sexta-feira, 31 de maio de 2013

Pergunta de Leitor - Intriga


No passado eu e minha mulher tivemos alguns desentendimentos. Nos separamos por um tempo, nada jurídico, mas de corpo e ficamos uns seis meses sem um ver o outro. Nesse tempo tive outras mulheres, mas ganhei a certeza de que amava mesmo a minha mulher. Voltamos e logo depois ela engravidou. Ela foi totalmente honesta e me disse que o filho não era meu, mas de um relacionamento casual que ela teve antes de voltarmos. Ela chorou e disse que se arrependia e que o homem nada significou para ela. Ela até propôs fazer um aborto. Nós conversamos e decidimos que o filho que ela carregava era para todos os efeitos meu de fato. E assim foi. Hoje vivemos bem e o passado é o passado. Nasceu nossa filha que tem hoje 4 anos e é a minha princesa. A grande verdade é que sinto ela como minha filha mesmo. Não tenho dúvidas a esse respeito. O problema é minha mãe. Ela desconfia que minha menina não seja minha filha biológica e vive me falando isso. Faz distinção entre minha filha e outros netos e quer que eu faça um teste de DNA para provar se é mesmo minha filha. O que faço? Será que me abro com ela? Mas tenho medo de que ela vai contar para todo mundo e não quero que isso aconteça. Não quero que ninguém olhe para minha filha e para mim e minha mulher de um jeito estranho, mas não sei como proceder. O que acha?

            O que torna alguém nosso filho é o amor e não a condição sanguínea. O que une uma família é a qualidade dos relacionamentos e não a força do sangue. Por isso mesmo que uma família pode se constituir de variadas maneiras e com variados personagens. Não há o jeito certo de ser família. Quando há amor na vida da família é o que importa, o resto é simplesmente o resto.
            A menina é sua filha e isso você deixou bem claro. Parabéns por ser capaz de amar sem preconceitos. Essa atitude não é para qualquer homem. Só para aqueles que contam com grande capacidade de amar. O que a torna sua filha não é o sangue que ela carrega, mas a forma que você pode amá-la. Você ama sua filha e sua mulher e isso fortalece a união de vocês. Consegue deixar o passado para trás, viver o que há de bom hoje e constrói um futuro bonito, então por que estragar tudo isso? Por que não preservar o que você vive e que não diz respeito a mais ninguém?
            Sua mãe causa intrigas e o melhor que você pode fazer a esse respeito é podar essa atitude dela. Quem teria que se chatear ou se preocupar com essa situação é você, mas você não tem nenhuma preocupação a esse respeito. O que lhe perturba é o fato de sua paz familiar estar em perigo com a insistência de sua mãe. Ela valoriza o sangue e a tradição e não parece ser capaz de reconhecer a força do amor. Será que você precisa mesmo abrir o jogo com alguém que você não confia, mesmo que seja a sua mãe?
                A questão que você enfrenta é se vai entrar na intriga da sua mãe. Otelo, obra de Shakespeare, conta com maestria o poder devastador que uma intriga pode ter. O pérfido Iago faz variadas intrigas sobre Desdêmona para Otelo, seu amado, e no final uma tragédia acontece. Quem entra numa intriga não pode esperar um bom resultado. Você precisa, o quanto antes, cortar essa atitude de sua mãe, afinal ela está se metendo onde não deve. É a sua paz e a da sua família que está em jogo e isso não deve ser desprezado. Seja diferente de Otelo e evite intrigas e tragédias.


