei cedendo e desisti do relacionamento. Só
que hoje não estou feliz. Eu ainda a amo e quero ficar com ela. Lembro dela
todos os dias e fico triste por não estarmos perto um do outro. Será que é
possível esquecer um amor?
Você
me pergunta se é possível esquecer o seu amor e parece que você mesmo já sabe a
resposta. Tanto que não a esqueceu porque ainda pensa nela e sonha com ela.
Vocês não estão mais juntos, mas você gostaria de estar.
Pelo
que você me escreveu você a ama, no entanto, não conseguiu ser corajoso o
suficiente para enfrentar o preconceito da sua família e sustentar esse amor.
Provavelmente porque você também tem um certo grau de preconceito pelo fato
dela ser negra. Caso não fosse assim você não teria se desfeito desse
relacionamento.
Sua
família, ao condenar seu namoro, liga mais para o preconceito estúpido do que
para a sua felicidade e bem estar. Eles não toleram uma pessoa com pele negra
na família porque não a consideram boa o suficiente. Mas quem a namorava era
você e não eles, portanto quem teria que decidir se ela era boa para você era
você mesmo. Só que você deixou que eles tomassem essa decisão por você.
No
início do seu email você havia dito que não depende de ninguém, mas se engana
porque se mostrou dependente da aprovação familiar. Não sei se ela ainda te
quer, pode ser que você a tenha machucado com sua rejeição, mas se achar que
ainda tem chance com ela por que vai jogar fora seu amor? Os que se amam só são
felizes juntos e não querendo a separação enfrentam o preconceito e ignoram as
diferenças. Se o que vocês tiveram foi de fato forte pode ser que seja
recuperado e depende agora da posição que você vai tomar. O amor ou o
preconceito? O que você vai valorizar?
Meu
filho tem 14 anos e é muito agressivo. Ele não dá nenhum problema ainda, mas
ele gosta de desenhar coisas feias com muita riqueza de detalhes. Sempre gente
morrendo, sangue para todo o lado e coisas assim. Fico temerosa de que ele se
torne alguém que venha a dar problemas para a sociedade. Que se envolva em
crimes e venha a ser preso. Meu outro filho é muito calmo, totalmente o oposto
e não entendo porque ele tem que ser assim tão agressivo. Queria que ele
fizesse coisas normais e não ficasse desenhando besteiras. Temo que ele venha a
ser louco por gostar dessa arte violenta. Como posso saber se ele não venha a
ser alguém do mal?
Pelo
que eu entendi ele não deu problemas, mas você está preocupada que ele venha a dar. Quando fala dele você
parece ter certeza de que ele vai dar problemas. De onde tirou isso? Só por
causa dos desenhos?
Você
é injusta quando o compara com seu outro filho, pois cada um é cada um. Não é
só porque são filhos dos mesmos pais que eles deveriam ser iguais. Os irmãos
são diferentes uns dos outros e saber acolher essas diferenças é muito melhor.
Você quer que ele seja quem ele não é. Será que suas comparações não o deixam
irritado?
É
mais do que esperado que um menino de 14 anos tenha agressividade. Alguns
praticam esportes para dissipar essa agressividade, outros escrevem estórias e
há os que desenham. Parece ser esse o caso do seu filho, que coloca através dos
desenhos a agressividade que sente no seu mundo interno. Mas isso é sinal de
saúde e não de doença, porque ele consegue transformar em algo bom, no caso o
desenho, um impulso que deve deixá-lo confuso e perdido.
Bosch,
Salvador Dali, Goya são pintores maravilhosos que pintaram cenas de violência e
loucura. Só por causa disso eles foram criminosos? Muito pelo contrário. Eles
criaram fama como grandes mestres das pinturas. A arte pode estar a serviço da
saúde e ajudar a sublimar um impulso agressivo tornando-o em algo refinado.
Ainda bem que seu filho desenha e coloca a arte como forma de sublimação. O
fato de ele desenhar coisas que você considera assustadoras não significa que
ele vai realizá-las e nem que ele seja louco. Será muito mais produtivo você
parar de julgá-lo e procurar entender o que ele desenha.
Tenho
um problema sério com minha sogra. Estou casada há 10 anos e tenho dois filhos.
Minha sogra não mora na mesma cidade que nós, mas quando ela vem de visita ela
arranja qualquer coisa para dizer que eu não cuido bem dos meus filhos. Ou ela
acha que eles estão magros e fracos ou acha que eles estão engordando porque eu
deixo eles comerem porcaria. Ela sempre diz essas coisas como se fosse as
melhores das intenções mas no fundo quer me tirar do sério. Meu marido, filho
dela, nunca diz nada em minha defesa. Ele acha que eu sou implicante demais com
ela e que ela só quer ajudar. Mas toda vez que ela vem é um tormento e eu tenho
vontade de manda-la embora. Ela sempre consegue um jeito de me dominar e não
tem nada que eu possa fazer a não ser se eu brigasse com ela feio. Ela sempre
foi dominadora e inteligente e por isso ela manipula tão bem as pessoas. Como
posso fazer? Será que devo brigar de fato com ela pra mostrar quem manda?
A
relação entre sogra e nora é sem dúvida uma das mais conturbadas que existe. Não
é à toa que existem tantas piadas sobre sogras e do desejo de se ver livre delas.
As piadas mostram um desejo inconsciente. Só que nas piadas esse desejo de
destruir a sogra pode se realizar metaforicamente. Já no seu caso não há nada
metafórico.
Você
já não mais suporta sua sogra porque ela implica com você. Ela desautoriza a
sua maneira de criar seus filhos e te manipula fazendo com que você faça o que
ela quer. Ela te desperta um sentimento de impotência e é justamente esse
sentimento que te deixa com raiva dela. Ao lado dela você se vê impotente de
fazer qualquer coisa para se preservar.
Mas
será que precisa ser assim? Você mesma reconhece que ela acha um jeito de te
manipular, ou seja, você sabe que ela te manipula e mesmo assim você cai nessa
manipulação. Por que será? Vale a pena você procurar responder qual a posição
que você assume quando ela está por perto. Será que ela é tão poderosa assim a
ponto de te deixar impotente ou você que se desautoriza em seus direitos quando
ela está por perto?
Se
ela é inteligente, como você diz, é preciso que você também seja e encontre uma
maneira madura de se fazer presente. Não adianta nada você brigar com ela como
se fossem dois cachorros lutando por território. Com isso você só perde
autoridade e força. A medida que você puder se sentir mais segura no seu papel
de mãe, de esposa e de dona da sua casa você vai encontrar maneiras de deixar
claro para ela qual é o seu papel e qual é o dela. Só vai conseguir isso se
abandonar a raiva e usar a inteligência.
Sou
homossexual assumido e vivo uma relação estável com meu parceiro há 4 anos.
Somos inteligentes, cultos, viajamos, somos pessoas de bem e dispomos de bons
recursos materiais. Mas algo falta em nossas vidas. Tanto eu como ele
gostaríamos muito de ser pai. Como não podemos realizar isso biologicamente
pensamos em adotar uma criança, só que isso é quase que totalmente impossível
de acontecer. Se casais heterossexuais já têm dificuldades imagina só um casal
homossexual? Muitos dizem que um casal homossexual não é bom para o
desenvolvimento psicoafetivo da criança. É verdade? Qual sua opinião? Pais gays
podem prejudicar uma criança?
O
que a criança mais necessita para bem se desenvolver é uma boa família. Boa
família consiste em boas pessoas e boas pessoas independem da orientação
sexual. É preconceito acreditar que pais gays podem fazer mal ao
desenvolvimento de uma criança.
Mal
faz a violência, a humilhação, a falta de amor e de afeto. Se pais gays podem
oferecer amor, afeto e educação (tanto a tradicional quanto a emotiva) a
criança tem um ambiente para se desenvolver muito bem. A qualidade de
relacionamento entre a criança e os pais é o que mais conta. Se os pais
conseguem ensinar e viver o amor já fizeram um bom trabalho.
O
que adiantaria para a criança pais heterossexuais, mas que são incapazes de
viver em harmonia? Será que pais heterossexuais que não têm condições de
oferecer um bom ambiente para o crescimento de uma criança são mesmo melhores?
Pensar assim é acreditar que é a orientação sexual que dita o caráter de uma
pessoa e não as suas ações.
Se
o medo for que pais gays possam gerar filhos gays, bem, isso é uma completa
bobagem. A formação da identidade sexual é complexa demais para que apenas a
orientação sexual dos pais seja o único ponto de referência. A força do amor
dos pais é o que mais importa e faz a diferença para uma criança. É realmente
uma pena que um casal como vocês tenham tantas dificuldades em poder fazer uma
criança feliz dando a ela o que ela mais necessita: carinho, atenção e amor,
enfim, um lar.
Tenho
34 anos e sou um cara de bem com a vida. Só não me sinto realizado na vida
sexual. Aliás, não sei dizer se não me sinto realizado. É que eu gosto de
determinadas coisas que assustam as maiorias das mulheres. De vez em quando
encontro algumas que aceitam realizar minha fantasia, mas quando digo que não
me sinto realizado quero dizer que são poucas as mulheres que me aceitam e
nenhuma, pelo menos até agora, quis ter um relacionamento comigo. Bom, vamos
lá, minha fantasia é que eu gosto de me vestir de mulher antes de transar:
saia, vestido, meia calça, calcinha, etc. Passo maquiagem, batom e tal. E gosto
que a mulher me veja assim e gosto também de que ela me humilhe, que me xingue,
que me faça de gato e sapato. Eu sinto um prazer enorme nisso e só consigo
gozar se for desse jeito. Apesar de me vestir de mulher eu não sou gay e só
curto ficar com mulheres, mas esse meu jeito as assusta. Será que tenho algo de
errado?
Fantasias
fazem parte da vida sexual e se privar delas é se empobrecer. A sua fantasia
pode sim assustar ou desagradar algumas mulheres, mas como você mesmo já viu há
outras que a encaram. Entendo, então, que sua reclamação não seja a falta de
parceiras, mas que nenhuma quer um relacionamento duradouro.
Penso
que o problema não está na fantasia em si, que aliás, é válida como qualquer
oura fantasia. Penso que o problema pode estar em você ficar preso à fantasia e
não conseguir sair dela. Você mesmo disse que só consegue gozar se for realizando essa fantasia, ou seja, se essa
condição não for alcançada, seu gozo fica impedido.
Muito
provavelmente é isso que mais te prejudica. Você está numa posição onde para
alcançar o gozo é necessário seguir um ritual e quer que sua parceira também
fique presa a esse mesmo ritual. Talvez seja isso que desagrade suas parceiras.
Elas podem até encarar sua fantasia, mas não querem fazer dela condição única
para se alcançar o prazer.
Se
seguir um ritual é a única coisa que importa, o sexo se torna enfadonho, porque
fica repetitivo. Você não precisa condenar sua fantasia, apenas precisa
entender porque fica preso a ela. Vai encontrar o porquê disso ao analisar sua
história de vida e ao entender que não mais precisa se prender a uma única
forma de chegar ao gozo poderá fazer uso da sua fantasia de forma mais lúdica e
não precisar dela como única maneira de se realizar sexualmente.
Gostei
muito de uma pergunta que você respondeu para uma mulher que havia ficado viúva
e gostava de aproveitar a vida. Eu também sou viúva, fiquei casada por 30 anos.
Hoje tenho 63 anos e estou viúva há 4 anos. Ao contrário da mulher que vc
respondeu a pergunta e que disse que amava o marido eu nunca amei meu falecido
marido. Sempre foi um casamento ruim e nunca tivemos momentos bons. Fui forçada
a casar com ele porque meu pai descobriu que eu tinha perdido a virgindade com
ele e foi ele quem contou isso para meu pai. Descobri que nunca pude confiar
nele e só me sentia presa. Hoje vivo com a aposentadoria que ele deixou e
aproveito como nunca. Só não tenho namorado. Acho que aí pra mim é demais. Mas
digo que ser viúva não é fim da vida, mas uma oportunidade para viver mais.
Antigamente
uma mulher só era livre de fato quando ficava viúva. Se não, ela tinha que
responder sempre ao marido. Como se ela não tivesse uma identidade própria e
precisasse do aval do esposo para ser alguém. Em muito romances da literatura
clássica a mulher casada e que tivesse recursos materiais até almejava ser
viúva.
É
que à mulher foi dado um papel de não desejar. Ela, para se encontrar no papel
esperado, tinha que abdicar dos desejos próprios e fazer os desejos de sua
família a única coisa que valesse a pena lutar. Estar nessa posição é ficar
presa e se afundar em ressentimento.
Hoje
você reconhece que se ressente do seu marido que era alguém em que não podia
confiar. Ele não te tratou como pessoa quando contou para seu pai algo que
pertencia apenas à vida íntima de vocês dois. Ele simplesmente passou por cima
de seus sentimentos e demonstrou com essa atitude que o amor não os ligava de
fato. Como seria possível amar alguém assim? Impossível!
Agora
o mais importante é que o ressentimento por tantos anos de prisão não
comprometa viver sua vida. Talvez você já tenha ficado muito tempo nessa prisão
e já tenha pagado muito caro por ela. Faz bem em aproveitar o que a viuvez lhe
traz e conhecer seus desejos. Quem sabe até um amor, verdadeiro, não surja? A
liberdade lhe acena várias possibilidades e é preciso que você não perca tempo.