segunda-feira, 27 de maio de 2013

Sem Contenção


            Semana passada um boato sobre o fim do programa do governo federal Bolsa Família criou toda uma série de confusões. Esse programa social funciona como um repasse de renda para a população menos favorecida economicamente, portanto, ele é dado para os mais carentes que dependem desse dinheiro e alguns dependem dele até para poder sobreviver. Saber disso torna compreensível a preocupação dessas pessoas com esse boato, mas o que se viu se tornou um show de indignidade.
            A indignidade está na maneira com que os beneficiados pelo Bolsa Família reagiram. Muitos foram a agencias bancárias e chegaram a quebrar portas e caixas automáticos, ameaçaram gerentes e bancários e em alguns lugares chegaram a depredar bens públicos. Enfim, um teatro de horror e indigno de um povo que quer se dizer justo. É até compreensível a preocupação dessas pessoas, mas não é compreensível e desculpável a falta de contenção que só leva à violência.
            No Japão há cerca de dois anos com o terrível terremoto e tsunami que destruíram cidades e deixaram famílias inteiras desabrigadas não se viu um único sinal de violência e depredação. Todos os japoneses atingidos pela calamidade foram respeitosos com seus vizinhos e com o bem público. Deram um exemplo de contenção e mostraram ao mundo que pessoas, mesmo sofrendo, podem estar organizadas e fazendo com que as coisas funcionem. O Brasil, em contraste, revelou uma população imatura e tais como crianças mimadas, que quando frustradas fazem birra, mostraram o quão estão bem mais propícias para a desordem do que para pensar sobre o que estão realmente fazendo.
            Conter as próprias emoções é importante porque significa que o pensar pode se fazer presente. Quem não contem o que sente simplesmente reage e isso pode ser bastante perigoso e destruidor. A pessoa madura diante da frustração pensa sobre o que pode ser feito, ela não parte para a destruição. E muitas vezes basta algumas pessoas descontroladas para espalhar o desespero e descontrole num grupo de pessoas bem maior. Nessas horas pensar se torna impossível e o que passa a existir é apenas a reação mais primitiva.
              Toda emoção sem controle é como um furacão que só traz destruição por onde passa. O preço do descontrole é muito alto, pois paga a pessoa descontrolada e quem estiver ao seu lado. A educação sentimental é coisa séria e que precisa ser cultivada. Não se conter é falta de educação sentimental, que é dada pelos pais, familiares, professores, agentes da saúde e sociedade como um todo. Emoções são o tempero da vida, porém quando vividas de forma bruta e sem nenhum filtro se tornam perigosas e só fazem valer o que há de pior em cada um de nós.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Pergunta de Leitora - Manipulada


Sou evangélica e sigo todas as regras da minha igreja. Vejo outras moças que também tem a mesma religião que eu mas fazem tudo diferente. Elas bebem, namoram e sei até que transam. Eu sigo tudo direitinho e todo mundo acha que sou sem graça e careta. Elas quebram todas as regras e são bem mais aceitas e os rapazes se interessam bem mais. Parece que elas vivem a vida de um jeito bem melhor e não se sentem culpadas. Falando dessas coisas com o pastor e dessa minha raiva ele me disse para ser paciente que o Senhor tem guardado o castigo delas e tem pra mim um lugar especial. Só que to ficando cansada de só esperar. Pq quem quebra todas as regras parece ter vida melhor? Estou muita confusa com as coisas que sinto em relação a religião. Mas não quero me desfazer dela. A psicologia pode dizer se vale a pena esperar tanto?

           
            Talvez a pergunta que você precise aprender a fazer seja: o que realmente você quer? Você segue todas as regras estabelecidas pela sua igreja e as palavras do pastor, mas não está satisfeita. Na verdade, gostaria de ter uma vida um pouco mais parecida com a dessas moças que você citou. Enquanto ficar dividida entre esses dois caminhos, não sairá do lugar. Será apenas uma marionete das circunstâncias.
            Seria produtivo pensar a partir de outro ponto de vista sobre essas duas posições que você coloca: a de seguir tudo ao pé da letra ou de transgredir, como se uma fosse aceitável e outra inaceitável e condenável. Está na hora de parar de trilhar caminhos decididos pelos outros e passar a trilhar o seu caminho, aquele que você pode construir. Você precisa encontrar o terceiro caminho, o seu caminho.
            Não se trata de ser santa ou pecadora, mas trata-se de ser você mesma. Parece que você começa a perceber que ficar presa a qualquer uma dessas duas posições não lhe é bom. Não é a toa que é você mesma que se sente sem graça. Você está se questionando, daí ter tido a coragem de me escrever. Estar bem consigo própria tem a ver com o sentido que você encontra na maneira que vive a vida. Hoje você se percebe sem sentido, isso quer dizer que está em conflito.

           Para se desfazer do conflito é necessário que você construa o seu caminho, ou seja, que crie o seu modo de ser e de se relacionar, tanto consigo quanto com a forma que encara a religião. Enfim, precisa ser criativa ao invés de trilhar apenas caminhos prontos. No caminho pronto, seja ele o modo de vida das moças que você citou ou as palavras do seu pastor, você é manipulada. O único caminho que pode te levar à você mesma é aquele que você mesma desbravar. O auto-conhecimento sempre foi e sempre será a única via possível para se ser mais verdadeiro consigo. Conhecendo-se melhor poderá saber o que pode ou não fazer para se sentir bem e realizada.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Desrespeito



            É muito comum ouvir reclamações sobre vizinhos. Barulhos em horas impróprias, música em alto volume e etc. Em todas essas ocorrências o que mais pode ser notado é uma completa falta de respeito ao próximo. Infelizmente o desrespeito é muito comum e isto torna as relações humanas mais pobres e até mesmo perigosas.
            Em todas as religiões sempre há a exortação para se respeitar o próximo, mesmo assim o desrespeito se faz presente e atuante. Isso acontece porque pensar no outro fica impossível quando nós mesmos não construímos uma mente para pensar sobre nós mesmos. O ato de desrespeito mostra uma pessoa primitiva, que só consegue ver a si mesmo e fica cega para o que a rodeia. O desrespeito é uma questão de educação, mas de educação sentimental.
            Todos nascemos primitivos e só queremos saber de ter nossas necessidades e desejos atendidos e se possível o mais rapidamente. Odiamos sentir frustrações e em não sermos atendidos em nossas exigências. Só que na vida nem sempre podemos ser atendidos e frustrações existem. Saber disso nos causa uma ferida narcísica, pois vemos que não temos tanto poder assim e também nos deparamos com o fato de que existem outras pessoas que também têm direitos. Não existe só nós e o nosso desejo neste mundo.
        A educação sentimental tem a ver com se educar emocionalmente para se viver em relativa paz com o próximo. É criar um espaço onde possa haver uma contenção das emoções e saber que o outro é também uma pessoa. Quando aprendemos que nossas atitudes podem causar mal e trazer conseqüências aprendemos o respeito. Quando aceitamos que nosso desejo não é a única coisa que existe no universo poderemos olhar para os lados e respeitar a existência dos outros. Na vida nem tudo podemos e saber disso e respeitar isso é que nos torna verdadeiramente humanos. 

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Pergunta de Leitora - Olhar educador



Bem, deixe te fazer uma pergunta que ultimamente tenho observado em meus alunos. Hoje é de assustar e alarmante os casos que nós, professores, compartilhamos. Alguns com participação da família e escola, outros totalmente largados à deriva!!! Hoje tenho um olhar peculiar aos adolescentes, visto ter tido um filho que passou por um período depressivo. Você trabalha com adolescentes? O que posso saber e perceber sobre a distimia, que hoje é assunto top.  Me assusta muito o mal humor dos adolescentes, a impaciência, o querer tudo ontem e da maneira deles.