Tenho
24 anos e namoro há dois. Meu namorado tem um ciúmes doentio do meu cachorro. É
que eu amo muito meu cachorro e dou muita atenção para ele. Meu cachorro é tudo
de bom. É bonito, me entende, me faz companhia e me respeita em todos os
sentidos. Já com meu namorado é tudo bem mais difícil. Ele sai com amigos,
temos brigas e muitas vezes nunca me entende como meu cachorro. Quando falo
essas coisas pra ele ele fica possesso, como se tivesse um demônio dentro dele.
Mas ele tem que ser realista e perceber que o cachorro é bem melhor que ele.
Acho que se ele pudesse ele mataria o cachorro. Ele deveria aprender com o
Thor, nome do meu cachorro, como se comportar como um verdadeiro homem e ficar
só comigo. O Thor é bem mais cavalheiro. É infantil da parte dele ter tanto
ciúmes assim, mas ele nunca quer ouvir a verdade. É tão mais fácil ficar com meu
cachorro do que com meu namorado. Como faço para ensinar meu namorado ser
melhor?
Seu
namorado, provavelmente, só aceita a posição em que se encontra porque tem um
lado masoquista bem pronunciado. Se assim não fosse vocês já não estariam mais
juntos. Afinal, quem quer se tratado e ensinado como um cachorro?
Os
cães podem ser excelentes companhias porque dão amor incondicional. Não há a
menor dúvida de que há cães maravilhosos e sensíveis e que estão sempre atentos
aos seus donos. Aceitam ordens com facilidade e estão sempre num estado de
felicidade. Realmente os cachorros são criaturas fáceis de se conviver.
Porém,
há uma diferença entre se relacionar com seu cachorro e com seu namorado. Você
espera que seu namorado seja como seu cachorro, que a vida dele gire ao seu
redor e que ele esqueça que tem vida própria. Você espera isso dele porque tem
mais segurança no amor que recebe do seu cachorro do que do amor do namorado.
Seu namorado não precisa ser seu cachorro e agir tal como ele para você se
sentir amada.
Namorados
têm conflitos e ele tem a vida dele independente de você. Não dá para esperar
que ele se comporte como se só existisse você. Ter um cão é bem mais fácil do
que ter um namorado. Você já tem um cachorro e precisa se perguntar se quer um
namorado. Você já sabe se relacionar com um cachorro, agora falta aprender a se
relacionar com o namorado.
Estou
casado há 8 anos e amo muito minha mulher. No entanto estou vivendo um inferno
e não sei mais o que fazer. Há algum tempo eu vinha alimentando a fantasia de
ver minha mulher com outro homem. No começo ela nem conseguia ouvir isso e
ficava brava. Mas de tanto que eu insisti e pedi pra ela me fazer feliz que
depois de algum tempo ela acabou aceitando. Arranjei um cara e fomos para a
cama. Na minha fantasia isso seria o máximo, mas eu não me senti bem. Me senti
excluído ao ver minha mulher com outro homem, queria morrer. Só não parei na
hora porque eu havia insistido tanto com ela e não queria mostrar que tava
odiando aquilo tudo. Depois disso minha mulher quer repetir a experiência e
acha que eu to feliz com isso. Acho que agora tenho que repetir para
satisfazê-la. Me senti e me sinto um lixo, acho que minha mulher está agora
interessada em outros além de mim. Sou um verdadeiro idiota, me sinto um banana.
Se minha mãe soubesse disso, deus me livre, ela me xingaria muito e me faria
sentir pior. Acho que me estrepei e não sei como consertar a burrada que fiz,
quero me enfiar debaixo da terra. Como conserto isso?
Primeiro
sua esposa não queria um terceiro no relacionamento de vocês, mas você insiste,
diz até que sua felicidade está em jogo, leva a sua esposa acreditar que isso lhe
é importante, consegue convencê-la e arruma um outro homem. A fantasia se
realiza e você se sente a pior das criaturas e fica por baixo. A pergunta que
você precisa responder é por que se colocou nessa situação?
Você
criou toda essa situação e diz que foi para realizar uma fantasia. Não há
nenhum problema em realizar uma fantasia, mas parece que você arriscou demais e
sente que agora perdeu sua mulher. Aliás, a sua mulher foi usada e você nem
ligou para os sentimentos inicias dela, tudo o que lhe importava era satisfazer
a sua fantasia. Por que será que essa fantasia te atraía tanto? Penso que na
verdade essa fantasia está a serviço de um gozo masoquista.
Digo
isso porque você não conseguiu até agora dizer para sua mulher que não gostou da
experiência, nem na hora que aconteceu e nem depois. Parece até que curte o
sofrimento que sentiu e sente, como se não pudesse se afastar dele. Será que há
um prazer inconsciente em se sentir excluído e se ver como banana? Você mencionou que se sua mãe soubesse ela iria te xingar.
Por que disse isso? Sua mãe costuma te xingar? Você sente que ela te excluía?
Ao
realizar sua fantasia você se sente mal e se culpa, mas ao mesmo tempo vive um
prazer secreto tanto que aceita repetir a experiência. Sente vergonha e quer se
enfiar debaixo da terra. Pode encontrar o porque disso ao analisar a sua
história de vida e dar um sentido a sua fantasia, bem como entender qual a
posição que você se coloca. Melhor do que consertar
é se compreender.
Estou
casada já faz quase 35 anos. Sempre fui uma esposa fiel e cumpridora de todas
as tarefas do lar e nunca pedi ou exigi nada do meu marido. Casei porque
acreditava que toda mulher que decide não ser freira acaba fazendo, nunca
estive realmente apaixonada por meu marido. Depois de apenas 3 anos de casada
descobri que meu marido me traía. Saía com outras mulheres e se divertia. Até
hoje isso continua. Foram várias as vezes que já encontrei nota de motel nos
bolsos das calças dele. Nunca falei nada, nunca reclamei, nunca me zanguei. Sei
que ele as vezes fala que tem que viajar a trabalho, mas sai mesmo é para
passear com as mulheres com quem ele sai. Já foi até para o nordeste levando
mulheres e nunca me levou para lugar nenhum. Eu penso em vingança. Sei que ele
é cardíaco e que um dia vai ter um piripaque. Quando esse dia acontecer vou
gastar todo o dinheiro dele e caso ele fique entravado numa cama eu vou judiar
bastante dele. Eu sei que isso parece mesquinho mas não consigo evitar ter esse
pensamento. Só que eu sinto que tudo isso me faz mal. Queria saber relevar tudo
isso, mas eu sempre me afundo nesses pensamentos. A questão é: se tudo isso
pode mesmo me fazer mal?
Você
mesma já sabe a resposta à sua pergunta quando afirmou que sente que toda essa
sua atitude te faz se sentir mal. O que será que você espera ao me fazer essa
pergunta? Que eu legitime seu sentimento de vingança ou que te convença a
relevar tudo? Seria muito mais produtivo não ficar presa nem em uma ou outra
dessas alternativas, mas pensar sobre o que te acontece.
Seu
casamento não foi motivado por amor, por uma vontade de ficar junto, mas porque
você acreditava que era o que se esperava de uma mulher. Apesar de que há 35
anos o tempo era outro, assim mesmo havia outras opções além do casamento e da
vida religiosa. Porém, você optou pela passividade, em não se responsabilizar
pela sua vida e escolhas. Talvez você fosse jovem demais e não tivesse ninguém para
te ajudar a pensar diferente, mas a questão é que o tempo foi passando e você
nunca procurou mudar de posição.
Aliás,
chamou bastante atenção que você tenha usado a palavra nunca várias vezes. Você nunca viveu, nunca aproveitou nada e sente
um ódio imenso ao ver isso. Em vez de usar o ódio para te motivar a sair dessa
situação e ir em busca de outra que lhe fosse mais favorável, você se calou e
se resignou e o ódio se tornou mágoa. Mágoa nada mais é do que ódio
cristalizado e só serve para envenenar a alma. Está envenenada porque
desperdiça seu tempo fantasiando vingança ao invés de fantasiar a vida que
poderia ter.
Você
já perdeu muito tempo da sua vida: 35 anos! É preciso agora que você se
desapegue da paixão da vingança e use o ódio que sente para transformar sua
situação. Para isso vai ser preciso aprender a fazer escolhas que lhe sejam
boas e não te leve ao ódio e ressentimento. Agora é hora de você aprender a
fazer a escolha certa.
Meu
namorado revelou recentemente que é gay. Eu amo muito ele e não aceito que
nossa história não tenha significado nada pra ele. Não consigo ficar sem ele,
não vejo minha vida sem ele. Preciso ter ele de qualquer maneira. Eu tenho
tanto amor e sei que ele pode voltar a ser um homem normal, que pode se
interessar por mim. Ele insiste que não quer nada comigo e com nenhuma outra
mulher. Mas não dá pra aceitar que ele vai ficar com outro homem. Eu sinto que
tenho que reconquistar ele ajudar ele voltar a ser o que era.
O
fato de seu ex-namorado ser gay não faz com que ele não seja um homem normal.
Ele apenas tem uma orientação homossexual ao invés de uma orientação
heterossexual. A homossexualidade não torna ninguém anormal.
Ele
foi claro com você e até honesto em revelar a sua real condição. Antes ele te
enganava, talvez, até enganava a si próprio e não se sentia seguro para assumir
sua orientação sexual. Esse enredo acabou quando ele decidiu se abrir para você
e falar francamente. Você afirma que não aceita que ele é gay e que não quer
mais nada com você, quer de todas as maneiras negar a realidade, ou seja, quer
se enganar.
Cabe
você se perguntar por que valoriza a negação da realidade e também por que
insiste em algo que não levará a nada. Ao persistir num relacionamento que não
tem como dar certo, você inviabiliza a sua vida. Quer o que não pode ter e com
isso perde tempo, além de desperdiçar oportunidades de estar aberta a alguém
que realmente possa ser seu companheiro. Quem deseja o impossível fica preso à
infelicidade. Ao não abrir mão dele você abre mão da sua felicidade.
Há
também um sentimento de onipotência da sua parte de achar que pode mudá-lo.
Mais uma vez você se engana. Você não tem o poder de mudar a orientação sexual
dele e insistir nisso é pura bobagem. Todo esse seu amor por ele, se é
realmente amor, não tem poderes mágicos de transformá-lo. Em vez de gastar
energia tentando alcançar o impossível, procure se conhecer melhor para
entender porque você nega a realidade e se agarra na ilusão. Ao se entender
você conseguirá abrir mão do que ele te representa e poderá estar aberta a
relacionamentos que lhe sejam bons. Cabe a você, agora, deixar a cegueira de
lado e tomar uma decisão que lhe seja favorável.
Tenho ciúmes patológico
da minha mulher. Muitas vezes saio do meu trabalho para segui-la. Sempre acho
que ela está me traindo, consigo visualizar as cenas até. É algo que me deixa
louco e faz eu perder muitos negócios. Ganho menos dinheiro nesses últimos anos
por perder tempo em ficar seguindo minha mulher. Estamos casados há 4 anos e
ele é mais jovem e linda e sei que outros caras mexem com ela. Até agora não vi
nada que a condenasse, mas sei que ela pode ter um amante. Sinto que ela tem um
amante. Cheiro as roupas dele para saber se transou com outro. Procuro por
sêmen e por cheiros de outros homens. Só que isso tá acontecendo todos os dias
e me faz ver cenas da minha mulher transando com outro. Não sei mais o que
fazer para parar com isso. O que me diz?
Possivelmente você não percebeu, mas
cometeu dois atos falhos ao escrever seu email. O primeiro foi quando falou ele é
mais jovem ao invés de dizer ela é mais jovem. O segundo foi ter escrito cheiro as roupas dele,
mais uma vez trocou ela por ele. Os atos
falhos não acontecem à toa. Eles têm uma origem no inconsciente e são bastante
reveladores. Freud, criador da psicanálise, fez várias referências aos atos
falhos em seus textos. Eles não devem ser ignorados.
Os ciúmes usam um mecanismo chamado
projeção que é atribuir ao mundo e pessoas externas coisas internas, ou seja, a
pessoa vê fora algo que acontece dentro dela mesma. Ao atribui fora de si seus
sentimentos a pessoa se sente segura e preserva a sua autoimagem. É uma forma
de defesa psíquica.
Ao ter tanta certeza da traição da sua
mulher apesar de não possuir nenhuma evidência que te mostre isso você está
falando das suas fantasias. Ao atribuir com tanta veemência a traição dela você
se protege das suas fantasias de traição. Você consegue até imaginar as cenas
todos os dias, não consegue se livrar delas, mas isso faz pensar que o desejo
pela infidelidade seja seu, só que ao jogar nela você também tenta transferir
essa responsabilidade para ela.
Voltando ao seus atos falhos de ter
trocado o pronome feminino pelo masculino levanto a hipótese de que se trata de
um desejo homossexual reprimido. Não digo com isso que você seja homossexual,
mas parece haver um desejo que pede por entendimento. Entendimento esse que
pode ser conquistado através da análise. Ao se colocar em análise você pode ter
a chance de examinar com atenção quais são essa fantasias que permeiam sua
mente e com isso se entender melhor e não mais se enlouquecer.