            O que te mobilizou a fazer esta pergunta tem a ver com o fato de que lidar com adolescentes não é tarefa fácil e desperta muitas angústias. Os adolescentes são seres em mutação, ou seja, estão passando por grandes mudanças internas e externas e essa fase pode ser bastante conturbada fazendo com que quem estiver a sua volta também fique confuso junto com eles. Além disso, ter tido um filho que passou por um período depressivo deve ter te feito se sentir impotente. Ao olhar para o sofrimento de alguém que nos é querido e não se sentir com poder para mudar isso pode ser bastante desesperador.
            O transtorno distímico ou depressão crônica nada mais é do que um estado mental onde toda a vida parece perder a cor e sabor, onde viver parece ser mais um fardo do que um prazer. É como estar em um luto permanente sem que tenha havido uma perda real. Entendo a depressão como um ódio à vida. Odeia-se ter que viver, já que viver significa lutar e procurar significados. Se entregar a um estado depressivo é característico de uma baixa tolerância às frustrações. Resultado: pela vida não ser o que se imaginava que fosse e por se perceber a necessidade de trabalhar duro para se conquistar algo, a pessoa passa a negar a vida, assim ela sente que pelo menos não se frustra.
            Muitas crianças estão se tornando adolescentes rápidos demais. A cultura, em geral, favorece para que assim seja e não permite que a criança viva etapas importantes em sua vida. No início da vida infantil a criança tem baixíssima tolerância à frustração, mas conforme o tempo vai passando ela vai se deparando com uma realidade que demonstra que nem tudo é como ela gostaria que fosse. A criança tem então a chance de elaborar esses desgostos e desprazeres. Com a chegada precoce da adolescência muitas elaborações ficaram por ser feitas e o jovem já tem que lidar com as agruras de uma vida totalmente nova e desconhecida. É verdadeiramente enlouquecedor e angustiante.
Nesses momentos se manter sã e com os pés na realidade é a melhor maneira de ajudar quem se encontra nesse estado. Assim você não irá “enlouquecer” junto com eles e manter a sua maturidade preservada é justamente o modelo que esses adolescentes mais necessitam. Eles carecem de uma visão mais realista sobre a vida que inclui também a frustração e que a frustração não precisa ser sentida como trágica, mas como um fato que precisa ser elaborado. O que você pode fazer é mostrar esse modelo de vida para eles, mesmo que isso pareça pouco e insuficiente. Gandhi tem uma frase interessante a esse respeito: Tudo o que fizeres de bom na vida será insuficiente, mas mesmo assim é importante que você o faça. Você é uma boa educadora, se não fosse não se deixaria tocar por essas questões. Parabéns por estar na luta e querendo aprender mais.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

A ditadura da dieta



            O culto ao corpo é algo que se tornou uma ditadura. Podemos entender uma ditadura como uma forma de governo onde não há liberdade para se reconhecer as diferenças e o direito a elas, só há um único jeito, uma única maneira e caso essa não seja seguida rigidamente corre-se o risco de se tornar um fora da lei. Hoje, quem não tiver o corpo tido como ideal se sente culpado e excluído.
            Não prego ao dizer isso que não devemos ligar e cuidar bem dos nossos corpos. Afinal, eles são considerados o templo da alma, porém o problema aparece quando não se liga mais para a saúde do corpo, mas em idealizar o corpo. A idéia de um corpo ideal é uma grande inimiga porque engana, já que o que é ideal não existe. Desejamos um corpo irreal para a grande maioria das pessoas e quando esse não é atingido adoecemos.
            Há uma variedade de tipos de pessoas, portanto, há uma variedade de tipos de corpos. Há pessoas que por mais dietas que fazem jamais conseguirão alcançar aquele padrão que desejam justamente porque sua constituição física não permite. É inútil querer mudar a estrutura do corpo de forma radical. É como querer que uma macieira dê figos em vez de maçãs. Só se pode exigir do corpo o que é possível, senão vira caso de agressão contra a própria natureza.
            Homens sarados, mulheres sílfides são considerados como modelos necessários para se sentir bem e feliz. Como se a todos isso pudesse ser possível. Quem não se encontra inserido nesses modelos passa a se sentir mal, como se cometesse pecados e seu corpo fosse o símbolo de seus fracassos. Quem pode ser feliz ao ficar preso nessa ditadura quando o que importa é o ideal e não o possível?
            Quem quer melhorar seu corpo e cuidar dele vá em frente, mas sempre respeitando sua natureza e não ir em busca de um corpo mítico que jamais se realizará. Quem deseja o impossível está destinado a ser infeliz, porque se engana e nega a realidade. Como já dizia um provérbio antigo Mente sã, corpo são percebemos que se a mente não se liberta de uma ditadura, não se há a menor chance de se estar bem. Viver numa ditadura é acatar a prisão e se opor as diferenças abraçando a angústia e a infelicidade.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Pergunta de Leitora - Repensar



Minha mãe está velha, com 88 anos, e tenho que cuidar dela. Sou a única filha mulher e meus irmãos nunca têm tempo de cuidar dela. Me sinto prejudicada. Gosto muito da minha mãe, mas também fico um pouco revoltada. Quero viver, passear e fico aqui presa. Não tenho posses para pagar uma enfermeira que fique com ela. Enfermeiras estão caras! Sinto que estou secando e que minha vida esta sendo dragada. Sinto que meu marido está se cansando dessa vida. Só falta ele pedir o divórcio. Não sei mais o que fazer. Que fique claro que gosto de minha mãe, mas que estou cansada de ter que estar disponível toda hora para ela e nada para mim. O que posso fazer?

            Entendi que você gosta, sim, da sua mãe, mas que está cansada de viver do jeito que está. Nada pior do que sentir que está secando e tendo a vida sendo dragada. Enfim, você fala de seu incômodo e do seu sentimento de impotência perante essa situação.
            Primeiro você deveria se perguntar: por que se encontra nessa situação? Como você entrou nela? Você disse que tem irmãos e eles também são responsáveis pela mãe que têm. Por que só você arcou com essa responsabilidade? Eles não têm tempo, você diz, mas isso não me parece ser uma boa resposta. Parece-me que você acabou aceitando uma posição que te custa muito caro em termos emocionais.
            Não tenho dúvidas de que enfermeiros cobram pelo serviço que prestam, mas não entendo porque só você teria que arcar com tal valor. Você se coloca na posição de que a mãe é só sua e de que seus irmãos não precisam ter responsabilidades nenhuma. De onde será que veio essa idéia? Será que surgiu por achar que os filhos não precisam se responsabilizar tanto quanto a filha? Isso só você poderá dizer.
            O que lhe é necessário é repensar a sua posição e procurar mudá-la senão corre o risco de deixar a vida passar e se tornar amarga. É preciso analisar qual a posição que você, inconscientemente, ocupa e daí deixar de ocupar esse papel e criar outro que lhe seja mais favorável. Encontrar um analista que saiba te escutar pode ser bastante enriquecedor para você aprender a se ouvir e criar outra vida. Não perca tempo e vá em busca de mudanças.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