Sou estudante de psicologia do segundo ano e acabei de conhecer seu blog. Gostei muito. Qual linha que vc segue (freudiano, kleiniano, lacaniano, etc.)? E como se dá o trabalho do psicoterapeuta? Como funciona uma sessão? Ainda não sei qual área vou querer para o meu futuro. Há muitas possibilidades e preciso entender mais para poder fazer uma boa escolha. É preciso o psicoterapeuta fazer sua terapia para poder atender?
O
trabalho clínico desperta muito interesse porque lida diretamente com a maneira
que nós vivemos e enxergamos o mundo. Trabalho com a psicanálise, mas não me
considero nem freudiano, nem kleiniano, nem lacaniano e nem preso a nenhuma
outra escola. É que na minha opinião a gente deve conhecer os autores e
aprender com eles, mas sempre sermos nós mesmos. Do contrário, ou seja, ficar
apenas numa única linha é se limitar. É porque a psicanálise tem como objeto de
estudo o inconsciente e ele não é freudiano, kleiniano, etc, o inconsciente é
humano e não é rachado em distintas teorias.
A
sessão se dá quando há a escuta psicoterapêutica que é diferente da escuta que
se tem no dia a dia. Essa se guia pelos
valores da sociedade e da cultura enquanto a escuta analítica se dá pela
procura da verdade. O psicoterapeuta deve se esvaziar de seus preconceitos e
suas opiniões morais para poder escutar verdadeiramente o outro e se abrir à
suas inquietações sem desejar oferecer soluções ou respostas prontas. É que a
conversa que se tem numa sessão não é racional feita de perguntas e respostas,
mas de procura pela essência.
Winnicott,
psicanalista inglês, descrevia a sessão analítica como um momento sagrado. Não
no sentido religioso é claro, mas na medida que busca revelar a verdade e
essência de cada um. Uma terapia tem como objetivo libertar o sujeito de suas
amarras, de suas fantasias limitadoras, para que ele possa viver mais
plenamente todo o seu potencial.
Talvez
se você se colocar em análise descubra como isso funciona ao aprender a se
escutar. Esse conhecimento, do funcionamento e no que consiste uma sessão, não
se dá de forma teórica, mas apenas quando você vive o processo. Nada melhor do
que a própria experiência.
Meus filhos quando estão com muita raiva (porque eu os mando
para o banho e atrapalha, ou fazer alguma tarefa, ou separo a briga dos dois e dou
castigo, como não ver TV, ou não poder jogar), pegam as armas de brinquedo,
miram e atiram em mim. Sem parar. Se for “metralhadora”, que eles não têm, mas
fingem ter, melhor. A pergunta é: Eu os proíbo de fazer isso e como? Ou eu
ignoro e volto a tocar no assunto novamente só quando eles estiverem menos
revoltados?
Na hora em que eles estão permeáveis e amorosos, digo que não
quero mais que finjam me matar, e eles concordam um pouco envergonhados, mas na
hora da raiva, não resistem.
O que te mobilizou a fazer esta pergunta foi o fato de
que você fica triste e magoada com essa reação dos seus filhos. Além disso,
você fica assustada quando eles têm uma demonstração obvia do ódio que sentem
quando você os frustra de alguma forma e talvez pense que poderia haver algo de
errado no relacionamento de vocês.
Melanie Klein, grande psicanalista e fundadora da
psicanálise infantil, percebeu que as crianças podem odiar com bastante
intensidade e agredir (principalmente em fantasia) a mãe quando se encontram
frustradas. É que as crianças projetam na mãe toda a frustração que sentem e a
responsabilizam pelo desprazer que a dominam. Até acreditam que a mãe causa
esse desprazer todo propositalmente e por isso sentem esse impulso de atacá-la,
acabar com ela e se ver livre do incômodo.
Quando você chama a atenção dos seus filhos, cobra deles
ou os castiga, eles ficam com uma baita raiva e demonstram isso fantasiando te
aniquilar. Mas você está no seu papel quando exige deles. A mãe precisa, uma
hora ou outra, frustrar os filhos, para que eles aprendam e se eduquem. Deixar
os filhos soltos e permitir que não tenham nenhuma responsabilidade não os
ajudaria em nada, pois daria a falsa impressão de que tudo se pode.
Não há nada de errado em seus filhos terem essa fantasia
de te matar. Nos contos de fadas sempre existe a figura da madrasta que é
sempre morta no final para depois haver um reencontro com a mãe. A madrasta
nada mais é do que esse lado da mãe que todos nós gostaríamos de matar para
ficar com aquela mãe que dá carinho e que se ama. Aceite que ser mãe é em certa
medida ser a madrasta, ou seja, odiada, mas pode deixar claro a eles que mesmo
estando bravos e com raiva, assim mesmo, terão que te obedecer. O tempo é o seu
melhor aliado.
Sou
meio maluca. Me entrego a tudo o que eu sinto de corpo e alma, sem nenhuma
restrição. Falo o que eu quero, faço o que eu quero, fico com quem eu quero. Me
sinto parecida com aquela cantora Maysa que era muito passional e jamais se
reprimia. Só que viver assim as vezes me causa mal. Eu acabo ofendendo as
pessoas e dizendo o que eu não devia. Prometo coisas no calor do momento e não
cumpro depois. Começo a namorar um e já estou pensando no próximo que vai vir.
Enfim, sou pura emoção. Tenho medo de reprimir tudo isso e ficar sem sal, perder
a graça. Não sei o que fazer.
Ser
uma pessoa passional é ser uma pessoa impulsiva. O problema é que se entregar à
impulsividade, sem nenhuma restrição, pode trazer muitos dissabores, como você
bem sabe, já que parte para a ação sem pensar nas conseqüências dos seus atos.
Viver assim pode ser extremamente prejudicial.
Você
citou a cantora Maysa e se sente como ela: passional ao extremo. Vale lembrar
que a Maysa pagou um preço muito alto por sua impulsividade sem limites. Ela
machucou muitas pessoas que amava e se colocava frequentemente em situações de
risco. Acredita-se que sua morte, num acidente de carro e aos 40 anos, tenha
sido resultado de uma mistura de excesso de álcool e remédios. É assim mesmo
que você quer viver?
A
impulsividade tem a ver com irresponsabilidade. É não querer assumir
compromissos. Quer tanto abraçar o prazer e afastar o desprazer, que a
responsabilidade sempre traz uma dose, que se esquece que nem tudo pode e deve
ser feito.
Agora
você confunde repressão com contenção. Você acredita que precisa se reprimir
quando na verdade precisa aprender a se conter. A contenção se trata de não se
deixar dominar e cegar pelas emoções, mas usar sua mente para pensá-las. Quem
aprende a se conter não se torna sem graça, mas sabe dosar as emoções com a
razão de forma harmônica e saudável proporcionando viver uma vida melhor.
Não
consigo me relacionar com nenhum homem. São todos apagados e sem graça quando
eu os comparo com meu pai. Meu pai é forte, bonito e sedutor. Era o homem que
eu queria para mim. Queria me interessar por outros homens, mas sempre
fracasso. Só tenho olhos para o meu pai. Quando saio do banho sempre fico nua
na frente dele ou as vezes me enxugo ficando de costas pra ele, mostrando
minhas costas que me falaram que são lindas. Sempre espero que ele fale algo ou
se manifeste, mas até agora nada. Minha mãe fica brava e com ciúmes, mas ela
não tem nada a oferecer pra ele. Ela já esta feia e velha e eu estou na flor da
idade. É tão errado assim desejar o próprio pai?
A
fantasia do incesto é mais comum do que se imagina. Porém, você está além da
fantasia porque está tentando seduzir seu próprio pai. Você está se pervertendo
e desejando perverter seu pai, ou seja, é uma loucura total.
Na
vida nem tudo podemos e o incesto é uma dessas barreiras, tanto que em todas as
culturas o incesto é barrado e visto como um grande tabu. Se perverter é negar
os limites e achar que pode tudo e que a única coisa que conta é o desejo e o
prazer. Você está jogando um jogo trágico.
Não
sei qual é a sua idade, mas posso dizer com toda a certeza que está numa
posição infantil porque deseja o pai e ninguém mais além dele. Quer o olhar do
seu pai, quer conquistá-lo, seduzi-lo e deixa-lo preso a você. Isso ocorre com
uma menininha pequena e conforme essa vai crescendo ela percebe que o pai não
se pode ter e assim ela se permite se interessar por outros homens.
Você
nega o seu limite, rebaixa e põe sua mãe de lado e espera conquistar o lugar da
sua mãe frente ao seu pai. Não só quer seduzir o próprio pai como quer vencer a
própria mãe. Você joga um jogo de sedução fatal e que certamente te levará e a
sua família à tragédia. No filme Pecados
Inocentes (2007, EUA) conta-se a história real de uma mulher que seduz o
próprio filho e as tragédias que advieram desse ato de loucura. Procure se
tratar. Nada de bom pode vir da realização do incesto.
Tenho
muito medo da morte. Tenho 52 anos e não há um único dia em que não pense nela.
Não sei o que vem depois e queria tanto saber. Isso me deixaria mais segura.
São tantas as religiões e cada uma delas com uma explicação diferente e eu nem
sei mais o que pensar e acreditar. Vi que há cursinhos para se preparar para a
morte ministrados por psicólogos especializados na morte. Acho que eu deveria
fazer um deles para assim estar mais segura quando chegar a hora. Você acha que
eles são bons? Pode me indicar algum?
É incrível notar que com apenas 52 anos você já está
pesando na morte. É mais incrível ainda de se notar, porém muito mais triste,
que você se esqueceu de perceber que está viva e que tem muito chão pela
frente. O que será que na morte te fascina tanto que faz você se esquecer de
viver?
A
morte é algo natural na vida e não há como evitá-la. O ato de morrer é algo
que, uma hora, todos iremos experimentar. No entanto, parece que você fica tão
focada pensando nele que a faz deixar de lado aquilo que nesse momento lhe
deveria importar mais: viver.
Confúcio,
sábio chinês da antiguidade, tem uma frase que diz que jamais poderíamos
entender o que é a morte se não entendermos primeiro o que é a vida. Aos 52
anos tem muita vida pela sua frente e você deveria se preocupar em vivê-la bem.
Viver
já é uma grande aventura se assim você se permitir, mas me parece que viver
para você é algo bem mais temível do que a morte. Parece temer tanto a vida que
arruma qualquer coisa para não ter que pensar nela. O que eu lhe indico é uma
bela psicoterapia. Que você possa encontrar alguém que te escute e te ajude a
pensar sobre a vida e não sobre a morte. Quem sabe você ao se ouvir não pode se
dar conta do quanto está perdendo tempo e resolva mudar essa situação cuidando
mais de si em vez de viver atemorizada? A vida pode ser apaixonante se você
abrir espaço para isso. Que tal pensar sobre isso?
Gostaria de fazer uma pergunta. Tento não ter preconceito com os
homossexuais, porque acho que todo tipo de preconceito é doentio, mas para mim
é um pouco difícil de entender, já que pela minha criação sempre foi algo
colocado como muito negativo. O travesti acima (referente à pergunta do dia 03/02) diz que se sente homem e mulher
ao mesmo tempo, mas sonha com um homem ideal. Se ele se sente homem e mulher ao
mesmo tempo, por que só gosta de homens? Como isso tudo se organiza
psicologicamente? Não faria mais sentido ele fazer uma cirurgia de mudança de
sexo (que ele diz não querer), se assumir como mulher e ir a procura desse
homem que ele procura? O que a psicologia diz sobre isso?
A identidade
sexual não tem nada a ver com o sexo biológico, mas depende muito mais das
fantasias e imaginação. É colocado, frequentemente, que o sexo biológico é a
única coisa que importa e dita a vida sexual de alguém, no entanto isso é um
engano porque nega a imaginação da mente, nega o que há de mais humano.
Você se
pergunta e se assombra com a travesti que afirmou que se sente homem e mulher
ao mesmo tempo, mas que deseja ficar com um homem. Por quê? A imaginação não se
prende e é livre para se manifestar da forma que for.
Na imaginação
dela ela consegue se ver tanto como homem quanto como mulher. Na mitologia
grega havia figuras que eram homens e mulheres ao mesmo tempo. Eram completos.
No entanto os deuses enciumados de suas completudes os destruíram dividindo-os
em dois sexos. A travesti em questão não deseja a cirurgia porque não quer ser
dividida, ela quer ser uma mulher com pênis, ou seja, possuir o pênis e a
feminilidade. No desejo dela isso funciona.
Caso ela
quisesse uma cirurgia de mudança de sexo ela não seria uma travesti, mas uma
transexual. A transexualidade é quando a pessoa nasce com um sexo, mas só se vê
e se sente realizada noutro sexo, daí a necessidade da cirurgia. O que mais te chama
atenção nisso, tanto que te mobilizou a fazer essa pergunta é se dar conta de
que a sexualidade é múltipla e depende muito mais de como nos vemos e lidamos
com nossos desejos do que olhar simplesmente a questão biológica. A sexualidade
desconhece os limites do biológico e se vale muito mais da mente.
Você
disse em um dos seus textos que a felicidade só pode existir no tempo presente.
Não concordo com isso. Digo assim porque no meu caso ela só existe no passado.
Hoje sou muito infeliz. Perdi meu emprego, estou sem dinheiro, sem amor e sem
nada. Aliás, nem acredito que seja possível ser feliz nesse mundo. Acho tudo
isso uma utopia. Ninguém é feliz de verdade. Quando eu tinha namorado, emprego,
eu até me considerava feliz, mas quando a gente perde tudo isso a gente vê que
felicidade é algo impossível. E quem pode ser feliz nesse mundo quando há
tantas injustiças e tanta miséria? Como aquelas crianças na África que morrem
de fome e inanição. Por isso que digo que minha felicidade ficou no passado e
não me é possível agora. O que tem a dizer? Acha que a felicidade existe?
Fiquei-me
perguntando qual era sua intenção ao me escrever. Afirmar que a felicidade não
existe ou pedir uma luz para você acreditar na felicidade? Digo isto porque ao
mesmo tempo que você diz que a felicidade não pode existir para você, você
também afirmou e reconheceu que ela existiu no seu passado. Você se contradiz!
O
passado, como o próprio nome diz, já passou e viver preso a ele é uma forma de
tirar a responsabilidade que você deve ter para com o seu presente. Pode até
ser que suas condições no passado lhe fossem muito mais favoráveis, mas quem
disse que isso tem que ser sempre assim? Por que não acredita numa mudança para
melhor?
A
felicidade não depende apenas das circunstâncias externas, mas se trata de um
estado de espírito que se pratica. Você deve se perguntar por que pratica a
descrença na sua felicidade. Será que há um prazer inconsciente em ser infeliz?
Você deve se voltar ao seu passado não para se prender nele, mas para encontrar
a razão porque não se permite ser feliz agora.
Ao
falar das crianças famintas da África você também está falando de você mesma. A
inanição que você se refere tem a ver com o atual estado em que se encontra sua
vida mental. Você está faminta por amor próprio e quer desesperadamente ser
alimentada afetivamente. Você está sentindo que está morrendo de inanição afetiva. Nossas mentes
também precisam ser nutridas, portanto não pratique mais a autopiedade e
procure o alimento que lhe falta.
Tive
uma filha linda que morreu muito jovem. Ela foi fazer uma viagem de carro e
houve um acidente que a matou. Antes de ela fazer essa viagem eu me preocupava
muito com algum acidente. Parecia que eu estava prevendo e realmente aconteceu.
Hoje me culpo muito pela morte dela. Eu devia ter impedido ela de viajar tanto
por causa do trabalho. Mas ela era cheia de vida e ia achar que era preocupação
boba de pai. Sempre me dei muito bem com ela e ela era a luz da minha vida.
Hoje eu não faço mais nada de bom. Bebo todos os dias e nunca fui de beber.
Brigo com as pessoas e não deixo que ninguém se aproxime de mim para me ajudar.
Recuso qualquer tipo de ajuda e sofro até hoje com a morte dela. Como reconstruir
a vida depois da morte de uma filha?
Seguindo
a ordem natural do curso da vida espera-se que os pais morram antes que os
filhos e quando essa ordem é invertida traz uma dor muito grande e as vezes
insuportável. É isso o que te acontece ao se dar conta de que sua filha tão
querida e cheia de vida não está mais viva enquanto você ainda vive.
Ouvi,
uma vez, de um velho padre jesuíta muito sábio uma frase tão óbvia, mas tão
reveladora também: Para morrer, basta
estar vivo. Não há como impedir a morte, ela está muito além do nosso
controle. Todos gostaríamos de ser onipotentes para impedir as coisas tristes
de acontecer, porém a onipotência é um engodo. Nossa onipotência só existe na
ilusão e não na realidade.
O
que você poderia ter feito? A impedido de viajar? De trabalhar? Caso fizesse
isso prenderia sua filha e não a deixaria livre. Caso se fizesse onipotente e
tentasse controlar sua filha certamente acabaria por estragar a relação de
vocês. Com toda a certeza isso não seria bom.
Para
conseguir reconstruir sua vida é necessário que se livre da culpa que carrega
que vem da ilusão da onipotência de que você poderia ter impedido essa tragédia
de acontecer. Ninguém tem tanto poder assim e esse acidente não é culpa sua, é
uma acaso triste da vida. Aprenda a aceitar que nem tudo podemos, assim você
não precisará mais se castigar. Sua filha pode ter morrido, mas a lembrança
dela e de toda a sua vitalidade está em você. Não desonre a memória da sua
filha se castigando por algo que não é sua culpa. Não perca mais tempo e se
deixe ajudar.
Espero
que o senhor receba esse meu e-mail e possa me responder. Sou uma travesti e
trabalho numa casa aqui em Londrina há 3 anos fazendo programa. Tenho 25 anos,
sou muito feminina, mas ao contrario de muitas amigas minhas as pessoas sabem
que sou uma travesti porque sou alta e as pessoas estranham e desconfiam.
Apesar da minha altura sou delicada e tenho bons clientes. Estou escrevendo
porque eu sonho, mas acho que meu sonho nunca se tornará realidade. Eu sonho
que um dia algum homem vai se apaixonar por mim e vai querer ficar comigo, mas
acho isso impossível. Quem ficaria com uma travesti? Quando ando na rua as
pessoas me notam e recebo muitos olhares tortos que me deixam a sensação de que
jamais serei aceita. No entanto, mesmo não sendo aceita sou feliz. Fui expulsa
de casa pelos meus pais muito cedo. Lembro até hoje do olhar de ódio do meu pai
por mim. Mas eu sou assim. Gosto de ser mulher e homem ao mesmo tempo. Nunca
pensei em fazer operação para mudar de sexo, sou desse jeito e gosto de ser
assim, mas sempre me dá um medo de que nunca serei aceita e que minha
felicidade possa desaparecer com o tempo. Que palavras o senhor teria para mim?
O que mais te amedronta é não ser aceita e com isso não
achar que seja merecedora de amor. Uma história que já começou na casa de seus
pais que te expulsaram por não te aceitarem do jeito que você é. O olhar de
ódio de seu pai ainda está presente em você e constantemente te lembra que você
não foi aceita.
O
seu modo de ser causa incomodo na maior parte das pessoas que terminam por não
aceitar o diferente e o que não entendem. O desconhecido é sempre visto com
temor e até repulsa. Você representa o desconhecido porque é homem e mulher ao
mesmo tempo, deixando de lado a lógica, com a qual a maioria das pessoas se
apegam, de que tem que ser apenas uma coisa.
Agora
o mais importante é você se aceitar por completo e se amar verdadeiramente.
Você se diz feliz, mas só vai se sentir segura da sua felicidade quando se
permitir se aceitar sem depender tanto se outros te aceitam ou não. Se você vai
encontrar o homem com quem sonha e te ame não sei, no entanto sei que você deve
se amar com ou sem esse homem. Seu amor próprio não deve ser dependente de
ninguém.
Quando
você me pergunta que palavras eu tenho para você, você me pergunta se eu te
aceito e se eu posso encontrar palavras que te faça se sentir bem. Te digo que
mesmo vindo de uma história de sofrimento e rejeição você tem uma grande
delicadeza e isso é um tesouro muito valioso. Você não se deixou amargurar, mas
está a procura de amor. É essa a sua maior força e que você deve sempre
alimentar. A sua delicadeza te permitiu chegar até aqui acreditando na
esperança e é na sua delicadeza que você pode encontrar um caminho para se
amar.
Sou uma senhora de 69 anos que adora aproveitar a vida. Sou viúva e quando estive casada amei muito meu marido. Vivemos muito bem e nós dois casamos porque acreditávamos no amor que uma dava para o outro. Ele já faleceu há 10 anos e depois do primeiro ano que eu sofri muito eu voltei a aproveitar a vida. Saio com amigas, passeio, viajo e levo uma vida muito boa. Até tive alguns namorados. Meus filhos não aceitam a maneira que vivo e acham que eu devia estar fazendo tricô e chorando pela morte do pai deles. Eu chorei muito, mas não morri junto só que meus filhos ficam bravos e acham que eu nuca amei meu marido e nem o respeito. Já ouvi uma das minhas noras me chamar de viúva-alegre. Será que é tão impensável que uma mulher da minha idade possa viver e se divertir?
Ainda bem que foi-se o tempo que a única coisa que uma viúva podia fazer é chorar e não mais viver. Como você muito bem disse, seu marido morreu e não você, portanto não há motivos para você se esquecer que sua vida continua e que ela deve ser aproveitada.
Você passear, viajar e até ter namorados não significa que não amou seu marido. Apenas significa que você também se ama e aproveita o tempo que lhe é dado. Você por acaso seria mais feliz se ficasse fazendo tricô e seguisse o que seus filhos esperam de você?
Seus filhos estão presos numa idéia muito atrasada de que para a viúva não resta nada além do dissabor e da amargura, que a mulher deve esquecer de si própria porque enviuvou. Ainda bem que você não pensa assim e se dá o direito de viver, direito este que nem mesmo seus filhos podem te tirar. Sua nora ao te chamar de viúva-alegre quer te fazer se sentir mal, mas você pode aprender a ouvir isso como um cumprimento e não como um xingamento.
São poucas as mulheres que se permitem desfrutar a vida nessa idade como você e isso te faz de alegre sim. Porém uma alegre que sabe que amou muito e que foi amada e que com a morte do cônjuge continua honrando a vida tirando dela o que ela pode oferecer de melhor. Viúva-alegre sim, pois tem motivos para celebrar a vida e não se entregar à morte antes do tempo.
Oi Sylvio! Li seu post Prazer sem culpa que vc respondeu a mulher que quer ter vários parceiros. É estranho ler aquilo mas tb é tranqüilizador para as mulheres se sentirem normais. Eu tenho 27 anos e sou uma mulher bonita. Já namorei e sempre gostei de sexo. E eu gosto de me masturbar. Não sei porque todo mundo acha que mulher não se masturba ou não gosta disso. Mas eu gosto, mas ao mesmo tempo tb me sinto culpada. Depois de me masturbar eu me sinto como se tivesse feito algo errado. Estudei com freiras e elas sempre impuseram a noção de pecado na masturbação. Mas se é pecado para homens e mulheres e os homens continuam a fazer isso até descaradamente por que nós mulheres não podemos? Não é justo. Um dia com meu namorado eu comecei a me masturbar na frente dele para mostrar como era que eu gostava de ser tocada e ele tentou não ficar, mas ficou, constrangido. Como se isso fosse errado. O que vc pode falar do sentimento de culpa nesse caso?
O corpo é fonte de prazeres e uma pessoa se tocar é se dar auto-prazer. A sexualidade pode ser algo bom e faz parte da natureza. Segundo a visão da igreja isso é um pecado, pois para a igreja o prazer sexual não é visto com bons olhos. Como se fosse possível vencer a natureza e negá-la. Quando a igreja, ou qualquer outra instituição, ou qualquer pessoa, combate a natureza tentando transformá-la em algo errado e sujo, cria-se a culpa.
A culpa, então, nasce quando desejamos algo que é tido como pecaminoso e feio de se viver. Alia-se a isso todas as ameaças que são impostas como forma de punição por alguém desejar seguir a própria natureza. Sexo desperta curiosidade e traz grande prazer e todos somos seres sexuados. É natural que queiramos experimentar.
Houve épocas que a masturbação era até considerada, por médicos, fonte de muitas enfermidades, o que servia ainda mais para aumentar a culpa das pessoas. Hoje se sabe que a masturbação é uma forma saudável da pessoa aprender e viver sua sexualidade. Ela não causa doença nenhuma e é um direito de quem quiser praticá-la, incluindo as mulheres.
As mulheres na história ocuparam uma posição submissa e para quem fica nessa posição muitos prazeres são negados. Por serem consideradas apenas como objetos elas não tinham direito de se manifestar e revelar seus desejos, principalmente o sexual. Não é à toa que em muitas culturas ainda se pratica a extirpação do clitóris em muitas mulheres, como forma de tirar delas o prazer e o desejo. Quem deseja se expressa e começa a questionar as coisas. Para quem quer que as mulheres não questionem nada é melhor acabar com seu desejo, assim elas passam a ser controladas. Felizmente, o mundo hoje está melhor, em alguns lugares, para as mulheres, que podem descobrir como fazer uso de sua sexualidade e viver uma vida mais plena.
Tenho 34 anos e sou apaixonada pelo meu namorado. Estamos juntos há quase um ano e já me imagino entrando na igreja e a festa de casamento. Quero muito que ele queira isso tb. Só que ele falou em separar semana passada por isso corri pra te escrever pra saber o que posso fazer. Ele só liga pros amigos dele e pouco pra mim. Ele disse que gosta de mim, mas não quer casar. Ele tb disse que está cansado de mim porque acha que eu sou muito ciumenta. É que ele é muito bonito e sei que tem menina aí que dá em cima dele e tenho que cuidar do que é meu. Brigamos muito feio semana passada. Ele queria jogar bola com os amigos nos sábado e eu queria que ele ficasse comigo e aí tranquei ele em casa. Ele acabou pulando o muro e ficou 3 dias sem falar comigo. Quando a gente conversou ele falou em dar um tempo. Senti que meu coração parou. Eu morro se ficar sem ele. O q posso fazer pra não perder ele? Por favor me ajuda.