A presença da falta



            Queremos sempre aplacar o vazio da vida, preenchê-lo com algo que nos tirasse a percepção de que estamos em falta. Porém, esta é a condição do ser humano, estar sempre em falta, mas é justamente essa falta que nos move e nos faz andar a procura de alguma coisa que nos tire essa falta. Só que não existe nada que realmente possa tapar a falta em nós e todas as soluções são transitórias.
            É fácil perceber isso. Um exemplo para ilustrar melhor: muitas vezes desejamos algo e acreditamos que precisamos desse algo. Quando esse algo nos chega finalmente, vemos que não bastou e passamos a desejar outro algo. Tudo isso é natural e característico desse bicho humano que é tão complexo. O problema aparece quando idealizamos que podemos tapar essa falta de alguma maneira, que existe alguma coisa que vai trazer uma tal sensação de saciedade que não mais desejaremos. Isso é engano.
            Ficar tão identificado com essa idéia de que há um fim para o desejo pode até ser empobrecedor já que faz com que não possamos aproveitar o que temos, mas apenas olhar para aquilo que não temos. Aceitar a falta se faz necessário para poder aproveitar bem a vida. Aceitá-la não significa se resignar num ressentimento, mas saber que jamais estaremos de fato completos, porém mesmo assim saber tirar o melhor do que se tem. É se deixar preencher um pouco, já que é impossível se preencher totalmente.
            A forma como vivemos depende das escolhas que fazemos, porque as coisas podem ser vistas com pontos de vista diferentes. Um copo preenchido pela metade pode ser visto por uma pessoa como meio cheio, já para outra pessoa pode ser olhado como meio vazio. Quem encara esse suposto copo como meio vazio se frustra amargamente, afinal, comparado com sua idéia de que há um copo cheio quem vai querer um copo meio vazio? Só que na vida nada está cheio, mas sempre por completar. É isso que nos faz desenvolver: buscar a completude que nunca se alcança. Pois então vamos correr atrás, mas também nessa corrida vamos parar por alguns momentos e aprender a usufruir daquilo com que preenchemos nossas vidas.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Pergunta de leitor - Sexo real e sexo ficcional



Me sinto um lixo. Sou um cara de 27 anos e já tive várias namoradas. Hoje estou solteiro. O que me faz sentir mal é na parte sexual. Toda vez que saio com alguma garota parece que ela espera que eu tenha um alta performance sexual. Que dure muito tempo, quase uma hora ou mais, que eu goze muitas vezes, que eu seja que nem aqueles atores de filmes pornográficos. Já até usei comprimidos para prolongar a ereção, mas parece que as coisas nunca saem como elas e até eu gostaríamos. Quando converso com amigos cada um parece contar uma história melhor que a outra em relação a sexualidade. Sei que algumas são exageradas, mas fico me perguntando se existe pessoas que não são boas no sexo. Se sou uma dessas pessoas?

            A revolução sexual iniciada a partir da década de 60 foi um grande divisor de águas para a visão que se tem da sexualidade. Por um lado foi algo muito bom, já que a repressão desmedida foi perdendo lugar e a sexualidade pôde ser mais bem vivida e entendida. Isso foi um ganho precioso. Por outro lado, a sexualidade meio que passou a ser uma obrigação de todos e uma obrigação que exige alta performance. Antes era a lei do não gozarás, depois passou ser a lei do gozarás e gozarás muito.
            Infelizmente o ato sexual não é visto com olhos realistas por muitas pessoas que ficam presas a uma visão idealizada do que seria transar. Filmes pornográficos não são a realidade. Os atores para esses filmes são pagos para fingirem que o sexo é só uma questão de performance. Eles não estão sendo verdadeiros, mas estão a representar aquilo que as pessoas querem comprar. Desejar basear seu desempenho nesses filmes é querer se basear numa mentira.
            Vivemos com a obrigação de que o sexo não pode ser apenas sexo, mas que tem que ser um evento portentoso e cheio de pirotecnias. Porém, isso transforma o transar numa fonte de pressão e até de humilhação porque quando vamos viver aquilo que é possível e real vemos que as coisas são bem diferentes da ficção. Mas isso não quer dizer que não seja bom, só que para isso é necessário deixar as altas idealizações de lado.
            Parece-me que você fica muito amarrado ao que os outros lhe falam, ao que você vê e ao que você espera de si próprio. Se aprender a dar atenção ao que importa, no caso à relação que está tendo, e menos atenção à encantar com sua bela performance as coisas poderão caminhar numa perspectiva bem  mais favoráveis e justa para você. Não existe segredo para um bom sexo. Cada um vive à sua maneira e gosto. Entender isso pode te libertar para viver o sexo com mais leveza e menos pressão.