Fica claro que você desconhece o que seja amor, apenas conhece a paixão. Você está apaixonada por um relacionamento que não existe, a não ser na sua ilusão. Pelo que escreveu você não o ama, porque quem ama considera o outro como pessoa e você só está obcecada pelo o que ele te representa.
Você já se imagina casando e nem liga para o que ele sente ou pensa a respeito disso. Só o que importa é o que você quer. Essa é uma atitude egoísta totalmente contrária a do verdadeiro amor que sempre presta atenção no que o outro quer. Você o trata como se fosse um objeto que você possui e que decide onde vai colocá-lo, quer ele queira ou não.
Seu namorado tem toda a razão em ficar bravo com você por tê-lo trancado na sua casa. Foi um ato de extrema violência que não se justifica em hipótese alguma. Se o relacionamento, em menos de um ano, tomou essas proporções é sinal de que algo entre vocês não vai nada bem e vocês só têm a ganhar se repensarem essa relação.
Muito provavelmente você não se sente segura e confiante no que ele te oferece e no desatino passa a querer controlá-lo, achando que com isso vai mantê-lo. Engano seu! Quanto mais desesperada fica e mais uso do controle faz, mais você o distancia. Ele já deixou claro, ao dizer para dar um tempo, que não aceita ser tratado desse jeito. Se esse relacionamento tiver chances ainda, vai depender muito das mudanças das suas atitudes.
Caso esse relacionamento termine não precisa ser o fim do mundo. Você existe com ou sem ele. Deve aproveitar essa experiência para aprender a não se repetir mais no futuro e não condenar os próximos relacionamentos. Se conhecendo melhor faz com que seus relacionamentos também sejam melhores.
Trabalho em uma empresa que tem vários funcionários e um deles me deixa muito irritada. Ele sempre faz de tudo para me provocar e tirar meu chão. Sei que ele quer a minha posição então ele faz qualquer coisa para me passar a perna. Quando eu erro ele é o primeiro a apontar e a falar sobre isso com todos e vive me criticando. Cria fofocas sobre mim só para me deixar mal. Sempre me porto corretamente, não faço fofocas e nada, mas tenho vontade de revidar a ele com a mesma moeda. Tenho medo de que meu chefe esteja sendo envenenado por ele e passe a me achar incapaz de realizar meu trabalho. Ele vive conversando com meu chefe e se acha íntimo dele. Estou irritada e com medo desse “colega” de trabalho. Como posso reagir a ele sem me prejudicar?
Quando ele te provoca, ele te convida a reagir mal e espera que você mesma se prejudique perdendo sua posição. Se ele é como você diz, ele provavelmente é sádico e por isso mesmo gosta de jogar e tem prazer em causar sofrimentos em outros.
É muito importante que a raiva que você sente dele não te deixe cega e faça você meter os pés pelas mãos, ou seja, que você se complique, porque é justamente isso o que ele espera. Entrar no jogo dele e pagar com a mesma moeda só vai dar mais força para o sadismo dele.
A melhor reação é você nunca entrar no jogo que ele quer te impor. Você vai precisar ter o que popularmente se chama de jogo de cintura para não perder seu chão e sua posição. Você trabalhar bem e se portar como boa profissional é a melhor maneira de criar uma blindagem contra esse sujeito e suas fofocas. Persistir no bom comportamento profissional mostra aos seus colegas, a seu chefe e até a ele mesmo que você tem caráter e não se deixa abalar facilmente. Caso você perca a cabeça e pague na mesma moeda você legitima as fofocas que ele espalha e isso só dará a ele a impressão de que está certo sobre você e de que é mais forte, fazendo com ele continue a te provocar.
Numa eventual hipótese de que ele passe dos limites é importante que você tenha uma conversa com seu chefe e exponha toda a situação de forma clara e objetiva, mostrando a boa profissional que você é e que o mau comportamento desse colega está lhe prejudicando e por tabela, prejudicando a empresa também. A atitude profissional, no seu caso, é sempre a melhor política.
Tenho 48 anos e já dois filhos crescidos. Ainda estou casada com um homem que não mais me deseja. Nunca fomos felizes em nosso relacionamento, mas nunca pensei em divórcio. Hoje me encontro numa situação muito ruim. Não tenho vontade de nada. Nem de levantar da cama pelas manhãs. Não trabalho, não tenho nenhum interesse na vida. Já tentei começar uma terapia com três terapeutas diferentes, mas não deram certo. Em vez delas me aliviarem elas só me davam mais peso. Por indicação de um delas procurei um psiquiatra para tomar um antidepressivo. Mesmo assim não deu certo. Tomei o remédio por uma semana e quando vi que não mudou nada eu parei e vi que continuava na mesma. Não sei o que fazer para ter mais animo. Sinto que a vida passa e eu envelheço. Queria ter mais motivação. Meus filhos ficam preocupados, falam que eu preciso de ajuda. Eu percebi que eles não ficam contentes quando eu os visito ou eles vem em casa por causa da minha situação. Mas eles também não fazem nada para me ajudar. Só ficam dizendo que eu estou muito deprimida e que preciso de tratamento. Tenho muita vontade de dormir, só dormir. o que o senhor acha que pode mudar a minha vida? Nascer e morrer de novo? Porque eu não tenho mais idéias.
Por que será que você me escreveu? O que será que espera da minha resposta? Muito provavelmente espera que eu te ofereça um milagre que te tire da situação que você se encontra. Digo isto porque ficou claro que você espera que outros resolvam sua vida sem você ter que se mexer. Você deseja o impossível!
Já foi a três psicoterapeutas que não te deram uma solução mágica e isso te desmotivou a continuar. A tarefa de um psicoterapeuta não é fazer truques mágicos, mas ajudar o paciente a pensar sobre a própria vida. Se o paciente não se propõe a isso não há nada que o psicoterapeuta possa fazer. O desejo de mudar tem que ser seu e não de outro.
Tomou o remédio por apenas uma semana e esperou que isso fosse causar uma revolução na sua vida. Como sua expectativa não foi atingida, deixou de tomá-lo. Quanta irresponsabilidade!
O paciente também é responsável pelo próprio tratamento. Sem você se empenhar na sua melhora nada vai mudar. A depressão também pode ser entendida como um ódio à vida. Como sua vida não é como gostaria que fosse, como a realidade é diferente do que esperava, você passa a odiar o ato de ter que viver. Porque viver é se responsabilizar por si. Quando você me pergunta se deve morrer e nascer de novo mostra como odeia a vida. Você realmente não vive, apenas sobrevive e envelhece sem nada aproveitar.
Para começar a viver de fato precisa mudar e para isso precisa entender porque coloca as mudanças necessárias na sua vida nas mãos dos outros e tira a responsabilidade de você mesma. Enquanto ficar esperando por um milagre, ou seja, desejar o impossível, ficará fadada à infelicidade. Muito de sua melhora depende de você mesma. Boa sorte.
Talvez vc possa me ajudar. Estou desesperada comigo. Sou casada com um homem maravilhoso e que me ama e me respeita. Somos felizes e penso em envelhecer ao lado dele. Nossa vida sexual é muito boa e eu me satisfaço muito com ele. Agora vem o problema: eu o traio sempre. Quando eu vejo um home bonito na rua eu fico muito excitada. Fico molhada. Só falo isso porque criei um email falso para te mandar essa pergunta e sei que nem vc e ninguém mais vai saber minha identidade. Mas fico molhada mesmo e se o homem dar bola a gente vai parar no motel. Para mim isso é puro prazer. Eu curto muito essas transas sem compromisso. Já fazia isso antes de casar, mas pensei que depois de casada isso fosse passar, mas não passou. Por isso que to desesperada. Amo meu marido mesmo, e quero continuar com ele mas deve ter algo muito errado comigo que me leva a procurar sexo com outros homens. Será que sou uma pervertida? Uma vagabunda?
Seu intenso desejo sexual te assusta e te faz se sentir mal. Para o homem é mais fácil manifestar desejo sexual. Ele se dá o direito de olhar para uma mulher que o atraia, e faz isso sem culpa. Para a mulher isso já é mais difícil. É esperado que a mulher não tenha desejo sexual e se tiver, que deixe-o escondido. Apesar de hoje haver mudanças, ainda assim, se acha estranho a mulher querer simplesmente transar e só isso.
Acredita-se que a mulher tenha que desenvolver uma ligação romântica com o homem para se entregar ao sexo. Muitas vezes é assim mesmo, mas nem todas funcionam dessa maneira. Você deixou claro que gosta de sexo com vários parceiros e tem o desejo de experimentar e variar. É um desejo válido e pelo o qual você não precisa se sentir culpada. Se achar pervertida e se chamar de vagabunda é se prender a um moralismo que não ajuda em nada. A pergunta que você precisa se fazer é se você faz isso porque gosta e quer viver seu desejo ou se obedece à uma compulsão.
Caso seja a primeira alternativa é preciso que você se livre da culpa que sente por viver dessa forma. Assim você poderá viver suas aventuras em paz. Claro que se seu marido descobrir pode haver a chance de se sentir traído, afinal é direito dele não aceitar essa situação, mas é um risco que só você tem como saber se vale a pena. Caso esteja seguindo uma compulsão é preciso que você entenda o que é essa compulsão e se livre dela, pois compulsão é prisão e faz as pessoas agirem não de maneira natural e sadia, mas de forma a sempre se repetir.
É natural querer ter variados parceiros sexuais porque o desejo é sempre móvel, maleável e nunca fixo. Negar isso é negar a natureza. No filme francês de 1967 A bela da tarde (Belle de jour) Séverine é uma linda mulher que parte do dia é uma dona de casa e esposa e desempenha esses papéis perfeitamente, mas de tarde freqüenta um bordel onde realiza suas fantasias sexuais. Para você estar bem e viver prazerosamente é preciso que você se entenda e se livre da culpa.
Oi Sylvio! Assisti sua entrevista na TV quando vc falou da depressão pós-parto. Me identifiquei muito com o tema porque eu estou grávida de 8 meses e tenho apenas 17 anos! Tenho medo de ter depressão pós-parto e ser como aquela mulher que ligou na sua entrevista e disse que tinha vontade de matar o filho. Eu engravidei sem querer, foi uma bobagem. Transava com meu namorado mas nunca usamos camisinha. Então achei que não ficaria grávida uma hora, mas aconteceu. Meus pais ficaram muito decepcionados comigo. Meu namorado não quer nem saber de mim e da criança. Estou sozinha. Todo mundo me olha como se eu tivesse cometido um crime. Agora sei que minha vida acabou e que não vou poder ir pras baladas e me divertir. As vezes queria que a criança nascesse morta para eu poder continuar vivendo minha vida como sempre. Quero ser uma jovem normal e agora não vejo possibilidades de viajar, gastar dinheiro comigo e comprar as cosas que quero. Tenho ódio dessa criança e me sinto má. Vc acha que eu posso mudar o que sinto em relação a essa criança?
Praticamente todo mundo sabe como fazer para evitar gravidez. Camisinhas e pílulas são alguns dos métodos ao alcance para que uma indesejada gravidez não aconteça. Praticar sexo bom exige responsabilidade. Você e o pai dessa criança foram irresponsáveis quando não pensaram nas conseqüências de se entregar ao prazer de forma tão descuidada.
O grande problema é que essa criança não pediu para nascer, ela não tem culpa de estar vindo ao mundo. Mesmo assim ela já tem a posição de indesejada, aquela que vem para trazer problemas e acabar com sua vida. Nascer sob esse signo é ruim e pode marcá-la muito negativamente. Numa gravidez desejada os pais sonham com a criança, se encantam, já vocês, sonham em se livrar dela. Não pôde nem mesmo dar uma identidade a ela, chamando-a apenas de criança, nem mesmo dizendo se se trata de uma menina ou menino. Com 8 meses de gestação você possivelmente já sabe o sexo.
Claro que sua vida não vai ser mais a mesma e é isso que te assusta. Muitas mudanças ocorrerão. Mas isso não é o fim da vida. Você fala como se assim fosse. Você não precisa deixar de viver porque tem um(a) filho(a), só que agora vai demandar que você seja mais responsável pelos seus atos e pense bem antes de agir. Vai precisar aprender a viver sua juventude com a responsabilidade de ser mãe. Sei que não é fácil, mas não é impossível.
Acho que seria muito bom você procurar a ajuda de um analista que saiba te escutar e te ajude nessa fase que está vivendo. Falar pode te ajudar a pensar sobre tudo isso que está te acontecendo e tirar aprendizagens importantes para a sua vida. Ao saber mais sobre você, talvez você possa mudar o que sente em relação a essa criança que não tem culpa do que você está passando.
Sou um homem pai de família e sempre correto com minhas mulheres. Tenho uma esposa e duas filhas. Minha filha mais velha tem 17 anos. Ela quer fazer vestibular para direito e o problema é que eu não acredito que uma faculdade seja bom. Claro que estudar é bom, mas nas faculdades eu só vejo jovens perdidos e drogados. E ela quer namorar um rapaz aí, a minha mulher me contou. Não sei quem é esse rapaz, só sei que ele nem evangélico é. E isso não vou permitir. Nós somos evangélicos e eu não quero que ela namore alguém que não seja digno dela. Eu quero alguém correto. Queria casar minha filha com alguém de respeito. Só que ela anda ultimamente muito revoltada e me peitando. Ela não entende que eu só quero o bem dela. Eu sou o homem da casa e não admito desrespeito comigo. E não quero perder minha filha. O que eu faço para ela entender a situação?
Não quer que a filha estude porque nas faculdades só tem perdidos e drogados. Não permite que ela namore e quer que se case só com alguém que seja do seu critério. É o homem da casa e não admite ser contrariado. Céus! Em que século você parou? Se assemelha àquela imagem dos antigos coronéis que tratavam a família e principalmente as mulheres como se fosse seu rebanho de cabras. Elas não são cabras, mas pessoas.
Sua filha não é uma propriedade que você tem a posse, portanto não há porque temer perdê-la. Só se perde o que se tem. Agora você pode sim perder a confiança dela. Já está perdendo. Para que isso não piore é necessário que você mude e pare de agir de forma tão arcaica.
É compreensível que sua filha o esteja peitando. Ela quer e tem o direito de descobrir a vida. Nem todos os universitários são drogados e perdidos e ela só tem a ganhar em estudar e se tornar uma boa profissional. Quer tirar isso dela? Quanto ao namorado, pois possivelmente eles já estão namorando, você fez dele o demônio sem nem mesmo conhecê-lo. Se você abrir a porta da sua casa a esse namoro você terá a chance não só de parecer mais acolhedor como também vir a saber que esse rapaz pode ser muito bom, mesmo não sendo evangélico. Ou será que você pensa que só evangélicos têm bom caráter?
Sua filha não precisará te peitar se você passar a tratá-la como uma pessoa. Quem impõe regras ditatoriais e impossíveis de serem seguidas convida o outro a transgredir. Você se apega a ilusão do controle e quando abrir mão dessa ilusão e priorizar um verdadeiro relacionamento com sua filha ela poderá te respeitar. Caso persista na imagem do velho coronel você só a afastará.
Morro de inveja da minha irmã. Ela é casada com um home bonito e rico, tem um bom trabalho e não precisa se preocupar com nada. Eu nem namorado tenho, trabalho num lugar que nem paga bem e só tenho tristezas. Quando minha irmã conta algo bom eu não consigo me controlar e fico de cara amarrada. Não sorrio e o dia acaba para mim. Me assusto comigo mesma ao perceber que posso ter tanta inveja assim da minha irmã que sempre foi muito boa. Queria ser ela e ter a vida dela. Não queria ser quem sou. As vezes de noite eu fico criando ilusões e um dia sem querer eu imaginei que minha irmã morria num acidente e eu pegava o lugar dela e tinha a vida dela. Na hora foi tão boa essa ilusão, mas agora me sinto suja. Como domino a minha inveja?
Você diz que “foi sem querer” que imaginou a morte da sua irmã e você tomando o lugar dela. Sem querer implica um descuido da parte de alguém, algo que alguém não tencionava fazer. No seu caso o descuido foi da sua consciência que permitiu que esses impulsos existentes na sua mente viessem à tona revelando a destrutividade da inveja que sente.
Fica claro no seu email que você considera sua irmã uma pessoa que tem tudo e você nada. Por que será que você precisa se colocar para baixo? Por que você estabeleceu como verdade que sua irmã pode tudo e você nada? Será que há um prazer inconsciente em colocar as coisas nestes termos? Poderá encontrar as respostas para essas perguntas ao analisar sua história de vida e assim se libertar desse sentimento de menos-valia e não ficar mais presa à posição que hoje você está.
O que te assustou foi se dar conta de que a inveja é um sentimento altamente destrutivo. O popular mau-olhado é quando você se olha de uma maneira cruel, destruindo tudo que de bom pode haver em sua mente. Quanto mais você ataca o objeto da sua inveja mais você se sente desprovida de coisas boas o que por fim alimenta ainda mais a inveja que tem dos outros. É um circulo vicioso que pode ser quebrado à medida que for construindo uma imagem de si mais auto-confiante nas suas capacidades e potencialidades.
Ao se debruçar sobre sua história há a chance de ver a origem desses sentimentos, se reconstruir e colocar mais coisas boas em sua mente para assim não ficar tão vulnerável à inveja. Para conseguir dominar a inveja que sente é preciso que você venha a construir uma mente, largar mão do imperativo que a leva a se rebaixar e começar a viver a sua vida. Seria bom você contar com a ajuda de um analista que saiba te escutar e te ajude nesse trabalho.
Oi Sylvio
Tenho gostado de ler seus textos.
Minha questão é sobre a sua observação nos textos.
Será que o trabalho árduo não é ideologia?
Por que a evolução só poderia vir dessa forma e não simplesmente com o prazer?
O que amamos, fazemos intensamente sem questionarmos ou sentirmos o esforço.
Detesto a idéia de ter que sofrer pra crescer...
Tenho gostado de ler seus textos.
Minha questão é sobre a sua observação nos textos.
Será que o trabalho árduo não é ideologia?
Por que a evolução só poderia vir dessa forma e não simplesmente com o prazer?
O que amamos, fazemos intensamente sem questionarmos ou sentirmos o esforço.
Detesto a idéia de ter que sofrer pra crescer...
Você detesta a idéia de ter que sofrer para crescer assim como todo mundo também não gosta disso. Não é uma idéia que em princípio seja muito motivadora. Ninguém gosta de sofrer e se pode evita o sofrimento a todo custo. No entanto, apenas evitar o sofrimento e se prender ao prazer é uma forma de negar a realidade da vida.
Isso não quer dizer que precisamos buscar o sofrimento à toa. Ir atrás dele é masoquismo e não leva a nada. Mas não podemos fugir dele quando ele aparece e o sofrimento, uma hora ou outra, quer queiramos ou não, sempre aparece e se pudermos passar por ele e aprender só teremos a ganhar. Para crescer é preciso lidar com o sofrimento. O próprio ato de nascer já traz sofrimento para a mãe e o bebê.
Em 1911 Freud escreveu um de seus artigos mais importantes: Formulações sobre os Dois Princípios do Funcionamento Mental que apresenta a idéia do princípio do prazer e do princípio da realidade. O principio do prazer se caracteriza pela atividade psíquica que deseja se livrar de qualquer coisa que causa desprazer. Evita o sofrimento seja negando, alucinando, recalcando e etc. Já o princípio da realidade é aquele que permite ver que a vida não é como gostaríamos que fosse e que nem tudo podemos. Saber disso causa sofrimento já que acaba com nossa noção de um mundo idealizado. Porém, ao aceitarmos essa realidade há a chance de usar nossa mente para melhorar e construir um mundo melhor. Enfim, há a chance de evoluir.
Peter Pan não queria crescer, desejava sempre permanecer num estado de prazer, pois não admitia o sofrimento inevitável que vem com o crescimento. É claro que se aprendemos a amar a vida, mesmo com todo o sofrimento que ela impõe, o fardo se torna bem menor de se carregar. Pode sim se tornar prazeroso e nos fazer dar vivas por estarmos vivos.
É um absurdo os conselhos que você dá. Fico revoltada. Você incentiva a homossexualidade e destrói os valores da família. Prega o divorcio como se isso fosse bom. Fala que homens pode ficar com homens. Onde isso vai parar? Só existe uma pessoa autorizada a resolver problemas. JESUS CRISTO. Os psicólogos são um câncer na sociedade e todos deviam ser exterminados. As pessoas pecisam saber a noção do que é certo e errado e não serem incentivadas a fazerem o errado. Voce consegue dormir sabendo que está contribuindo para a destruição do mundo? Duvido que voce publique meu e-mail. Pessoas como vc não admitem ser criticados.
Você desconhece que há uma enorme diferença entre criticar e atacar. Você faz uso do ataque, pois teme as diferenças e quem pensa diferente de você. Por você, todos seguiriam uma mesma cartilha, ou seja, você valoriza a falta de liberdade.
Atacar as diferenças demonstra ignorância e intolerância tornando-a parecida com uma radical extremista. Os radicais odeiam aqueles que pensam diferente deles e fazem uso do ataque, que pode ser a violência verbal ou até física, para impor o medo. Foi assim que tentou fazer comigo. Você esperava que eu temesse sua ira e ficasse calado.
Cada um tem o direito de viver a vida como bem entender, contanto que não tire a liberdade e a dignidade do outro. A noção do que é certo ou errado para a vida de alguém não é algo estabelecido e permite toda uma variedade de tonalidades. Você só consegue enxergar preto e branco. Limita sua visão e com isso tem raiva daqueles que podem e se permitem enxergar outras cores.
É interessante notar que apesar de você não gostar e até repudiar meus pensamentos, você bem que lê bastante o que eu escrevo. Faz isso porque é dominada pela inveja. Não admite alguém ser livre para pensar por conta própria e não seguir nenhuma cartilha e também você não é capaz de perceber que ao se entregar ao ódio você se torna uma pessoa amargurada e inconveniente.
Tenho 23 anos e sempre fui um cara que gosta de mulher. Já estou na minha terceira namorada fora alguns casos que já tive. Mas algo me aconteceu que me deixou com medo. Um dia eu tinha bebido além da conta e eu e um amigo fizemos sexo. Não nos falamos mais depois disso e na verdade não sei como isso foi acontecer. Desde então eu estou achando que posso ser gay. Mas se eu gosto de mulher como posso ser gay? Existe mesmo a tal da bissexualidade? Que será tudo isso?Queria que vc me respondesse se é possível alguém virar gay.
A identidade sexual não é uma coisa tão definida e fixa quanto a maioria das pessoas acreditam. Você diz que sente atração por mulheres e se assustou muito por perceber que também pode sentir atração por homens já que acabou transando com o colega. Mas por que você precisa de um nome para o que você é? Procura por um rótulo para assim se sentir mais seguro e menos confuso?
Freud foi um gênio quando ousou estudar a sexualidade humana sem falsos moralismos e descobriu que as pessoas não se encaixam na faixa dos cem por cento heterossexual ou homossexual, mas que há gradações nessa escala. E uma delas é a bissexualidade. Claro que ela existe!
Se você é bissexual eu não sei, mas também procurar por rótulos não vai te ajudar em nada. Até porque a identidade sexual é maleável e portanto as definições mudam conforme você for mudando e se conhecendo mais.
O fato de ter transado com o colega não o torna gay, mas também não precisa ser o fim do mundo caso você venha a se descobrir mais atraído por homens. Homossexual também é gente e não um ser do outro mundo.
Alfred Kinsey foi um zoólogo americano que realizou uma das maiores pesquisas sobre sexualidade já feita. Numa das conclusões, que criou um escândalo que causou sérios danos à sua reputação, foi descobrir que mais ou menos 37% dos homens americanos da década de 30 havia tido pelo menos uma relação homossexual. Como você pode notar isso é mais corriqueiro do que você pensa.
Estou num dilema. Tenho 28 anos e me considero uma mulher atraente. Quando ando na rua os homens costumam olhar para mim sempre. Nunca tive dificuldade nenhuma para arrumar paqueras. Agora estou dividida em dois. Há um homem que está sempre atrás de mim. Ele me quer e já deixou claro que quer um relacionamento sério. Ele é daqueles que pedem em namoro e tal. Insiste muito que eu fique com ele. Tem um problema: ele é feio. Nada, nada bonito.
No entanto tem outro homem que me quer. Mas com ele é coisa só de curtição. Só que ele é lindo. De encher os olhos. Só que ele sai com tudo que é mulher e não se entrega pra ninguém.
Não sei o que fazer. O que valorizar?
No seu email você disse estar dividida em dois e não entre dois. Não sei se isso foi intencional ou não, mas de qualquer forma revela a posição em que você se encontra. Você pode perceber que há dois lados seus. Um deles quer só curtir e se apegar ao que é belo. O outro parece se preocupar em construir um relacionamento.
Quem não gosta do que é belo? Uma pessoa que é bonita atrai mesmo, só que com esse que é bonito você já sabe que não passará de um momento. Depois acaba. Com o outro você sabe que há a possibilidade de ter algo a mais.
O que posso lhe dizer é que a beleza física tem uma data de validade, ou seja, uma hora termina. Inclusive a sua. Ela não vai se sustentar para sempre. Basear-se na beleza apenas é entrar numa barca furada. O outro não é bonito, você diz, mas será que há a chance de ver além da aparência e gostar?
Não há uma resposta para o dilema que você se encontra. A resposta está naquele lado que você decidir valorizar mais em você. Depende da estrada que você decidir pegar. O que lhe é mais importante: apostar num relacionamento que pode se desenvolver ou se entregar apenas ao prazer e se divertir?
Tenho 24 anos, há 6 anos estou com um rapaz de mesma idade que eu, nosso namoro teve alguns altos e baixos, e, por umas 3 vezes chegamos a terminar, e, ficamos com outras pessoas quando separados. Tinhamos muitos problemas por pensarmos diferente e também porque a família dele não gostava de mim, eu não tinha muita paciência com essa situação e acabava terminando. Há dois anos e meio estamos juntos, pois tive uma filha dele e decidimos que íamos tentar constituir nossa família, foi aí que surgiram mais problemas.
Eu já sou formada, tenho cursos de pós-graduação e não tenho muitas dificuldades em encarar as situações de minha vida, pois desde cedo tive que me virar, ele, ao contrário, foi criado e superprotegido pelos avós, ainda não terminou a faculdade e não sabe o que quer da vida.
Pensando no bem da nossa filha aceitei morar com ele na casa dos avós dele, pensando que com o tempo ele ia tentar arrumar um emprego melhor para conseguirmos ir para uma casa, mesmo que alugada, pois foi aí que me enganei, ele se sabota por dizer que se sairmos da casa dos avós dele passaremos necessidades, e fala que tem medo de deixar algo acontecer, etc e tal.
Bem Silvio, a questão é: há um bom tempo venho pensado em me separar dele, pois não só quero como necessito de um lugar para morar que seja "meu", mesmo que alugado, pois sempre gostei de fazer muitas coisas que na casa dos avós dele não dá.
A questão é, eu gosto dele, mas já não tenho certeza se o amo como antes, hoje penso em seguir minha vida e deixá-lo, já que ele não se decide. Mas penso e pondero muito por causa de minha filha, o que você me diria?
Eu já sou formada, tenho cursos de pós-graduação e não tenho muitas dificuldades em encarar as situações de minha vida, pois desde cedo tive que me virar, ele, ao contrário, foi criado e superprotegido pelos avós, ainda não terminou a faculdade e não sabe o que quer da vida.
Pensando no bem da nossa filha aceitei morar com ele na casa dos avós dele, pensando que com o tempo ele ia tentar arrumar um emprego melhor para conseguirmos ir para uma casa, mesmo que alugada, pois foi aí que me enganei, ele se sabota por dizer que se sairmos da casa dos avós dele passaremos necessidades, e fala que tem medo de deixar algo acontecer, etc e tal.
Bem Silvio, a questão é: há um bom tempo venho pensado em me separar dele, pois não só quero como necessito de um lugar para morar que seja "meu", mesmo que alugado, pois sempre gostei de fazer muitas coisas que na casa dos avós dele não dá.
A questão é, eu gosto dele, mas já não tenho certeza se o amo como antes, hoje penso em seguir minha vida e deixá-lo, já que ele não se decide. Mas penso e pondero muito por causa de minha filha, o que você me diria?
Lendo seu email veio uma imagem à minha mente: você e seu companheiro em barcos diferentes, partindo para destinos diferentes. Vocês viveram um romance, tiveram uma filha e compartilharam uma história, mas agora você sente que está terminado e chegou o momento de partir. Qual é o seu medo de partir de fato para o seu destino?
Fins de relacionamentos são sempre dolorosos e a dúvida do que fazer nessas horas sempre se fazem presentes. Ainda mais levando em conta a existência de uma filha. Mas se apegar àquilo que já não mais funciona é perder. Um relacionamento dura enquanto tem sentido. Quando o sentido acaba é necessário terminar uma etapa e começar outra.
Você é estudada, corajosa e está com vontade de experimentar a vida. Quer alguém que compartilhe essas suas características para caminharem juntos. Isso é algo que você sabe que não encontrará com ele. Hoje você não sente mais admiração por ele. Está cansada da falta de atitude dele tanto que só voltou a ficar e a morar com ele por causa da sua filha e não porque você acreditava neste relacionamento e agora percebe que ele não pode te dar o que você quer.
Na vida há sempre movimentos de perder e ganhar. Você o deixando vai perder algumas coisas, mas poderá ganhar outras. Sempre há um preço a pagar. Agora cabe a você colocar na balança o que vale mais a pena e seguir adiante. No seu email você se mostrou articulada e clara no que pensa. Não tenho dúvidas de que você encontrará o caminho para o seu destino.
As pessoas não gostam da minha companhia. Acho até que me evitam a todo custo. Não sei porque. Até mesmo quem trabalha comigo não gosta de mim. Sei que fazem festas para as quais não sou convidada. Minha família também não me aprecia. Sou boa, nunca faço mal a ninguém. As pessoas tem prazer em me desafiar. Estou sempre sendo desafiada. Tudo o que eu falo me contradizem. Acham que eu sou muito crítica, mas na verdade sou realista. Será que eu tenho que ser falsa para ser querida? Não acredito num mundo onde eu tenha que ser falsa. Prefiro a solidão do que ter que ser falsa. O senhor não acha que estou certa?
Sinhozinho Malta, personagem do ator Lima Duarte na novela Roque Santeiro (Globo, 1985), costumava terminar suas afirmações girando o pulso fazendo com que o relógio fizesse o barulho do chocalho de uma cascavel e com o bordão To certo ou to errado? Ele desafiava qualquer um que ousasse contradizê-lo e o tornava uma figura que não era querida pelos outros personagens. Será que os outros lhe desafiam ou você que os desafia?
Você olha muito para as atitudes dos outros e parece não perder muito tempo em avaliar como suas ações podem ser responsáveis pelo o que está lhe acontecendo. Parece que você está muito mais interessada em confirmar suas opiniões do que realmente conversar com os outros. Tanto que você termina seu email para mim esperando minha concordância com sua opinião.
Agindo desta maneira você se torna o que popularmente se chama de estraga-prazer. E quem vai querer convidar e se aproximar de alguém que é estraga-prazer e para quem o tempo está sempre fechado e nebuloso? Certamente ninguém.
Não duvido de que você seja uma boa pessoa, mas precisa saber aprender a se relacionar. Para isso vai precisar largar mão do desejo que tem de desafiar os outros e de que os outros sempre concordem com o que você pensa. Enfim, vai ter que aprender a abrir o céu interno para ser mais convidativa para com os outros. Criticar pode ser sadio, mas é preciso saber a forma e a hora em que se faz a crítica. Criticar a torto e a direito lhe torna uma pessoa indesejável e não uma pessoa realista como você pensa.
Tenho 34 anos e sou casada há três. Vivo muito bem com meu marido. Curtimos a vida e somos felizes em nossos trabalhos, mas ultimamente algo vem me preocupando. Não sei se quero filhos e nem meu marido. Mas nossas famílias dizem que devemos ter filhos logo. Que se eu não tive-los eu irei me arrepender. Dizem que uma mulher só é completa se for mãe. Me sinto mal por não ter esse desejo intenso de ter filho e tenho medo de que isso revele que sou insensível. Por que tantas mulheres desejam tanto um filho e eu não? Será que sou egoísta? Dizem que um filho é a luz da vida, mas sinto que a luz da minha vida sou eu e meu marido.
Há mulheres que desejam filhos e outras que não. O que não pode haver é generalização dizendo que todas as mulheres são iguais e só se realizam de fato quando cumprem o papel materno. Pensar desta forma é ignorância e mesquinho com seu desejo.
As únicas pessoas que podem decidir se querem ou não um filho é você e seu marido. Afinal, seriam vocês que teriam que se responsabilizar pela criação dessa criança. Portanto, só mesmo vocês podem saber o que desejam para suas vidas. Ser mãe implica muito mais do que apenas engravidar, parir e jogar o filho no mundo. A maternidade passa pelo desejo. E pelo que você me disse, ao menos neste momento, não é o que você quer. Então não caia no engodo de que a mulher tem um papel a cumprir e que só se satisfaz ao se tornar mãe.
Você ainda é jovem e tem alguns anos para realmente saber o que você e seu marido querem. Use mais seu tempo para conhecer seu desejo e não ficar se colocando em dúvida baseada no que os outros esperam de você. Se você decidir algum dia ser mãe, faça isso pelo seu desejo de ter um filho e não para seguir convenções. A vida é sua. Quem paga o preço por ela é você, por isso é importante você decidir bem o que quer fazer dela.
Não consigo entender até hoje porque meu filho se suicidou. Isto aconteceu há mais de 4 anos. Ele era jovem, tinha a vida pela frente e nada lhe faltava. Parecia feliz. Nunca percebi nada de errado. Depois de sua morte minha vida desmoronou. Meu marido me abandonou e me acusou de nunca ter prestado atenção no que acontecia. Comecei a beber e vejo que estou cada vez pior. Por que alguém aparentemente feliz se suicida? Não consigo esquecer.
Estar aparentemente feliz não significa estar de todo bem. Obviamente algo não estava bem e fez com que seu filho não pudesse mais acreditar em apostar na vida e preferir a morte. O suicídio é um ato de extrema violência que uma pessoa comete contra si e deixa as pessoas ao seu redor completamente desnorteadas.
O que o levou a se matar não sei. Só ele poderia nos dar essa resposta. Agora entendo que sua vida tenha desmoronado. A morte de um filho por si só já é trágica, imagina a morte devido a um ato tão brutal como esse.
Com esse infeliz acontecimento tudo parece se desfazer. Seu marido reage de uma forma a lhe culpar e lhe abandona. Você começa a beber e se destruir tentando procurar uma explicação que talvez nunca tenha. Nem sempre podemos ter todas as explicações.
Seria tolice da minha parte dizer que um dia tudo isso vai ser esquecido. Não vai, mas o que eu posso lhe dizer é que você tem todo o direito de se refazer. Você se destruir não vai trazer seu filho de volta e nem vai dar as respostas que você tanto quer. O caminho agora é procurar se reestruturar da forma possível. Se você ainda não procurou, procure ajuda o quanto antes para aprender a suportar esta dor sem se destruir
Tenho 34 anos e sou casada há três. Vivo muito bem com meu marido. Curtimos a vida e somos felizes em nossos trabalhos, mas ultimamente algo vem me preocupando. Não sei se quero filhos e nem meu marido. Mas nossas famílias dizem que devemos ter filhos logo. Que se eu não tive-los eu irei me arrepender. Dizem que uma mulher só é completa se for mãe. Me sinto mal por não ter esse desejo intenso de ter filho e tenho medo de que isso revele que sou insensível. Por que tantas mulheres desejam tanto um filho e eu não? Será que sou egoísta? Dizem que um filho é a luz da vida, mas sinto que a luz da minha vida sou eu e meu marido.
Há mulheres que desejam filhos e outras que não. O que não pode haver é generalização dizendo que todas as mulheres são iguais e só se realizam de fato quando cumprem o papel materno. Pensar desta forma é ignorância e mesquinho com seu desejo.
As únicas pessoas que podem decidir se querem ou não um filho é você e seu marido. Afinal, seriam vocês que teriam que se responsabilizar pela criação dessa criança. Portanto, só mesmo vocês podem saber o que desejam para suas vidas. Ser mãe implica muito mais do que apenas engravidar, parir e jogar o filho no mundo. A maternidade passa pelo desejo. E pelo que você me disse, ao menos neste momento, não é o que você quer. Então não caia no engodo de que a mulher tem um papel a cumprir e que só se satisfaz ao se tornar mãe.
Você ainda é jovem e tem alguns anos para realmente saber o que você e seu marido querem. Use mais seu tempo para conhecer seu desejo e não ficar se colocando em dúvida baseada no que os outros esperam de você. Se você decidir algum dia ser mãe, faça isso pelo seu desejo de ter um filho e não para seguir convenções. A vida é sua. Quem paga o preço por ela é você, por isso é importante você decidir bem o que quer fazer dela.
Estou muito infeliz no meu casamento, mas acho que não posso me separar. Tenho dois filhos pequenos e se eu me separar da minha mulher eles vão sofrer muito. Pelo menos é isso o que dizem: que filhos de casais separados têm traumas e sofrem mais na vida. Acontece que tanto eu como minha mulher saímos com outras pessoas e não nos suportamos. Nem mesmo mais respeito temos um pelo outro. Já até nos batemos uma vez. Queria que ela tomasse vergonha na cara e pedisse logo o divórcio para podermos viver em paz. Quando nossos filhos forem maiores eu me separo, mas como agüentar até lá?
Em sua opinião crianças de pais separados carregam traumas e sofrem mais. E crianças que vêem os pais se baterem por acaso sofrem menos? Mesmo que seus filhos não tenham visto vocês partirem para a agressão física pode ter a certeza de que eles sentem de que algo vai muito ruim entre vocês e essa tensão deve ser muito mais difícil de carregar.
Precisamos ser realistas e encarar o fato de que relacionamentos acabam e muitas vezes cada um seguir com sua vida é a coisa certa a se fazer. Os divórcios existem para isso. No entanto, você se apega a um relacionamento que está acabado. Agora cabe você se perguntar o porque disso.
Seria interessante você também se questionar porque você espera sua mulher tomar a atitude de pedir o divórcio e não você. Será que ao agir assim você não está deixando de assumir responsabilidades por sua vida e jogando tudo nas costas dela? Será que desse jeito você se sente menos culpado? São questões que valem a pena você encarar de perto para quem sabe poder se livrar delas e começar a viver melhor.
Você e ela viverem bem é o que de melhor vocês podem oferecer para seus filhos. Eles precisam de pais felizes e sãos e não de pais que se odeiam e por isso mesmo pregam uma visão de mundo miserável. Procure ajuda para conseguir se separar e tocar para frente sua vida. Você estar bem é seu direito e estando bem possibilitará você cuidar melhor dos seus filhos.
Sou mão de uma moça e de um rapaz. Meus filhos já trabalham e ganham a vida e sinto que eles gostam muito de mim. Na verdade eles não precisam mais de mim. Só que eu tenho muito medo que algo aconteça com eles. Eles saem de noite e sabemos como é tudo perigoso e eu fico pensando que algo muito ruim pode acontecer a eles. Na verdade me vem cenas na cabeça de que eles estão sendo assaltados, violentados e que eu preciso ficar alerta para cuidar deles quando eles precisarem. Queria ser mais tranqüila em relação aos meus filhos, mas eles são tudo o que eu tenho na vida e ficaria arrasada se algo os tirasse de mim. Será que é normal me preocupar tanto?
Os filhos crescem e vão cuidar de suas vidas. É um processo natural que acontece ou que deveria acontecer. Será que você não está se ressentindo pelo fato de seus filhos estarem cada vez mais independentes de você e isso lhe faz se sentir com menos valor?
Digo isto porque em seu email você diz que eles são tudo o que tem na vida e ficaria arrasada caso algo acontecesse a eles. É como se você estivesse com muito medo de se ver sem eles e sente que isso já está acontecendo. É esperado que você sinta uma perda nessa fase de sua vida. Antes o relacionamento com seus filhos era um e agora as coisas mudaram, mas não significa em absoluto de que os perdeu para sempre. É uma questão de dar tempo para que você possa se sentir mais confortável e segura nesse novo relacionamento com filhos adultos.
Agora é importante você ter seus afazeres e interesses e não se ver apenas como mãe. Afinal você é mais do que uma mãe. Tem sua vida e personalidade e deve investir em coisas que lhe dão satisfação. É uma fase que você pode usar para vir a se conhecer mais e com isso expandir seus horizontes. Passando mais tempo investindo em você mesma pode lhe ajudar a não ficar tão somente focada nos seus filhos e deixá-los seguir a vida tranquilamente sabendo que você está bem.
E se coisas boas ficaram no relacionamento entre vocês não há razão para temer que eles venham a esquecê-la. Nesse caso os vínculos são fortes e seus filhos sempre terão em mente a boa mãe que você é e vão sempre se fazer presentes, mesmo que de outra maneira. O que você não pode é desejar que eles sejam dependentes, como crianças, para sempre.
Sempre quis ter uma carreira ligada à dança. Meu pai é médico e ele não admite que eu seja outra coisa a não ser médico. Mas é que nunca me senti atraído por medicina. Não quero isso pra minha vida. Me sinto muito mais feliz quando eu danço. No entanto, meu pai disse que se eu quiser fazer dança ele vai esquecer que tem um filho e não vai me ajudar em nada, pessoal e financeiramente. Ele diz que não vai sustentar filho viado e eu não sou homossexual, só gosto de dança. Sou filho único e não queria desapontar meus pais, mas também não quero me desapontar.
Vejo que você está numa situação que popularmente se diz que está no mato sem cachorro. Tem um desejo para sua vida que não está de acordo com o desejo que seu pai tem para você e ele parece bastante intransigente em mudar de opinião. Você vai ter que aprender a “dançar”, ou seja, vai ter que aprender a encontrar a maneira certa para conseguir mostrar ao seu pai o quanto a dança é parte da sua vida e que ficar sem ela vai lhe fazer infeliz.
Sei que o que eu lhe digo é difícil de fazer e não sei como você vai conseguir isso, mas sei que deve tentar se seu amor pela dança for tão grande assim como diz. Você não será feliz se não seguir aquilo que mais te encanta.
Dançar não tem nada a ver com ser homossexual e talvez este seja um ponto muito importante você mostrar ao seu pai. É claro que existem dançarinos homossexuais, bem como médicos homossexuais, mas não é a profissão que define e dita a orientação sexual.
O preconceito impera na visão do seu pai e vai exigir que você seja bem cuidadoso ao tentar lidar com isso. No filme Billy Elliot (Inglaterra, 2000) conta a estória de um menino de 11 anos que quer trocar o boxe por aulas de balé. Seu pai opõe uma resistência férrea, mas no fim, depois de muitas dores e brigas ele consegue fazer com que seu pai o apóie e alguns anos mais tarde quando Billy estréia um espetáculo o pai vai assisti-lo e se emociona fortemente. Se você decidir que sua vida depende da dança vá em frente e quebre os tabus. Boa sorte.
Tenho 36 anos, sou casado e com um filho de 4 anos. Gosto da minha mulher, mas não a amo. Meu trabalho também não é importante. Ganho pouco e estou cada vez mais desinteressado da vida. Queria gostar de viver. Vejo tantas pessoas que gostam de viver e aproveitam a vida e eu nada. A verdade mesmo é que venho pensando muito em me matar. Afinal o que tenho na vida? Creio que até minha família ficaria melhor sem mim. Como ter gosto pela vida?
“Afinal o que tenho na minha vida?” Você reparou que nessa pergunta você parece esquecer que tem um filho de quatro anos? Será que ele não merece um pai? Ou você acredita que se matando vai deixá-lo feliz? Na verdade falando assim você acaba sendo um egoísta. Egoísta porque não leva em conta o bem estar do seu filho que é pequeno e dependente de você para começar a vida e egoísta com você mesmo ao ser tão ingrato com a sua condição de estar vivo.
Ao que parece você está desanimado com a vida porque ela não saiu como você desejava. Bem, nesses casos é preciso então investigar o que você pode fazer para melhorá-la. Não tenha vergonha e nem medo para pedir ajuda para lidar com suas angústias. Você fala como se as coisas não pudessem mudar, como se fossem imutáveis. Viver assim é realmente desesperador.
Agora mudança nenhuma na sua vida vai acontecer do nada. Muito vai depender do que você vai fazer ao responder à suas questões. Sei que é difícil passar por dificuldades, no entanto, ficar apegado ao sofrimento não vai melhorar nada. Se precisar mudar coisas na sua vida para sentir mais prazer nela então faça. Mas primeiro você precisa saber o que realmente quer. E não se esqueça de pensar na herança que vai deixar para o seu filho. Quer deixar a imagem de um pai que, mesmo com angústia, procura pela vida ou a imagem de um pai egoísta que abraça a loucura?
Há algum tempo me relaciono com um homem que acho que não me ama. Estamos juntos há mais de um ano. Tenho 26 e ele é três anos mais velho. Só que ele não me assume como namorada. A família dele nem sabe de mim e os amigos sabem que ele sai comigo, mas só. A gente só se encontra quando não tem nenhum amigo dele por perto. Muitas vezes ele aparece de madrugada na frente da minha casa e me liga para eu sair e ficar com ele no carro. Ele, até hoje, nunca me levou para um motel. Acabamos transando ali mesmo no carro bem rápido. Como posso mudá-lo e fazê-lo gostar mais de mim?
Creio que para começar você deveria mudar a pergunta com a qual terminou seu email. Em vez de se perguntar como mudá-lo seria melhor você se questionar como você pode mudar para gostar mais de si. A gente não tem controle sobre o que o outro sente, mas temos o controle sobre o que a gente sente. Vale a pena pensar porque você entrou e permaneceu nessa situação.
Pelo o que você me escreveu esse sujeito não tem interesse nenhum em construir um relacionamento com você. Ele só está interessado em lhe usar. Aliás, ele usa e abusa e nem sequer dá a mínima para os seus sentimentos. Só quer saber de si mesmo. No entanto, e isso é importante ressaltar, ele só consegue fazer isso tudo com você porque você abriu espaço para isso. Se coloca sempre disponível para os desejos dele e também não dá a mínima para si própria. Até mesmo se põe em risco por ficar transando num carro na rua em meio à madrugada.
Em vez de esperar por uma mudança dele, você deve ir atrás do seu caminho. Deve buscar se conhecer mais para entender porque fica presa a um homem que não lhe respeita e aí parar de se repetir e trocar essa imagem, muito para baixo, que você tem de você por outra que lhe seja melhor. Quando você começar a se amar não vai mais tolerar situações como essa.
Tem uma coisa que vem me assustando. Eu minto muito. Tudo na minha vida que eu conto é invenção. Sempre conto coisas que nunca aconteceram, mas tudo o que eu invento é para dar mais “emoção” e parecer que tenho uma vida legal. Meus irmãos são professores universitários e tem uma vida boa. Nada me acontece e sou a pessoa mais sem graça do mundo. Me comparo a eles e vejo que realmente nunca fiz nada por mim a não ser mentir. Agora estou viciada na mentira. Algumas pessoas vem percebendo que eu minto e estão se afastando de mim e tirando sarro. O que me acontece?
Por não gostar da sua realidade você cria uma estória cheia de “emoções”. Mas isso é bom para quem escreve um livro, não para quem precisa viver a própria vida. Se apegou tanto à sua ficção que passou a encará-la como sua realidade. No entanto, como diz um ditado popular, viver de vento não enche barriga e hoje você percebe que está de barriga vazia, ou seja, não se sente satisfeita.
Por que diz que sua vida é tão sem graça? Por que você se coloca numa posição tão desvantajosa? E por que você tem que se comparar com seus irmãos? Eles têm a vida deles e você tem a sua e o melhor que você pode fazer é cuidar da sua vida. Pelo que você me escreveu parece que seus irmãos cuidaram da própria vida e você nunca valorizou as suas experiências.
Seria muito bom você procurar ajuda para entender porque investiu mais na ilusão em vez de enfrentar suas questões e passar a viver a vida mais intensamente. Enquanto ficar apegada a mentira você se engana e não abre espaço para realmente buscar realizações. Ninguém precisa criar emoções na própria vida, mas quando você passar a vivê-la de fato as emoções acontecem.
Está na hora de acordar para a vida e deixar de ficar apenas sonhando. O tempo passa e se você não souber usá-lo poderá chegar um momento de grande arrependimento. Use toda a sua criatividade para se exercitar na escrita e passe a encarar a sua vida não como ficção, mas sim como algo muito precioso que exige cuidado e empenho.
Sou uma mulher amargurada. Tenho 40 anos e sou separada de um relacionamento de 10 anos com um homem que nunca me deu valor e me traía sempre. Mesmo assim estou arrependida de ter me separado, já que agora estou completamente sozinha. Não tenho filhos e nem vida pessoal. É sempre casa – trabalho – casa. Estou velha agora para ser amada por outro homem e isso me dá um sentimento de nulidade. Nem sei por que estou viva. Há alguma coisa que eu possa fazer?
Você está enganada em acreditar que o amor só existe para os jovens. Ele existe para qualquer idade, mas me parece que você não bota fé nisso. Você mostra a necessidade da existência de um outro para se sentir com algum valor. Arrepende-se de ter se separado mesmo se tratando de um relacionamento que lhe deixava mal. Vamos pensar. Será que valeria a pena sustentar uma relação insatisfatória e até humilhante e se privar de sua liberdade e auto-valorização?
Ter quarenta anos não é o fim da vida. Há ainda muito a ser vivido e experimentado se você se permitir. Seria muito bom você se analisar e descobrir porque se sente tão na dependência dos outros e dos homens em particular. E na análise experenciar um novo nascimento que lhe possibilite gozar da vida estando só ou acompanhada.
Nascer não é somente um ato físico, mas é um processo que se dá todos os dias em nossas vidas. E em cada novo nascimento uma descoberta de como melhor aproveitar nossos talentos e desejos se apresenta. Busque ajuda para se olhar com amor e jogue a sua crença de que está destinada à infelicidade no lixo.
Tenho 24 anos e sou homossexual. Ainda moro com meus pais e nem eles e nem meus amigos sabem da minha orientação sexual. Estou desempregado e cansado da vida. Queria ter um relacionamento amoroso, mas todos os homens com quem me envolvo só querem saber de sexo e nada mais. Acho que deveria ir embora de Londrina. Aqui não tem homens sérios e nem perspectiva de trabalho. Na verdade nem sei o que fazer da vida. O que você acha de tudo isso?
Muito desânimo para alguém tão jovem! Sua desesperança vem do fato de você não se permitir ser quem você é. Quer um relacionamento amoroso, mas está realmente aberto a isso? Como poderia assumir um namorado se afinal nem seus pais e seus amigos sabem de sua orientação sexual e muito provavelmente você não se sente confortável e seguro em se assumir. Poderia começar se questionando se você aceita a sua homossexualidade.
O problema não é Londrina e nem os homens daqui, mas como você se vê impossibilitado de se realizar aqui. Homens que só querem sexo e desemprego existem em qualquer lugar. Se você acredita que pode ser feliz em outro lugar então vá, mas faça isso só se for realmente o seu desejo e não apenas para evitar enfrentar essas questões, pois estas irão com você em qualquer lugar até você elaborá-las.
O que você não deve é perder tempo. O tempo é precioso demais e você tem o direito de viver sua vida plenamente. Não gaste energia se lastimando e procurando culpados, mas sim se descobrindo e se permitindo trilhar o seu caminho.
Você me diz que nem sabe o que fazer da vida. Na verdade está me dizendo que não reconhece o seu desejo. Por isso é vital você se conhecer. Não tenha medo de se descobrir e use toda essa descoberta para lhe ajudar a batalhar por aquilo que deseja. Só se conhecendo e sendo quem você realmente é você vai encontrar um sentido na vida.